Globo, SBT e Record TV – Quando a televisão brasileira é utilizada como ideologia política

Globo, SBT e Record TV – Quando a televisão brasileira é utilizada como ideologia política

No Brasil, a TV aberta é uma concessão pública e diferente como em países como Estados Unidos, onde a ideologia política das grandes redes de televisão é bem explícita, com canais de esquerda, de direita e os ditos “imparciais”, por aqui, mesmo que as grandes emissoras digam prezar pelo princípio da imparcialidade, a política e a comunicação sempre caminharam juntas. Com ideologias políticas, nem sempre assumidas, as redes brasileiras se escondem nos princípios básicos do jornalismo. A maioria das concessões de rádio e TV foram concedidas em períodos turbulentos da história. Hoje, a legislação mudou, mas devido o direito adquirido, as antigas concessões são sempre renovadas e passadas aos filhos ou a terceiros, sem qualquer complicação.

Das três maiores redes, a Globo sempre esteve no foco, nos momentos mais delicados da democracia. Há uma parcela da população que lhe acusa de agir sem imparcialidade, de acordo com seus interesses econômicos. Devido o momento de instabilidade política atual, a emissora é lembrada como “golpista”. Há quem afirme que desde Collor, a emissora elege candidatos e os tira do poder, dependendo dos seus anseios econômicos e ideológicos. É frequente em links ao vivo do seu jornalismo e até em programas humorísticos como o “Tá no Ar”, manifestações que citam a TV Globo como “manipuladora política”. Fatos como os “vazamentos” de informações de operações sigilosas como a gravação do presidente Michel Temer e do empresário Joesley Batista e a exploração demasiada de escândalos políticos, fazendo inclusive que seu principal telejornal chegue a ter 2h de duração, em diversas oportunidades, dividem telespectadores quanto o papel de uma parcela da imprensa na política. Embora a Rede Globo sempre diga que age com imparcialidade, outros veículos do Grupo Globo, como O Globo e Época, estes fazendo uso da liberdade editorial, pediram de forma explícita, publicamente, a saída do atual presidente da República. Num outro editorial, O Globo pediu apoio à governabilidade de Dilma Rousseff. Em 2013, a TV Globo reconheceu em editorial lido no Jornal Nacional, 49 anos depois e pressionada pelas manifestações de junho do mesmo ano, que o apoio ao golpe militar de 1964 e ao regime subsequente foi um “erro”.

O SBT, que teve autorização do governo Temer para passar suas concessões, de Silvio Santos para as suas filhas, se mostrou nos últimos dias favorável à polêmica Reforma da Previdência, inclusive exibindo chamadas em sua programação. Se teve quem se surpreendeu com a postura da emissora, no entanto, certamente não conhece a visão governista de Silvio Santos. Independente do partido que esteja no cargo, a emissora costuma não se opor ao governo e muitas vezes caminha junto. Silvio Santos chegou a exibir em seu programa, o quadro “A Semana do Presidente” e ganhou a concessão de emissoras que formariam o SBT, em pleno regime militar. Se das grandes redes foi a única a não transmitir ao vivo a votação de admissão do impeachment de Dilma Rousseff, não deixou de transmitir o impeachment de Fernando Collor de Mello e os pronunciamentos de Michel Temer, após a delação da JBS.

Já a RecordTV, emissora de propriedade do bispo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal, ao qual tem o PRB como braço político, já teve diferentes posicionamentos na política nacional e transformou alguns de seus nomes em candidatos e políticos eleitos. Na última eleição, o bispo Crivella foi eleito prefeito do Rio de Janeiro e o apresentador Celso Russomano concorreu à Prefeitura de São Paulo. O PRB já esteve junto aos governos petistas e hoje faz parte da base governamental. Mesmo que no jornalismo, a emissora afirme que segue os princípios da imparcialidade, assim como as concorrentes, o telespectador mais atento consegue perceber que os interesses da Universal e do PRB, também se refletem nas ideologias da Rede Record, mesmo que de forma extraoficial.

Na noite desta terça-feira (23), a Bandeirantes também entrou no hall ideológico da “crise política”. Em editorial, lido pelo jornalista Ricardo Boechat, durante o Jornal da Band, o grupo defende a governância de Temer, com o objetivo do país voltar ao desenvolvimento, além da punição de quem for condenado por corrupção, após ampla defesa. A RedeTV!, também não deixa de fazer uso do âncora Bóris Casoy e do jornalista Ricardo Azevedo, que defendem sua linha editorial e ideologias políticas, num momento de turbulência e incertezas que o Brasil atravessa.

Para que não haja dúvida, quanto o papel da imprensa televisiva, talvez a transparência seja a forma mais adequada para a TV brasileira. Imparcialidade, parcialidade pública ou ideologia oculta? Desde que comentaristas políticos começaram a fazer parte dos telejornais e âncoras substituíram os apresentadores na bancada, a “imparcialidade” não pode mais ser levada como um padrão “politicamente correto”.

Siga: JÚLIO CÉSAR FANTIN

Twitter: @jcfantin

Facebook: @eusouojulio

Instagram: @juliocesarfantin

Pin It on Pinterest