Coluna: Falta criatividade na televisão brasileira?

Coluna: Falta criatividade na televisão brasileira?

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Coluna: “No Mute” – por Murilo Oliveira

“Em uma época de quase nada, pouco acaba sendo muito”.

Começar um texto onde já sabemos a resposta parece ser tão óbvio, quanto à televisão brasileira se transformou.

Chega a ser irreal o que temos visto nos últimos tempos. A televisão número um em exportação de novelas, também é a número um no quesito comodismo. O aparelho que unia as famílias em sua frente tem sido esquecido cada vez mais e trocado por novas tecnologias. Nada é tão culpado, quanto o crime que ela mesma vem cometendo.

Televisão virou berço de poucos, numa cama que cabem muitos.

A escassez de novas idéias é vista diariamente em todos os canais de TV. Mas será que faltam pessoas para oferecerem novas idéias, novas soluções, uma nova diretriz para a nossa TV? Não, não faltam.

Televisão virou laços de sangue e rodas de amizade.

Quem está fora, não entra. Quem está dentro, não sai. Quem quer mudá-la, é obrigado a ficar mudo. O público clama por mudanças, mas só recebe desinteresse. Ela, TV brasileira, se concentrou nas mãos de poucos.

Em decisões sobre seu futuro, é preferível manter as amizades e empregar seus laços familiares do que oferecer uma chance para quem tenta melhorá-la.

Televisão virou jogo repetido, para quem está cansado de jogar.

O público, muitas vezes, nem precisa ligar o seu aparelho para saber o que está passando em determinada atração. As fórmulas, repetidas à exaustão, só mudam de modelos. O que surpreendia, hoje é manjado. Ela, televisão brasileira, quando não repete as coisas de hoje, revira o seu passado.

Programa que precisa reviver quadros de anos atrás, ou de idéias que já foram usadas, tem alguma coisa para contribuir na história da nossa TV no capítulo chamado “Hoje”? A reflexão é válida. A televisão mais do que nunca, precisa ter o seu próprio brilho, escrever a sua própria história e caminhar com suas próprias idéias.

Quadro que já foi pintado, todo mundo conhece suas cores. E infelizmente, têm faltado bons pincéis (ou o bom senso).

Televisão virou idolatria em terras de falsos elogios.

A competência ou o talento precisa se render primeiro aos elogios e a exaltação mentirosa. Quem quer uma chance, precisa massagear o ego de quem tem o seu “sim” em mãos. É uma indústria que enterra sonhos, novas idéias, soluções, mas vive desenterrando coisas do seu passado. Vai entender.

Televisão virou cega, ao perder a sua “visão”.

Se antes a televisão brasileira buscava se diferenciar e se tornar única no mundo, hoje ela precisa do mundo para tentar ser alguém.

Excluindo seu próprio povo, ela prefere buscar em feiras internacionais formatos e programas, do que ser a criadora e detentora de novas idéias. A televisão de um passado glorioso quer reviver apenas de seus momentos de glória. Quem um dia tinha sonhos de construí-la e que conseguiu chegar lá, hoje impede os novos talentos de continuarem a sua construção.

Nada é mais triste, que ver as pessoas falarem mal de determinado programa, que tem sua história, sua marca, mas que quer continuar oferecendo aos seus telespectadores, o cardápio de sempre. A televisão que imprimia uma identidade única parece ter parado em um único tempo. Ela, que um dia, tinha sua própria visão ideológica de ser sempre a novidade, hoje, se tornou cega na obsessão de quem a faz, de ter o seu próprio poder.

Como um jovem que tenta uma chance há quatro anos, posso afirmar que vi muitos programas acabando, programas que estão no ar com baixa audiência, e que assim como muitos, fui atrás de tentar oferecer uma solução. Mas como numa pirâmide, quem manda se posiciona como faraó. E você e nada acabam sendo a mesma coisa. Ninguém te ouve, ninguém te enxerga.

Hoje, mais do que nunca, é necessário expandir o conceito do que é fazer TV. Televisão não é bater ponto. Televisão é criar um novo ponto diariamente. O público, mais do que ninguém, merece sempre novidades, merece qualidade, merece que a televisão brasileira dê o seu melhor, como ele precisa dar o seu melhor todo o dia em seu trabalho.

Televisão precisa ser contribuição e constante renovação. Quem quer criar sua própria história, precisa escrever com sua própria caneta. E a televisão brasileira tem andado cada vez mais, num caminho já conhecido. As horas estão passando, e caminhos alternativos estão sendo apagados. Assim como o interesse do público, e os sonhos de seus futuros profissionais. Triste.

Murilo Freire de Oliveira (Muquita)

Twitter: @Telespectador

Email: murilo.freire@outlook.com

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