Análise: O que mudaria se Silvio Santos tivesse sido eleito presidente do Brasil?

Nunca antes na história deste país, um dos mais emblemáticos homens públicos, da nossa era, poderia ter mudado a nossa nação, se em 1989, ele tivesse sido eleito o presidente do Brasil. 29 anos após as últimas eleições presidenciais, devido à ditadura militar. Uma fase importante, onde o povo brasileiro buscava um líder (aliás, infelizmente sempre carecemos de grandes lideranças). Aquele povo sofrido que ficou quase três décadas sem poder se manifestar e exercer a democracia, felizmente tinha em mãos, o poder do voto, um direito usurpado pela história.
Naquele ano, o fenômeno Silvio Santos estremeceu a nação ao se lançar candidato contra Fernando Collor de Mello, que liderava as pesquisas. Silvio desbancava os preferidos, inclusive Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, este que acabou disputando o segundo turno com Collor que venceu as eleições e meses depois sofreu o impeachment. Lula, outrora, foi eleito e reeleito presidente, elegendo sua sucessora que hoje sofre um mesmo processo de impeachment.
A popularidade de Silvio Santos incomodava muita gente poderosa e ter um ex-camelô que cresceu na vida sendo um bom orador, com alto poder de persuasão e penetração, principalmente com os mais humildes, não foi bem digerido pelos caciques pós-ditadura. Nunca antes na história, a população brasileira viu em um candidato, a esperança de um recomeço. Esta mesma utopia, anos depois foi depositada no operário que defenderia os trabalhadores e hoje é dono de uma das maiores taxas de impopularidade da história, citado num dos maiores escândalos de corrupção do país.

Após decidir de última hora ser candidato, Silvio Santos recebeu convite de partidos como PFL e PL. Porém, os candidatos destes partidos não aceitaram ceder espaço para o “rei dos domingos na TV” e dono do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT. Mesmo assim, entusiasta de ser candidato, ele buscou alternativas e aceitou ser candidato pelo nanico PMB, assumindo o lugar de Armando Correa. Como isso ocorreu, poucos dias antes das eleições, o nome de Silvio não aparecia nas cédulas de votação. O Homem do Baú teve que usar os programas de rádio e TV para explicar que ao votar em Armando, o eleitor estaria, na verdade, votando nele.
Com as pesquisas desfavoráveis, o partido de Collor entrou com uma ação para extinguir o partido no qual Silvio Santos era candidato. Com falhas nas convenções distritais, o TSE acatou o pedido por unanimidade e se encerrava aí a possibilidade de Silvio Santos disputar a presidência do Brasil. Passado o pleito, Silvio se convenceu a se dedicar aos seus negócios e aos programas de auditório. Enterrou a vontade de liderar e querer mudar o Brasil.

Em seus discursos, Silvio Santos dizia que iria se assessorar muito bem, acabaria com a inflação que chegava a 2000%, na época, aumentaria o salário mínimo (que ele alegava ser injusto e muito abaixo do aceitável). A saúde, a habitação e a educação também eram os principais pilares do seu possível governo. Se Collor tivesse sido derrotado, talvez o Brasil nunca teria cassado um presidente. Talvez Lula nunca teria sido eleito e transformado em ‘mito nacional’. Talvez hoje, Dilma não estivesse passando pelo processo de impedimento. São tantas hipóteses, que poderiam de fato ter mudado o rumo deste país. Numa época onde a democracia era devolvida para o povo, muitas oportunidades se perderam. O brasileiro ficou incrédulo com a política. Chegou a ter medo de mudanças. Mas mesmo com vergonha dos rumos que a Pátria Amada tomou jamais seu povo deixou de ter sangue vermelho, mas coração e consciência verde e amarela.
Se Silvio Santos seria um bom presidente, a história nos usurpou a resposta. É evidente que ele não sairia pelas ruas jogando aviõezinhos de dinheiro e perguntando “quem quer dinheiro?” ou rodando o peão da casa própria. Por mais honestidade que transpareça, talvez mesmo dentro de seu governo, a corrupção pudesse existir, com ou sem seu conhecimento. Em uma de suas empresas, um dos homens de maior confiança do empresário, envolveu o Grupo Silvio Santos em um dos mais delicados momentos da sua história, ameaçando inclusive todo o império construído por décadas pelo camelô da Lapa, do Rio de Janeiro, que mais tarde conquistou os microfones da maior cidade do Brasil e o coração de milhões de brasileiros. Talvez o exemplo que ele mesmo deu, ao chamar a responsabilidade para si no caso Panamericano, colocando o SBT como garantia, seja um bom indicativo. O próprio SBT, sofreu por muitos anos com sua “grade voadora”, o que fez sua audiência e faturamento despencarem e perder o posto de vice, hoje disputado com a Record. Mesmo assim, se o SBT fosse a própria República, por mais erros que ocorreram na sua história, a emissora teve muito mais conquistas do que derrotas, nestes quase 35 anos, mesmo sendo acusado de brega, nunca deixou de lado suas origens: o povo brasileiro.
Silvio Santos presidente foi uma possibilidade sonhada, mas não confirmada. Os fatos que vieram depois disso, estão estampados nos livros e manchetes de sites, revistas e jornais, como nunca antes na história deste país…
Assista alguns trechos de Silvio Santos na Campanha de 1989:
https://www.youtube.com/watch?v=7CFj7Fgh2EI
Twitter: @jcfantin
Jornalista há 12 anos, com importantes passagens por diversos veículos de comunicação. Hoje é editor do site www.ouvintes.com.br e colunista do site Bastidores da TV.
