Coluna: “Boogie Oogie” – Balanço Final

Coluna: “Boogie Oogie” – Balanço Final

COLUNA

Encerrada na última sexta-feira, a novela “Boogie Oogie”, folhetim do horário das seis horas da Rede Globo, propôs uma volta ao encantador e saudosista anos setenta, a começar pelo título se tratar de um ritmo musical muito famoso da época e retratar os tempos das discotecas em seu enredo principal. Escrita pelo estreante Rui Vilhena, com supervisão de texto de Aguinaldo Silva, conta a história de dois bebês trocados na maternidade em razão de uma vingança, e as conseqüências desse ato impensado na vida das famílias, em 185 capítulos de puro movimento, suspense e, claro, muita música e dança.  “Tá no ar” a nossa coluna de cada semana.

No entanto, a trama pareceu não receber atenção necessária por parte da emissora, sendo apenas jogada no ar. Autor, elenco e direção tiveram de fazer, sozinhos, toda a magia acontecer. Se na estreia chamadas envolventes convidavam o telespectador a conhecer a nova novela, tempos depois o que era visto resumia-se apenas a teasers pouco empolgantes do capítulo do dia, mesmo com a ágil narrativa e a explosão de acontecimentos que permeou os primeiros meses da história. Sem o destaque merecido, principalmente ao compararmos com outras tramas de temas musicais, “Boogie Oogie” teve a sorte de ter uma direção competente e atores experientes que deram o seu melhor para que tivéssemos um bom produto nas telas. Houve a preocupação da produção em inserir passagens gravadas na própria época e apresentá-las entre as cenas. Ruas, praias e até mesmo uma tempestade verdadeira, transportou o público para o ano de 1978, fato que se confirmou com a maravilhosa trilha sonora recheada de sucessos da década. E assim, a trama foi respirando na programação, ainda que sem grandes destaques no canal e por consequentemente da mídia.

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A novela trouxe de volta às telinhas os anos 70 e a magia das discotecas.

Isis Valverde e Bianca Bin estiveram nos papeis principais como as jovens trocadas na maternidade quando pequenas, abrindo o enredo central. Sandra era uma moça comum, de família unida e batalhadora, enquanto Vitória era mimada, caprichosa e criada em um ambiente de pouco amor e sem bases familiares sólidas. Bianca incorporou a personagem, seu jeito espevitado de falar, correr e andar ajudaram a construir uma Vitória que alternou bondade e atitudes maldosas, que horas fazia rir, mas às vezes falava sério, que sofria em alguns momentos e em outros já estava feliz novamente arquitetando vários planos para recuperar o amor de Rafael. Um trabalho excelente e um dos personagens mais bem construídos. Isis também soube segurar o seu papel, passou emoção sempre que foi preciso e não foi engolida pela segunda protagonista, as duas caminharam juntas, uma sempre jogando para a outra. Marco Pigossi foi o mocinho, o responsável pelos principais embates entre as moças e o motivo de terem se tornado arquiinimigas. A química foi boa e se destacaram.

Mas sem dúvida alguma o grande destaque foi para o experiente elenco adulto, atores veteranos roubaram a cena e muitos obtiveram a tão esperada chance de brilhar. Giulia Gam esteve brilhante como a megera Carlota, o terror da família Fraga. A vilã com ótimas tiradas de humor, divertia, escondia segredos, manipulava, fazia a novela andar e era a grande responsável pelos suspenses. Alessandra Negrini chamou a atenção com sua desequilibrada e abusada Susana, a desregulada só se dava mal e arrancou risos do público, tanto que apesar de haver planejado a troca e ter se envolvido em tramas estranhas, teve seu final feliz, ao lado do mesmo homem que a motivou agir de má forma. Marco Ricca passou bem no papel do mulherengo Fernando, colecionando amantes ao longo do tempo, o culpado por provocar tamanha raiva em Susana ao rejeitá-la grávida para seguir com outras mulheres.

O melodrama musical nos presenteou ainda com vários outros destaques. Heloísa Périssé, em um dos mais diferentes papéis de sua carreira, conduziu bem a sua sofrida Beatriz, destacando a emancipação feminina. Fabíula Nascimento, com a insuportável Cristina, ganhou um importante papel e não desperdiçou a oportunidade. Fabrício Boliveira enfim foi contemplado com um ótimo e importante personagem, o Tadeu, tal qual Thaís de Campos que deu vida a Célia. Déborah Secco regressa às novelas após um tempo afastada, a última aparição havia sido em “Insensato Coração” de 2011, e sua carismática Inês marcou e muito. E falando em voltar, Pepita Rodríguez fez um ótimo retorno à televisão, estando ótima como a delegada do mal, ou se preferir, o Corvo. Mas o melhor presente deixado por Ruy foi a maravilhosa Madalena dada à veterana Betty Faria, que há anos carecia de um bom papel nas telinhas e brilhou demais, a “Vovó biruta” encantou de uma maneira avassaladora como a matriarca da família.

