Em 1995, o Brasil parou para assistir ao último capítulo de “A Próxima Vítima”

Em 1995, o Brasil parou para assistir ao último capítulo de “A Próxima Vítima”

Antes de começar, saiba mais sobre este espaço

A ideia aqui é comentar, informar e, às vezes, até dar boas risadas do conteúdo que nos é servido na TV e repercute nas redes – sobretudo no twitter –, seja nesta época ou em outras. Falaremos da programação que “vem por aí” e daquela que já foi veiculada, mas que sempre suscita discussão entre os noveleiros de plantão.
Estaremos sempre de olho na timeline, afinal, é de lá que partirão muitos dos temas que oxigenarão esta coluna. É isso!

Vamos começar a jornada

 

No dia 03 de novembro de 1995, o Brasil parou para acompanhar o desfecho de uma trama policialesca que durou oito meses (já que estreou em março daquele ano) e foi marcada, entre outros, por um roteiro inteligente e um desfile de personagens com força e história suficientes para segurar a trama por muito mais que 203 capítulos. Estamos falando de “A Próxima Vítima”, novela assinada por Sílvio de Abreu e com a direção de Jorge Fernando.

Mesmo os mais jovens, nascidos após os anos 2000, conhecem a trama – seja por terem tido a possibilidade de assisti-la nas duas reprises (na faixa vespertina da Globo em 2000 e no ano de 2013 pelo Canal Viva), ou simplesmente pela lenda que a novela se tornou dentro do universo televisivo. Só para citar, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que durante muito tempo esteve à frente do entretimento da Globo, comentou anos atrás, em entrevista para o Portal IG, que a novela foi a última grande trama da era de ouro deste segmento, colocando-a como uma das dez melhores novelas da emissora. Não é pouca coisa.

Concordando ou não, não se pode deixar de reconhecer os fatos que fazem de A Próxima Vítima “um novelão”, como costuma-se a chamar aquelas tramas que caem no gosto do povo. E um desses elementos que laureiam a novela é justamente o seu desfecho. Por isso, aproveitamos esses 23 anos de aniversário para lembrar um pouco do que rolou naquela sexta-feira de novembro de 1995.

 

As especulações

Em entrevista para o Fantástico (no dia 30/10/1995) Silvio de Abreu contou que a imprensa o perseguia desde que saiu de São Paulo – rumo ao Rio de Janeiro, onde acompanharia a gravação do final – até desembarcar no aeroporto. Estavam todos ávidos para “arrancar” alguma nota, ainda que mínima, sobre as revelações daquele desfecho. O frisson era imenso e a preocupação nos bastidores para ocultar o roteiro era maior ainda, tanto que até se cogitou exibir um final ao vivo.

“Transmitir ao vivo é um risco que eu mesmo inventei. Foi a minha primeira grande ideia no novo cargo de diretor do núcleo, e, ao mesmo tempo, o primeiro grande risco que corro”, confessou o diretor Jorge Fernando, à época.

 

Em 1995, Silvio de Abreu era o único quem sabia de tudo o que ia rolar naquele último capítulo.
Foto: Reprodução

 

A opção foi abortada. Ao invés de ao vivo, o final da trama foi gravado naquela sexta-feira (03/11/1995) por volta das 18h30, sendo exibido no mesmo dia, a partir das 20h50. Contando com uma série de estratégias para driblar as constantes investigações e tentativas da imprensa de vazar o final.

“Se decidimos escrever uma novela de suspense, isto é o mínimo que podíamos fazer. Nosso papel é justamente o de esconder o assassino até o final”, disse o autor Silvio de Abreu, em entrevista para a Folha de São Paulo, edição daquele dia, onde afirmou que ao lado de Jorge Fernando alterava a numeração das cenas e capítulos para dificultar quem tentasse arrancar algo de sua da trama.

 

E como foi o último capítulo

 

O final feliz de Diego e Irene. Foto: Reprodução

Aquele último capítulo foi todo focado na revelação do assassino, bem como no descortinamento de alguns segredos que envolviam os personagens eliminados no decorrer da história. O ponto alto, sem dúvidas, foi o retorno da icônica Francesca (Tereza Rachel), pronta para prestar depoimento ao Delegado Olavo (Paulo Betti) e explicar o porque forjou a morte, dando início às resoluções dos mistérios que permearam a trama inteira.

