Coluna: O jeito Silvio Santos de fazer novelas
Nota: Mesmo após uma tragédia, não podemos parar… Dedico a coluna desta semana no Bastidores da TV ao meu irmão Eduardo Fantin, que faleceu no último sábado aos 22 anos, vítima de acidente. #saudadesdudu
O SBT surgiu como grande aposta popular na televisão, uma opção aos padrões globais da década de 80. E foi em diferentes épocas, nestes 34 anos, que o canal do “Homem do Baú” investiu em teledramaturgia, alcançando excelentes audiências em diversos folhetins próprios e adaptados. Como o humor de Silvio Santos sempre foi inconstante, a emissora deixava da noite para o dia de produzir tramas, às vezes por baixa audiência, outras por redução de custos ou então por pura vontade do patrão. Em meio a tantas adaptações de tramas mexicanas e argentinas, como “Destino”, a primeira novela produzida pela TVS (1982), o SBT produziu alguns títulos nacionais, como “As Pupilas do Senhor Reitor” (1994), “Sangue do Meu Sangue” (1995) e “Razão de Viver” (1996).

“Colégio Brasil”, “Antônio Alves, Taxista” e “Razão de Viver” estrearam no mesmo dia
Teve épocas que a emissora possuía três novelas inéditas em produção, como em 1996, quando estreou “Colégio Brasil”, que tinha Patrícia de Sabrit como a professora Júlia. Assim como, por anos, o SBT deixou de produzir e apenas exibiu material produzido pela Televisa. Com o fiasco de “Brasileiros e Brasileiras” (1990), o SBT encerrou seu núcleo de teledramaturgia, somente retornando em 1994. Neste período, apenas novelas mexicanas foram exibidas, iniciando por “Carrossel”.
Em 1994, o SBT surge com a gloriosa “Éramos Seis, um dos mais belos trabalhos de teledramaturgia que a emissora já fez, de autoria de Silvio de Abreu, com Irene Ravache, Othon Bastos, Denise Fraga, Marcos Caruso, Tarcísio Filho, Ney Latorraca, Caio Blat, Otaviano Costa, Ana Paula Arósio e Jussara Freire. Foi a única do SBT a ganhar um Troféu Imprensa até hoje. Em sua exibição em horário nobre chegou a ultrapassar os 20 pontos de audiência fechando com 16 pontos de média na primeira exibição. Mesmo com o sucesso, a novela foi reexibida apenas uma vez, em 2001, quando atingiu 13 pontos de média. A trama foi a primeira produzida no CDT da Anhanguera, tendo 180 capítulos.

Em 1997, Dona Anja foi a aposta do canal contra Xica da Silva, da extinta Manchete. Curiosamente, Silvio Santos comprou anos depois as fitas e reexibiu Xica em sua emissora. Com Jonas Melo e Lucélia Santos como protagonistas, Dona Anja foi produzida em parceria com a produtora JPO. Outra novela da Manchete que incomodou a audiência do SBT e da Globo foi Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa. Silvio também adquiriu às fitas e reexibiu a novela atingindo médias de 17 pontos. Pantanal, na verdade, poderia ter sido produzida pelo SBT em 1990, mas Silvio Santos não aceitou, devido aos altos custos da produção. Aliás, anos depois, os autores Benedito, Glória Perez e Walter Negrão, chegaram a ser contratados pelo SBT, em 1996, para um grande e ousado projeto de produção de novelas que Silvio Santos planejava no recém-construído CDT. A Globo, no entanto, decidiu pagar uma multa de R$ 70 milhões para ter os autores de volta, o que fez com que o SBT não tivesse tanto gás para enfrentar a concorrente e abortasse os planos. Ainda em briga judicial, o SBT ainda espera receber mais R$ 10 milhões.

Em 1998, “Fascinação” deu sequência a uma fase de ouro das tramas do SBT. De Walcyr Carrasco, a novela teve Regiane Alves e Marcos Damigo como protagonistas. Além de Caio Blat e Mariana Ximenes. A novela foi reexibida por duas vezes, uma em 2004 e a outra em 2011. Atingiu boa audiência e foi vendida para 20 países. Na verdade, Silvio Santos a produziu para ser exibida no México, porém acabou sendo exibida também no Brasil. Foi a primeira trama brasileira a usar ponto eletrônico. Com 142 capítulos foi gravada no tempo recorde de quatro meses, sem cidade cenográfica, apenas com faixadas e cenas em estúdio. Em seu lugar, o SBT produziu “Pérola Negra”, grande sucesso que teve como protagonistas Patrícia de Sabrit e Dalton Vigh. Com 182 capítulos, a novela encerrou mais um ciclo da teledramaturgia da emissora. Em seu lugar, estreava em 1999, o sucesso mexicano “A Usurpadora”.
Diversos remakes da Televisa foram produzidos a partir de 2001, como “Cristal” e “Esmeralda”. Somente com a quebra de contrato com a Televisa que o SBT iniciou uma nova era, em 2007, com textos de íris Abravanel (“Revelação”, “Vende-se um véu de noiva” e “Corações Feridos” , seguido por Tiago Santiago. Com altos investimentos em novelas como “Uma Rosa com Amor” e “Amor e Revolução” e baixa audiência, Íris Abravanel reassumiu o posto de autora e lançou os dois maiores sucessos recentes da teledramaturgia do SBT: “Carrossel” (2012) e “Chiquititas” (2013); tramas para o público infanto-juvenil que devolveram a vice-liderança à emissora, na faixa das 20h30. Aliás, “Chiquititas” fez grande sucesso também no primeiro remake feito pelo SBT, em parceria com a argentina TELEFE, em 1997. Já, a novela “Carrossel” mexicana, foi um dos primeiros grandes sucessos da Televisa em solos tupiniquins, em 1991. A trama é uma adaptação da original argentina de 1966.

Ao longo dos anos, Silvio Santos adquiriu diversas telenovelas latinas para exibição, como os sucessos “A Usurpadora” (de volta dia 30) e “Maria Mercedes” (1996), ambas reprisadas exaustivamente pelo canal. O SBT também adquiriu títulos consagrados da ex-concorrente, a extinta TV Manchete: “Dona Beija”, “Xica da Silva”, “Pantanal” e “Ana Raio e Zé Trovão”; as tramas deram dor de cabeça para o SBT na década de 90.

E assim segue a teledramaturgia do SBT. Enquanto as tramas tiverem dando resultado, Silvio Santos deve mantê-las no ar. Além de sua esposa Íris Abravanel, Silvio não conta com outros grandes autores e nem deseja, pelo menos até quando acordar com o pé direito, investir pesado na área que já teve seus altos e baixos, mas que nunca deixou de fazer parte da história da emissora. Mesmo com falta de autores e grandes atores, o SBT sempre fez do seu jeito e conseguiu em muitas vezes, atingir os seus objetivos. Ousadia já fez parte da estratégia de Silvio Santos, outrora, o patrão hoje siga com os pés no chão e a cautela seja sempre a palavra mais consultada em seu dicionário.
Júlio César Fantin
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