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O Espetacular elenco foi um dos principais trunfos de “Boogie Oogie”.

Como nem tudo são flores, pontos negativos também assolaram a produção. O esticamento que a Rede impôs, prejudicou a narrativa que não conseguiu desenvolver novos conflitos e ficou durante algum tempo rodeando os mesmos assuntos, levando também a um problema de planejamento, pois a história seguiu em um ritmo acelerado em seu começo, mas que pouco se movimentou nos três meses finais. Algumas baixas no elenco como a saída de Débora Seco e o afastamento de Giulia, tentaram ser dribladas pelo autor, que até se saiu bem, mas não podemos deixar de citar como pontos contras. O fato de ser exibida no período Eleitoral, Horário de Verão, enfrentando as festas de fim de ano, férias, carnaval, que costumam derrubar o share, a prejudicou  com alguns acontecimentos importantes passando despercebidos ao coincidirem com datas como estas.

Acusada pela crítica especializada de ser “clichê” e até foi, o último capítulo fugiu do comum sendo pouco convencional. Não houve casamentos, arrependimentos, passagens de tempo e grávidas dando a luz, muitos personagens não terminaram com a obrigação de ter um par romântico. Criminosos ligados a chefia da polícia não foram punidos, já os laranjas que executam as ordens, sim (Fantástico! Estamos no Brasil e é assim que acontece!). Tiveram ainda novas descobertas, rompimento entre personagens, a despedida da boate que levava o nome da trama que seria vendida dias depois e não apresentou o “Fim” explícito no vídeo, pois ficou subentendido que muita coisa ainda aconteceria, como o casório dos mocinhos, as crianças previstas a nascer, a viagem de Madalena e o reencontro entre Tadeu e Inês nos Estados Unidos. Quem não gostou foi porque não entendeu a proposta.

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“Boogie Oogie” terminou na última sexta-feira (06) após 185 capítulos de muito ritmo e emoção. Na foto, os protagonistas Marco Pigossi (Rafael) e Ísis Valverde (Sandra).

Ao contrário do que dizem os críticos, a história não poderia ser recontada em épocas atuais, tendo vista que a tecnologia impossibilitaria uma troca de bebês passar despercebida pela maternidade e mídia, e com isso acabaria o enredo. As criticas em razão da pouca exploração da época também é simples de ser explicada: Não era a proposta da novela. Ditadura militar, torturas, alto consumo de cigarro e bebidas, embora presentes no tempo retratado, não eram elementos necessários para contar a história, sobretudo uma ficção. Novela não precisa ter compromisso com a realidade, para essa atividade existem os telejornais. Também não tinha a menor obrigação de acrescentar algo novo à teledramaturgia, isso acontece desde o surgimento das primeiras telenovelas, que se especializaram em recontar os mesmos enredos de formas diferentes, maioria esmagadora das produções folhetinescas são assim, isso quando não são remakes explícitos.

Contudo, a trama mais acertou que errou. Com uma narrativa ágil e ainda assim, bem fechada, conseguiu contar a história de todos os personagens, sem se perder, coisa que não acontece, por exemplo, nas enormes novelas das nove, em que é comum um personagem sumir ou ser ofuscado por outro. Bons personagens conseguiram fazer repercutir graças à boa estruturação que tinham e ao afinado time de atores. Não explodiu em audiência, mas também não fracassou, alcançou índices entre 18 e 21 pontos, o normal para a faixa horária, a mais complicada da Globo. Não passou batida, abriu caminho para “Sete Vidas” a sua substituta, ficou na lembrança de quem a acompanhou, e se encerra como mais uma grande novela brasileira.

“Boogie Oogie”, fechou o último capítulo com média de 23 pontos, o melhor resultado em pouco mais de dois anos. De olho nos últimos resultados das novelas das seis, a possibilidade de melhorar a audiência e a repercussão da faixa ao empurrá-las para mais tarde, já que no horário atual o público ainda está chegando em casa, ou ainda juntá-la com a faixa das sete, afim de que uma jogue público para a outra, seria uma boa alternativa para inflar os índices e ambas se ajudarem, pois aquela dona de casa que acompanhava todas as novelas do horário, hoje é a que trabalha e ainda não chegou para acompanhá-las. Seria uma opção favorável  ou  estratégia atual ainda funciona bem? Comente e continue essa análise!

Um muito obrigado ao “Bastidores da TV” e a você que prestigiou essa coluna. Até a próxima semana!

Dyego Terra

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