Fora a parte policial – que ocupou quase dois terços do capítulo – pode-se acompanhar, ainda, alguns finais felizes, como o de Irene (Viviane Pasmanter) e Diego (Marcos Frota) no casamento que precede a morte final da trama; Zé Bolacha (Lima Duarte) e Quitéria (Vera Holtz) com o filho deles, Arizinho (Patrick de Oliveira).

Foto: Reprodução

Teve ainda o desfecho do casal Cacá (Yoná Magalhães) e Adriano (Lugui Palhares), que conseguiu grande torcida por parte do público.

 

Foto: Reprodução

Mas, no quesito amoroso, o que mais se aguardou foi a escolha de Juca: A Bonitona do Morumbi, Helena, ou o amor de uma vida inteira, Ana? Por fim, o feirante bonachão se entregou aos encantos de Helena.

Foto: Reprodução

Restou para Ana, como era de se esperar, terminar ao lado do pai de seus filhos, Marcelo (José Wilker).

 

Foto: Reprodução

Ah e não podemos esquecer do final, mais que merecido, da bonitinha, mas ordinária, Isabela Ferreto: presa pelo assassinato e ocultação do cadáver da secretária Andreia (Vera Gimenez).

 

Fantástico e Jornal Nacional

 

Durante o Fantástico do dia 29/10/1995, o público opinou sobre quem era o assassino com base nas suspeitas que delegados e investigadores da vida real apontaram no programa. Foto: Reprodução

Novelas ditas como “fenômenos” sempre ganham cobertura especial, por isso, naquele 1995, foi possível ver um especial no Fantástico (no domingo que antecedeu o último capítulo) comentando sobre as bolsas de apostas que aconteciam pelo Brasil. Além disso, delegados e investigadores fizeram suas próprias análises e apostaram um nome para o assassino – erraram feio.

Já no próprio dia 03 de novembro de 1995, antes de começar aquele capítulo de número 203, William Bonner e Lilian Witte Fibe anunciaram reportagem que mostrava a correria das pessoas para chegarem em casa cedo, ávidas pelo desfecho. E logo depois de mostrar a movimentação dos atores nas gravações que estavam acontecendo horas antes da estreia, os apresentadores do Jornal Nacional prepararam o público para assistir ao último capítulo.

Ambas as matérias você pode conferir aqui.

 

Repercussão

 

Vendida para 22 países e exibida em 25 emissoras diferentes, A Próxima Vítima foi um grande êxito de audiência – alcançando 47 pontos de média geral.

A repercussão da trama estendeu-se também à crítica especializada. Naquele ano, o APCA (Associação Paulistas de Críticos de Artes) laureou a trama como melhor novela, assim como Aracy Balabanian como melhor atriz e, ainda, Flavio Migliaccio como melhor ator coadjuvante. No Troféu Imprensa, do SBT, a novela recebeu os mesmos prêmios de melhor novela e atriz (novamente para Aracy). Já no Prêmio Contigo!, a novela abocanhou quase todos os troféus – incluindo de melhor abertura e de melhores participações especiais que coroaram Alexandre Borges e Rosamaria Murtinho, o casal sexy e ordinário Bruno e Romana Ferreto.

Aracy Balabanian recebe de Silvio Santos o Troféu Imprensa de Melhor Atriz do ano de 1995 por Filomena Ferreto em A Próxima Vítima. Foto: Reprodução

Quanto à audiência do último capítulo, segundo a Folha de São Paulo do dia 04/11/1995 (o dia posterior ao final da trama), o Ibope tinha registrado audiência média de 62 pontos na Grande São Paulo –  número correspondente a aproximadamente 6,2 milhões de telespectadores, àquela época. O pico foi de 64 pontos, alcançado no momento da revelação do assassino.

Ainda segundo a matéria da Folha, a então direção da emissora esperava algo maior: cerca de 70 pontos (7 milhões de telespectadores). Como chegaram nessa meta? Tudo fruto da grande expectativa que se criou em torno de quem seria o assassino da trama.

