Igreja compra horário da RecordTV e ganha reportagens e uso da logomarca da emissora como cortesia?
Você certamente já ouviu falar que a RecordTV não considera suas madrugadas na contagem de audiência, já que supostamente sua programação é vendida para a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), cujo líder é o principal acionista da emissora, o bispo Edir Macedo. Os valores cobrados pela RecordTV pelas cerca de 5h diárias cedidas para a Igreja são muito acima dos valores praticados no mercado. Cogita-se que somente em 2016, a Iurd injetou cerca de R$ 575 milhões, apenas na Record, sendo assim a principal mantenedora do canal. Os valores podem até serem maiores, uma vez que uma suposta cláusula contratual impede a divulgação oficial dos valores negociados.
Mesmo que outras emissoras vendam seus horários para a Iurd ou outras igrejas, em horarios muito mais nobres que a madrugada, os dados de audiência nas faixas cedidas para os religiosos, neste caso, não deixam de ser contabilizados pela RecordTV, ao divulgar suas audiências. Outro fato muito interessante, que merece ser observado é a forma com que parte da programação da Iurd é transmitida pela emissora dos bispos. Se o programa é independente, qual a razão para que a logo da “RecordTV ao vivo” seja estampada na tela? Alguém nota o mesmo comportamento com Band e RedeTV!, ao exibir estes programas “vendidos”?
A TV é uma concessão pública e cada emissora é responsável pelo o que coloca no ar, mesmo que seja uma “produção independente”. Alias, até hoje, as emissoras conseguiram driblar a legislação que impede a comercialização de horários. Em alguns casos, alegam que o espaço é mera publicidade. O ponto de maior estranheza, no entanto, é utilizar a logo da emissora com a menção do “ao vivo”, num programa que se apresenta como “independente”. Isso é normal? O mais coerente não seria apenas o “ao vivo”, ou a logo da Igreja em questão? Se considerarmos que a Iurd é a principal mantenedora da emissora, creio que este fato pode passar abatido.
Outro detalhe, a programação “vendida” faz uso diário de reportagens produzidas pelo canal, incluindo passagens com os microfones da RecordTV, no “Fala que eu te Escuto”. Tudo isso é independência? O fato fica ainda mais impressionante, quando um programa da Igreja trata temas polêmicos como o “suicídio ao vivo”. Segundo o código de ética jornalística, o suícídio não deve ser explorado e o tema deve ser tratado sempre com a máxima cautela. Neste caso, a programação é religiosa e embora se utilize material jornalístico produzido pela Record e a logo na tela, a emissora não tem nada a ver com isso? Comprar um horário, dá o direito de utilizar o material jornalístico da emissora e de brinde a sua logomarca institucional? Perguntar, não ofende. Certo?
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