Muito além do “Vídeo Show” – Programas mais tradicionais da TV brasileira perdem espaço em todas as emissoras

Muito além do “Vídeo Show” – Programas mais tradicionais da TV brasileira perdem espaço em todas as emissoras
TV brasileira está em constante mutação

Nem mesmo a grade mais consolidada das emissoras de TV aberta do país sobrevive aos novos tempos. Após 35 anos, chega ao fim nesta sexta-feira (11), o “Vídeo Show”, um dos mais duradouros programas da nossa telinha. Com grande perda de público e importância, o programa se tornou freguês do quadro “A Hora da Venenosa” (Record TV) e até do “Chaves” (SBT). Com infinitas trocas de apresentadores, o “Vídeo Show” encerra seu ciclo por pecar em sua linha editorial, insistindo no erro de focar nos bastidores globais e pautas sem sal. As reformulações na grade global não são novidades para os leitores do “Bastidores da TV”. Coluna de 27 de novembro, do colunista Júlio César Fantin, já trazia em primeira-mão o interesse da Globo em mudanças radicais em suas manhãs e tardes, já para os primeiros dias de 2019. A extinção do “Vídeo Show” e a exibição “tapa-buraco” de uma nova edição do “Álbum da Grande Família” é apenas um aperitivo para a preparação de novas atrações nas tardes. Em meio às mudanças quem ganhará destaque é o jornalismo local da emissora com a ampliação do “Bom Dia Praça” e “Praça 1”. O tradicional “Bom Dia Brasil”, no ar há 36 anos, perderá espaço nas manhãs e um estudo para seu relançamento já está sendo feito, tornando-o um jornal mais ágil e atual, com formato que lembra a aproximação dos jornais locais. Outro programa tradicional que perdeu espaço na Globo foi o “Globo Rural”, criado há 39 anos e que desde novembro de 2014 deixou de ser exibido diariamente, tendo mantida apenas sua edição dominical. Com as constantes perdas no início das manhãs para o jornalismo do SBT, a Globo criou o “Hora Um” e ampliou o espaço local do “Bom Dia Praça”, tirando o espaço de um dos produtos mais lembrados da grade, com foco no agronegócio. Também após 35 anos, em 2014 a Globo extinguiu o programa “Telecurso” da sua grade.

TV brasileira está em constante mutação

No SBT, o “Domingo Legal”, hoje apresentado por Celso Portiolli quase foi dizimado da grade após baixa audiência que teve início com a inesquecível farsa do PCC, nos últimos anos de Gugu Liberato na emissora. Nos últimos meses de 2018, o programa ganhou uma sobrevida e mesmo que de mais de seis horas dominicais, hoje ele tenha sido reduzido para duas horas, o desempenho comercial é o principal motivo para que a atração não seja extinta até o momento. Com a estreia da maratona de jornalismo ao vivo nas madrugadas, o tradicional “Jornal do SBT” perdeu importância na grade, saindo do ar em 31 de dezembro de 2016, após 25 anos. Com o “SBT Notícias”, a emissora iniciou um novo ciclo, este que meses depois seria copiado pela Globo, em virtude dos altos índices de audiência. Criado em 1995, o “SBT Repórter” foi outro programa que perdeu espaço, deixando a grade em 2013. Apesar da marca forte, de lá para cá, o jornalístico ganhou apenas edições especiais e esporádicas. Seguindo os moldes da lendária “Sessão da Tarde” (Globo), o SBT também manteve no ar a inesquecível sessão “Cinema em Casa”, extinta em 2003 (recriada por quatro outras ocasiões, até seu encerramento definitivo em 2011). O próprio “Programa Silvio Santos”, um dos mais antigos e tradicionais da TV, deixou de ser exibido por seis anos, entre 2001 e 2008, quando voltou a utilizar o título que permanece no ar até hoje nas noites de domingo. O “Show de Calouros”, que ficou no ar por cerca de 20 anos, também deixou a grade do SBT com o passar dos anos. Quadros inspirados na atração, no entanto, são exibidos até hoje no próprio “Programa Silvio Santos” e no “Programa do Ratinho”. O “Aqui Agora”, o “Qual é a música?”, o “Viva a Noite”, o “Fantasia” e o “Passa ou Repassa”, são outras atrações que já tiveram seus fins decretados e anos depois voltaram ao ar reformulados.

Apesar da boa audiência, “Sessão da Tarde” (Globo) é ainda uma incerteza na grade para os próximos meses. SBT extinguiu em 2011, o “Cinema em Casa”, devido queda de público.

Na Record TV, “O Melhor do Brasil” consolidou-se como um dos programas de maior êxito da emissora, tanto no faturamento quanto na audiência, vencendo e sendo indicado a diversos prêmios, destinados, aos apresentadores Márcio Garcia e Rodrigo Faro. A partir de 16 de junho de 2013 deixou a alegria de lado e passou a ser transmitido aos domingos, tendo sido exibido aos sábados até então. O último programa foi exibido no dia 20 de abril de 2014, quando deu lugar ao apelativo “A Hora do Faro”. Hoje um dos maiores trunfos da Record TV em audiência, o “Cidade Alerta”, criado em 1996, seguindo os moldes do “Aqui Agora”, acabou sendo extinto em 2005. Em 2011 voltou a ser transmitido permanecendo apenas três meses na grade. Em 2012 foi ao ar a terceira fase do programa, se destacando pela apresentação de Marcelo Rezende (vítima de câncer em 2017), sendo substituído por Luiz Bacci.

“Corujão” e “Malhação” também estão na mira da Globo. Atrações podem ser extintas nos próximos meses.

A TV, assim como na vida real, deve estar em constante evolução. Quem fica parado no tempo, sem se reinventar corre o risco de perder importância e ser reconhecido apenas pelos livros da história da televisão brasileira. Mesmo que a nostalgia faça muitos programas ganharem novas versões na telinha, cabe unicamente ao telespectador escolher qual é a sua maior demanda para o momento. Houve tempos onde as emissoras desligavam seus sinais nas madrugadas, hoje, brigam para exibir jornalismo ao vivo na faixa. Houve uma era que o imaginário mundo dos bastidores da Globo chamava atenção do brasileiro e acabava alavancando as atrações da emissora. Com a popularização da internet, o “Vídeo Show” tentou mudar, mas esqueceu do principal: ser útil para o telespectador. Toda atração, por mais duradoura que seja, tem que continuar sendo interessante para seu público ou o controle-remoto fará com que ela deixe de existir temporariamente ou para sempre.

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*Escrito pelo jornalista Júlio César Fantin – Bastidores da TV

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