Coluna: A regressão do telejornalismo do SBT
Até pouco tempo animado e ampliando os investimentos no jornalismo, atualmente o SBT vem andando na contramão ao tomar medidas desfavoráveis ao setor. Os telejornais da casa perderam identidade, tempo de duração e grande parte do prestígio que vinham alcançando. Todo o investimento em demonstrar ao público que se importava com o gênero e possuía uma grande estrutura e exalava credibilidade foi por água abaixo. O que vemos agora é um reaproveitamento absurdo das matérias, retirando o estilo que cada telejornal possuía individualmente, além de vários âncoras para poucos produtos jornalísticos e o encolhimento dos que ainda restam.
O “Jornal do SBT”, que por muito tempo foi considerado o melhor telejornal do canal, por ser mais completo e a sua linha editorial mais próxima do tradicional, hoje em dia se resume a uma cópia do SBT Brasil. Não há mais preocupação e produzir matérias exclusivas e próprias para o jornal que sobrevive através das mesmas reportagens e notícias já dadas no anterior, perdendo a sua identidade e o diferencial, tornou-se obsoleto e ruiu completamente o seu conteúdo. Como se fosse pouco, também não é mais ao vivo. Um telejornal de destaque terminando como um de gaveta.
A prática da gravação toma toda a grade jornalística. O “SBT manhã” que sempre foi gravado, agora apresenta o mesmo conteúdo do já sem identidade “Jornal do SBT”, apenas com novas cabeças. Ou seja, é praticamente a terceira exibição do SBT Brasil. Além de já ter saído do ar para dar lugar a desenhos por diversas vezes. Um pouco antes, vai ao ar um festival de reprises do jornal da madrugada, ainda que alcancem boa audiência e peguem um público que não assistiu aos anteriores, e claro, gere uma alta economia, resume-se em uma total falta de zelo com o jornalismo e atitudes mais que amadoras. Gravar noticiário, que por si só remete ideia de instantaneidade com plantões e possibilidades de notícias emergenciais, gera amadorismo e, ainda reprisá-lo, é o fim da picada.
Poucos meses atrás tivemos o cancelamento do “Notícias da Manhã”, ao vivo com links de várias regiões do país, com estilo próprio e identidade. O projeto original de Cesar Filho, cedido a Neila Medeiros, teve a sua produção encerrada e sendo substituído por desenhos. Até que ponto a economia fala mais alto que a reputação da emissora? Não faltaram críticas com a atitude de encerrar o jornal para exibir desenhos. A credibilidade construída com trabalho nos últimos anos foi inteiramente jogada no lixo.
O SBT Brasil é o único apresentado ao vivo, com editoriais próprias e que serve de base para as cópias exibidas nas madrugadas e manhãs. Embora tenha melhorado se comparado há alguns anos, continua apresentando conteúdo inferior aos concorrentes, com exceções de algumas reportagens especiais e furos, quase sempre as coberturas dos casos são superficiais e aquém dos outros telejornais nacionais. O que vemos hoje é um “Jornal da Band” superior e mais competitivo, além do setor jornalístico da bandeirantes apresentar mais estrutura e qualidade que o do SBT. Além disso, o telejornal perdeu notoriedade após os fins dos comentários da âncora Rachel Sheherazade, perdeu o diferencial e tornou-se apenas mais um entre vários noticiários, e um dos mais inferiores, diga-se de passagem.

Com o espaço ao jornalismo encolhendo, até os boletins espalhados pela programação foram diminuídos, antes em todos os breaks, agora vão ao ar de hora em hora, o que não seria ruim se a emissora não ficasse durante longas horas sem transmitir notícias. O SBT Manhã termina às 07:00 e somente às 19:45, mais de doze horas depois começa o SBT Brasil. Até os programas de reportagens como o tradicional “SBT Repórter” teve o seu fim decretado.
Por agora, apenas o “Conexão Repórter” de Roberto Cabrini traz credibilidade e bons frutos. Resultado da boa equipe, do tempo e paciência que tiveram para consolidar o nome e encontrar o dia e horário ideal. O produto é atualmente referência no gênero, atribui qualidade e prestígio a rede, possui bom faturamento e ainda consegue alcançar excelentes índices de audiência, tudo o que se espera de uma atração jornalística.
Aquela imagem de emissora que se importa com o jornalismo e queria voltar a ser opção e referência na cobertura de casos noticiosos foi para o espaço diante das recuadas no setor. Hoje Globo e Record continuam como as principais referência e até a Band nada de braçada. Sorte do SBT que o jornalismo regional da RedeTV é quase inexistente, o que atrapalha a sua produção, mas vale destacar a parte de SP que já apresenta o mesmo nível. Enquanto economizar for mais importante ou o pensamento de priorizar o Ibope sobre as produções jornalísticas sempre dando mais atenção a desenhos ou qualquer outro enlatado com mais apelo em curto prazo, a situação será essa, um jornalismo que tinha tudo para ser o mais dinâmico e reconhecido, sendo superado por emissoras menores e com antipatia do público, pois toda tentativa de inserir jornalismo em horários não habituais na grade, enfrenta rejeição e o produto despenca na audiência. O público rejeita porque a própria emissora assim o faz.
Obrigado a você que acompanhou mais essa análise. Queremos saber a sua opinião sobre o tema, deixe seu comentário e siga no twitter: @Dyoliver. Até a próxima semana!
Dyego Terra
