Coluna: A barbárie humana e o jornalismo sensacionalista
Uma mulher inocente. Um bando de pessoas insanas, fanáticas e ignorantes. Um jornalismo sacal, descompromissado com a qualidade e focado no sensacionalismo barato. Todos esses ingredientes são a receita fatal para atrocidades humanas que acompanhamos Brasil afora, sobretudo, na minha opinião, depois do comentário infame e irresponsável da jornalista Rachel Sheherazade, justificando a atitude insana de um grupo de indivíduos que amarraram um jovem negro a um poste, no centro do Rio de Janeiro, e o agrediram quase até a morte. Agora, casos assim e até mais graves, como o que relato abaixo, se tornaram constantes.
Fabiane Maria de Jesus, de 31 anos, portadora de transtorno bipolar, foi confundida com uma suposta sequestradora de crianças, que eram capturadas para rituais de magia negra, na cidade de Guarujá, litoral paulista. Um retrato falado foi divulgado numa rede social e Fabiane acabou sendo confundida com a tal pessoa. No último sábado, dia 03, ela foi arrastada e linchada na rua por cretinos, assassinos, bandidos travestidos de seres humanos. Fabiane foi socorrida, porém não resistiu aos ferimentos e faleceu na manhã de ontem. O que presenciamos foi mais um ato, um crime hediondo, fútil, banal vindo de uma sociedade ignorante, fanática e teleguiada, na minha opinião, muito induzida pelo telejornalismo indigno que, diariamente, invade os lares brasileiros. Fabiane deixou duas filhas, uma de 13 e outra de 1 ano. Até o momento, ninguém foi preso. A polícia investiga o caso e promete encontrar e punir os responsáveis pelo crime.
Até quando as autoridades brasileiras vão permitir a prática de um jornalismo tosco, vil, fútil, oportunista e sensacionalista como o que diariamente presenciamos? Até quando seremos obrigados a acompanhar jornalistas como Raquel Sheherazade, que se acha a portadora da verdade comum, afirmar compreender, numa rede de televisão que tem concessão pública, cidadãos que fazem justiça com as próprias mãos? E mais, ainda há a Record, que diariamente pratica o jornalismo mais sangrento e inútil da televisão brasileira, com seus telejornais recheados de desgraça e retocados com uma pitada de sensacionalismo barato por seus apresentadores e nas pinceladas dos repórteres que parecem degustar com fome voraz a desgraça alheia? A Justiça precisa encontrar os responsáveis pelo crime praticado no Guarujá e puni-los na forma da Lei. Já os legisladores precisam criar uma Lei que puna, exemplarmente, jornalistas e veículos de comunicação que praticam o jornalismo irresponsável. É a tão sonhada Ley de Médios, que tramita nos labirintos do Congresso Nacional e da Câmara dos Deputados.
Que sociedade queremos? Que futuro esperamos para a geração que ai está? Que mundo e sociedade estamos imaginando construir com práticas e fatos absurdos como estes, protagonizados por seres humanos e que, diariamente, somos obrigados a presenciar? Justiça com as próprias mãos não é justiça, é crime.
Por Fabio E. Monteiro
@FabioMonteirotv
