Para driblar rejeição local, RecordTV aposta em estrelas do SBT e suas afiliadas

Para driblar rejeição local, RecordTV aposta em estrelas do SBT e suas afiliadas
Record mira em nomes fortes do jornalismo local do SBT

Desde que começou investir e alardear seu objetivo de estar “a caminho da liderança”, a RecordTV tirou diversos artistas das suas concorrentes e sem querer acabou travando uma disputa com a então “líder absoluta do segundo lugar”. Com dinheiro que ‘cai dos céus’, a emissora de Edir Macedo contornou parte de sua rejeição, atacando as concorrentes ou se aliando a elas. Para se popularizar em rede nacional, a emissora atraiu ou comprou afiliadas das concorrentes, principalmente do SBT, fragilizando a rede concorrente. Em muitos casos, a arma utilizada foi a sondagem por estrelas locais para compor seu casting. O objetivo sempre foi bem claro: enfraquecer a concorrência e atrair um público que sempre rejeitou a emissora. Com esta tática, muitas afiliadas se viram obrigadas a mudar de bandeira e se aliar a então concorrente.

Record mira em nomes fortes do jornalismo local do SBT

Se em rede, a RecordTV já foi muito mais agressível, num momento de fragilidade do SBT, contratando grandes estrelas do canal de Silvio Santos e da Globo, em suas praças, a agressividade continua sempre em foco. É só alguém da concorrência se destacar para que a rede invista grandes recursos para tentar tirar as estrelas locais da principal concorrente. Há programas que só assim conseguem decolar, graças a credibilidade dos apresentadores que muitas vezes consegue até afastar a rejeição da emissora para um público mais conservador. E se além de um poder aquisitivo maior, a emissora do bispo consegue êxito, muitas vezes é culpa do próprio SBT, que pouco atenção dá a suas afiliadas e filiadas. Talvez uma mudança comece a ser desenhada com a nova direção nacional de jornalismo, desde que Silvio Santos dê liberdade para isso. É inadmissível uma rede do tamanho do SBT que pouco valorize suas parceiras e potencial que particularmente cada uma tem a oferecer ao Sistema Brasileiro de Televisão, criado justamente para ser um ‘sistema’ e não uma ‘rede’ qualquer, onde todos dependem da ‘cabeça de rede’, ao invés de cada um somar para o bem de todos os ‘órgãos’ envolvidos.

Lembro um caso típico que ocorreu em Florianópolis (SC), quando a extinta Rede SC (SBT), perdeu para a RecordTV sua maior audiência. Hélio Costa trocou de emissora por um salário totalmente fora dos padrões da imprensa catarinense. Com isso, pouco tempo depois, a então afiliada do SBT se uniu ao grupo Record, deixando o SBT fragilizado por muitos anos em todo estado catarinense. O SBT SC, ex-afiliada da RedeTV!, acabou assumindo a bandeira. Em Florianópolis, demorou anos para que finalmente seu sinal UHF se consolidasse. Foi graças aos investimentos em programação, novos estúdios e no sinal digital, que hoje, SBT e Record voltaram a concorrer de uma forma mais igualitária.

E este ataque agressivo, com dinheiro abundante, continua. No Rio, o “Balanço Geral” já teve seus altos e baixos. Atualmente, com Tino Jr. não faz o mesmo sucesso de Gottino, líder em São Paulo, em diversos momentos. Incomodada com o sucesso do jornalismo do SBT Rio, comandado pelo competente Diego Sangermano, a RecordTV Rio já prepara um novo ataque aos profissionais locais do SBT. Isabele Benito e Sangermano são os primeiros alvos. Resta saber se eles aceitarão trocar de emissora. A concorrente tem uma estrutura bem superior, mas o que pesa a favor do SBT é a liberdade e o carinho que eles sentem pela empresa que trabalham. Berço do SBT, ainda como TVS, o SBT Rio consegue fazer milagres com a estrutura que tem. Os estúdios são inferiores do que muita afiliada da Band. Investimentos sempre passaram longe de lá. A audiência do telespectador carioca, no entanto, nunca foi ingrata ao canal. Se até hoje, voos maiores não ocorreram com o SBT Rio é pela inércia da direção nacional e seu principal interessado, Silvio Santos.

Em Brasília, outro alvo recente da RecordTV é Neila Medeiros, que já teve oportunidade de apresentar telejornais na matriz do SBT, em São Paulo. Apesar da sondagem e da proposta tentadora, Neila, um dos grandes nomes do SBT Brasília, tudo aponta que deve continuar no SBT, por um bom tempo ainda. Enquanto a RecordTV aposta cada vez mais na regionalização de sua programação, inclusive abrindo espaço que tem direito para o jornalismo cada vez mais local, o SBT muitas vezes vira as costas para suas aliadas. Um exemplo clássico é o saudoso “Notícias da Manhã”, ainda comandado por César Filho e que fugia completamente dos padrões do SBT. Um jornal com conteúdo que conquistava a vice e incomodava a Globo e de forma surpreendente movimentava grande parte das praças, com links ao vivo e estrelas do jornalismo local. Hoje, o horário é ocupado por uma versão pobre do ótimo “SBT Notícias” que ocupa toda a madrugada. Na versão matinal, nada de helicóptero, links ao vivo e a participação ao vivo das praças. Pelo contrário, Silvio Santos colocou para concorrer com a RecordTV, Dudu Camargo, um jovem de 18 anos, que para chamar atenção ao programa, que não tem nenhum investimento, faz dancinhas e até strip-tease.

É uma pena, o jornalismo não ser melhor aproveitado em rede, pelo SBT. É justamente o jornalismo, o maior dos pilares para que o SBT volte a ser um dia uma emissora que forme, em todos os seus aspectos, um “Sistema Brasileiro de Televisão”. Talvez um dia, Silvio Santos deixe de brincar com a programação de sua emissora e alguém capacitado leve o SBT mais a sério. Credibilidade se constrói com o tempo, com planejamento e unindo forças. Quem pensa que pode fazer uma rede de TV vitoriosa, sem a ajuda de cada uma de suas praças, não pode ser considerado estrategista, muito menos ‘normal’.

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