Ainda que com números modestos (para os patamares de 1995) os 62 pontos de “A Próxima Vítima” superaram o desempenho das três últimas novelas que a Globo exibiu na faixa das oito, conforme, a Folha daquele 04 de novembro noticiou.

O final de Pátria Minha atingiu média de 54 pontos (5,4 milhões de telespectadores). Já sua antecessora, Fera Ferida alcançou 61 pontos (6,1 milhões de telespectadores) – o mesmo público do último capítulo de Renascer, exibida em novembro de 1993. A trama policial de Silvio de Abreu só não bateu De Corpo e Alma, de Gloria Perez, que terminou com média de 64 pontos (6,4 milhões de telespectadores).

Vale lembrar que, em 1995, 1 ponto no Ibope equivalia a 39.790 domicílios.

 

Duas reprises. Dois assassinos. 

 

Ulysses, o irmão de Ana (Susana Vieira) foi o assassino no segundo final da novela. Foto: Reprodução

 

“E se você pensa que já sabe o final: Vale a Pena Ver de Novo.”, com essa premissa, em julho do ano 2000, a Globo trazia a ousada trama para sua faixa vespertina. Cercada de cortes e chamando pouca atenção do público – que naquele ano se entrega à uma trinca de novelas inéditas mais leves –, a reprise de A Próxima Vítima patinou nos 16 pontos, sendo uma média modesta para um ano em que novelas anteriores, como O Rei do Gado, A Indomada e Quatro por Quatro imperavam no horário, mas ainda assim, maior do que os lânguidos 14 pontos de Tropicaliente, sua antecessora.

A grande novidade ficou por conta do final inédito. O diretor Jorge Fernando, em entrevista à Folha de São Paulo daquele 03 de novembro de 1995, disse ter gravado dois finais: o que seria exibido naquela noite, para os brasileiros, e um outro, para o mercado português – já que a novela estava sendo exibida por uma emissora de televisão de Portugal e só terminaria 40 capítulos depois da versão brasileira.

“Queremos que o público português viva o mesmo suspense. Foi uma loucura gravar tudo na última hora, mas valeu. O Brasil não é só o país do futebol, é também o da telenovela”, palavras de Jorge Fernando para a Folha.

O fato é que este segundo final veio a ser utilizado em 2000, quando a reprise foi ao ar, alcançando 28 pontos de média neste novo desfecho.

 

Gancho para um novo começo?

 

Uma novela que foi correta do começo ao fim, não poderia deixar de ter um final tão icônico quanto ao apresentando na noite daquele 03 de novembro de 1995.

Após o casamento que assinalava o final feliz merecido para o casal Diego e Irene, a ação passa para o jardim onde, no gramado, Cláudia Raia, em uma personagem de tom misterioso, caminha até ser abatida por uma arma com mira, nas mãos de um atirador misterioso – que nós não vemos a face.

O tiro leva a misteriosa Cláudia Raia ao chão. Algumas pessoas correm para socorre-la, entre elas, Olavo (o detetive interpretado por Paulo Betti). E enquanto sobem os créditos da novela, a imagem fica preto e branco.

Foto: Reprodução

Acompanhamos ali a última morte da novela que foi pautada quase que por inteira em assassinatos. E a pergunta que ficou no ar – acredito que propositalmente plantado por Silvio de Abreu – foi: haveria a possibilidade de uma continuação? Seria aquele um gancho para uma nova onda de assassinatos?

A resposta dessa pergunta foi parcialmente respondida pela Rede Globo quando, neste ano de 2018, circularam rumores de um remake. A emissora afirmou que, por hora, não tinha nenhum espaço para esta produção na grade de 2019. Ainda assim, com essa onda de remake que se iniciou lá em 1998 com a exitosa Anjo Mau e se intensificou em 2004, com o retorno de Cabocla, há quem diga que um dia a trama ganhe uma versão contemporânea. E se assim for, já temos um gancho para iniciar uma nova história: a partir daquela última morte.

 

E você, o que você acha de um remake de A Próxima Vítima? Um tiro no pé ou uma tentativa a ser pensada?

Foto: Reprodução

 

Pin It on Pinterest