Coluna: “A Regra do Jogo”: a novela atraente que não sabe seduzir

Coluna:  “A Regra do Jogo”: a novela atraente que não sabe seduzir

a-regra-do-jogo

Não anda nada fácil a audiência das últimas novelas das nove da TV Globo.

Desde a sonolenta “Em Família” de Manoel Carlos, passando pela rejeitada “Babilônia” de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, e chegando à atraente “A Regra do Jogo”, o respiro global só aconteceu em “Império” de Aguinaldo Silva.

Rodeada por muita expectativa, “A Regra do Jogo” de João Emanuel Carneiro, o mesmo autor do mega sucesso “Avenida Brasil”, a trama chegou com a promessa de estancar a crise de audiência ocasionada por “Babilônia” em diversas praças do país. A missão era difícil, mas não impossível. Com isso, muita coisa ia saindo na imprensa, como forma de ir aguçando a curiosidade do público.

A caixa cênica criada por Amora Mautner, diretora do folhetim, uma nova maneira de concepção para captação de imagens baseada em reality shows como o “Big Brother”, era uma delas. Câmeras estão sendo escondidas dentro dos cômodos da locação da novela para dar mais veracidade na atuação dos atores, mas no vídeo, no entanto, é imperceptível ao telespectador esta nova visão. Outra curiosidade foi o fato do autor da novela, conceder uma entrevista uma semana antes da estreia do seu folhetim, afirmando que, quando a novela é boa, o público assiste.

Passados trinta e dois capítulos, a diferença de audiência de “A Regra do Jogo” para “Babilônia” é de apenas um décimo (0,1), 25,1 a 25,0 em favor de “A Regra”. Mas como explicar o tamanho desinteresse do público para a nova novela do mesmo autor de “Avenida Brasil”? Simples: a mesma receita utilizando a mesma forma da anterior.

Favela? Tinha em “Babilônia”. Protagonista pobre moradora de favela? Tinha em “Babilônia”. Violência sem punição aos personagens que a praticam? Tinha em “Babilônia”. A qualidade, no entanto, de Regra se comparada à Babilônia é superior, mas o público, dificilmente verá com diferenças uma nova novela que se utiliza da mesma estrutura de outra em que ele havia rejeitado. A história de Romero Rômulo (Alexandre Neto) e sua facção é interessante, mas falta ser mais clara ao telespectador.

247366

A verdade é que a trama nos foi apresentada como numa leitura de um livro, onde abriram no meio dele e deram para que interpretássemos o começo de sua história. Até o momento, parece ser confusa e complexa. Juliano (Cauã Reymond) apresenta a mesma personalidade de Jorginho, interpretado pelo mesmo ator em “Avenida Brasil”: o mocinho que quer ser justiceiro, onde sua única função é ser chato e aparecer ao lado da mocinha, ou com cara de desconfiado ou prometendo se vingar. Embora o núcleo central apresente um bom argumento, os núcleos paralelos da trama passam longe de convencer o público. A família de Feliciano (Marcos Caruso) é uma tentativa frustrada de reconstruir a família Tufão. O núcleo em si, parece não ter ligação nenhuma com a história principal e feito apenas para preencher o tempo do capítulo.

Entretanto, é uma novela recheada de excelentes interpretações. O elenco, escolhido a dedo, apresenta grande veracidade e cumplicidade em cena. Pontos positivos para as atuações de Cássia Kis (Djanira), Tony Ramos (Zé Maria) e Vanessa Giácomo (Tóia), onde até o momento, roubaram a novela para os seus personagens.

Pode-se concluir que é uma grande novela, onde mistura os melhores artifícios para prender o público: agilidade, uma boa história, excelentes interpretações, bons ganchos… Mas peca na dosagem de viver apenas em torno do núcleo principal da trama. A concentração de todos os ingredientes que buscamos em um folhetim parece estar todo ali, onde acaba deixando sem graça os demais núcleos. Uma boa novela é aquela que te prende independentemente da parte de sua história, onde suas tramas se completam e fazem sentido em sua narrativa. Em “A Regra do Jogo” vemos um monte de histórias que pouco parece fazer sentido se juntarmos em um mesmo tabuleiro.

Obviamente, que após o grande sucesso de “Avenida Brasil” esperaríamos um sucesso avassalador para a próxima novela do autor em questão. No entanto, isso não vem acontecendo. Somando o êxito da novela “Os Dez Mandamentos” da TV Record, com a crise de audiência herdada pela novela anterior, o quadro, ou melhor, o jogo de “A Regra” é difícil de virar, mas não há de se duvidar da capacidade de João Emanuel Carneiro. “Cobras e Lagartos” do autor substituiu “Bang Bang”, que na época, foi considerado um dos maiores fiascos da história das sete. Resultado: o autor conseguiu salvar o horário e tornar “Cobras e Lagartos” a segunda melhor audiência da década das sete, ficando atrás apenas de “Da cor do Pecado”, também de sua autoria. Outro caso que podemos destacar, aconteceu com a novela “A Favorita”. O começo turbulento levando-se em consideração a estratégia da TV Record em colocar o final de “Os Mutantes” para competir com o primeiro capítulo de “A Favorita” acabou prejudicando o primeiro mês de exibição da novela, mas a competência do autor fez com que “A Favorita” se tornasse um dos mais saudosos sucessos do horário.

Convenhamos, “A Regra do Jogo” tem tudo para marcar para sempre o horário das nove. Os baixos índices de audiência precisam servir de estímulo para o autor mostrar ainda mais que neste jogo pela preferência do público, ele é um dos mestres.

A trama promete nos próximos capítulos, uma reviravolta gigantesca, começando pela morte de uma de suas principais personagens. Resta saber se o público que se afastou do horário sentirá seduzido para acompanhar novamente a faixa. Vamos aguardar…

Murilo Freire de Oliveira

Twitter: @Telespectador

Email: murilo.freire@outlook.com

Compartilhar: