Análise: O que mudaria se Silvio Santos tivesse sido eleito presidente do Brasil?

Análise: O que mudaria se Silvio Santos tivesse sido eleito presidente do Brasil?

Julioo12

Nunca antes na história deste país, um dos mais emblemáticos homens públicos, da nossa era, poderia ter mudado a nossa nação, se em 1989, ele tivesse sido eleito o presidente do Brasil. 29 anos após as últimas eleições presidenciais, devido à ditadura militar. Uma fase importante, onde o povo brasileiro buscava um líder (aliás, infelizmente sempre carecemos de grandes lideranças). Aquele povo sofrido que ficou quase três décadas sem poder se manifestar e exercer a democracia, felizmente tinha em mãos, o poder do voto, um direito usurpado pela história.

Naquele ano, o fenômeno Silvio Santos estremeceu a nação ao se lançar candidato contra Fernando Collor de Mello, que liderava as pesquisas. Silvio desbancava os preferidos, inclusive Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, este que acabou disputando o segundo turno com Collor que venceu as eleições e meses depois sofreu o impeachment. Lula, outrora, foi eleito e reeleito presidente, elegendo sua sucessora que hoje sofre um mesmo processo de impeachment.

A popularidade de Silvio Santos incomodava muita gente poderosa e ter um ex-camelô que cresceu na vida sendo um bom orador, com alto poder de persuasão e penetração, principalmente com os mais humildes, não foi bem digerido pelos caciques pós-ditadura. Nunca antes na história, a população brasileira viu em um candidato, a esperança de um recomeço. Esta mesma utopia, anos depois foi depositada no operário que defenderia os trabalhadores e hoje é dono de uma das maiores taxas de impopularidade da história, citado num dos maiores escândalos de corrupção do país.

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Foto: Divulgação/ABr

Após decidir de última hora ser candidato, Silvio Santos recebeu convite de partidos como PFL e PL. Porém, os candidatos destes partidos não aceitaram ceder espaço para o “rei dos domingos na TV” e dono do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT. Mesmo assim, entusiasta de ser candidato, ele buscou alternativas e aceitou ser candidato pelo nanico PMB, assumindo o lugar de Armando Correa. Como isso ocorreu, poucos dias antes das eleições, o nome de Silvio não aparecia nas cédulas de votação. O Homem do Baú teve que usar os programas de rádio e TV para explicar que ao votar em Armando, o eleitor estaria, na verdade, votando nele.

Com as pesquisas desfavoráveis, o partido de Collor entrou com uma ação para extinguir o partido no qual Silvio Santos era candidato. Com falhas nas convenções distritais, o TSE acatou o pedido por unanimidade e se encerrava aí a possibilidade de Silvio Santos disputar a presidência do Brasil. Passado o pleito, Silvio se convenceu a se dedicar aos seus negócios e aos programas de auditório. Enterrou a vontade de liderar e querer mudar o Brasil.

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Em seus discursos, Silvio Santos dizia que iria se assessorar muito bem, acabaria com a inflação que chegava a 2000%, na época, aumentaria o salário mínimo (que ele alegava ser injusto e muito abaixo do aceitável). A saúde, a habitação e a educação também eram os principais pilares do seu possível governo. Se Collor tivesse sido derrotado, talvez o Brasil nunca teria cassado um presidente. Talvez Lula nunca teria sido eleito e transformado em ‘mito nacional’. Talvez hoje, Dilma não estivesse passando pelo processo de impedimento. São tantas hipóteses, que poderiam de fato ter mudado o rumo deste país. Numa época onde a democracia era devolvida para o povo, muitas oportunidades se perderam. O brasileiro ficou incrédulo com a política. Chegou a ter medo de mudanças. Mas mesmo com vergonha dos rumos que a Pátria Amada tomou jamais seu povo deixou de ter sangue vermelho, mas coração e consciência verde e amarela.

Se Silvio Santos seria um bom presidente, a história nos usurpou a resposta. É evidente que ele não sairia pelas ruas jogando aviõezinhos de dinheiro e perguntando “quem quer dinheiro?” ou rodando o peão da casa própria. Por mais honestidade que transpareça, talvez mesmo dentro de seu governo, a corrupção pudesse existir, com ou sem seu conhecimento. Em uma de suas empresas, um dos homens de maior confiança do empresário, envolveu o Grupo Silvio Santos em um dos mais delicados momentos da sua história, ameaçando inclusive todo o império construído por décadas pelo camelô da Lapa, do Rio de Janeiro, que mais tarde conquistou os microfones da maior cidade do Brasil e o coração de milhões de brasileiros. Talvez o exemplo que ele mesmo deu, ao chamar a responsabilidade para si no caso Panamericano, colocando o SBT como garantia, seja um bom indicativo. O próprio SBT, sofreu por muitos anos com sua “grade voadora”, o que fez sua audiência e faturamento despencarem e perder o posto de vice, hoje disputado com a Record. Mesmo assim, se o SBT fosse a própria República, por mais erros que ocorreram na sua história, a emissora teve muito mais conquistas do que derrotas, nestes quase 35 anos, mesmo sendo acusado de brega, nunca deixou de lado suas origens: o povo brasileiro.

Silvio Santos presidente foi uma possibilidade sonhada, mas não confirmada. Os fatos que vieram depois disso, estão estampados nos livros e manchetes de sites, revistas e jornais, como nunca antes na história deste país…

Assista alguns trechos de Silvio Santos na Campanha de 1989:

https://www.youtube.com/watch?v=7CFj7Fgh2EI

Twitter: @jcfantin

Jornalista há 12 anos, com importantes passagens por diversos veículos de comunicação. Hoje é editor do site www.ouvintes.com.br e colunista do site Bastidores da TV.

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