Coluna: O SBT deveria cuidar melhor de suas novelas
Com apenas um ano no ar, o Sistema Brasileiro de Televisão, até então chamado de TVS, estreava na programação as primeiras de muitas novelas de sua história. A estratégia era a mesma de agora, apostar tanto em folhetins nacionais como nos latinos e “Os Ricos Também Choram” foi a primeira a estrear no canal em cinco de abril de 1982. Pouco mais de um mês estreia “Destino”, produção brasileira adaptada de um original mexicano. Hoje com 33 anos de existência, o SBT já exibiu mais de 130 tramas entre mexicanas e brasileiras, sejam adaptações ou textos originais, mantendo com bastante sucesso uma tradição de anos. No entanto, a emissora não tem tomado o devido cuidado com as suas novelas, o setor não tem a atenção merecida, além muitas tramas se perderam na história do canal.
A falta de atenção com as próprias produções é gritante. A emissora não tem completa em seu acervo qualquer novela feita na década de oitenta. É como se todas as produções realizadas antes de “Cortina de Vidro”, que se salvou por ter sido produzida no final de 1989, não existisse. Metade da história do canal foi jogada no lixo. E o desleixo continua, as sobreviventes da década de noventa continuam guardadas em rolos de fitas e não possuem a menor chance de serem digitalizadas, já que nem ao menos existe algum projeto de remasterização ou recuperação. Simplesmente não há interesse.
A emissora não sabe lidar com o sucesso, quando uma trama é bem sucedida, é reprisada a exaustão e sugada até a última gota. Reprises em tão pouco tempo além de manchar a imagem do canal, saturam as histórias que poderiam render muito mais se não fossem tão executadas e desde os primórdios o SBT costuma reprisar novelas com pouco tempo da exibição original e poucas não foram às vezes em que isso ocorreu. Exibidas pela primeira vez em 1991, dois anos foi o tempo que o SBT esperou para reprisar “Carrossel’ e “Rosa Selvagem” que voltaram juntas no horário da tarde em 1993. A trama infantil voltou ainda a ser transmitida em 1995 e 1996, mesmo ano da estreia do próprio remake “Carrossel das Américas”. A trilogia das Marias de Thalía também ganharam suas reprises precoces e após a exibição inédita da última Maria, “Maria do Bairro” em 1997, o SBT voltou a sequência do início reprisando “Maria Mercedes”, e a substituiu novamente por Maria do Bairro, fazendo uma absurda salada de fruta na programação e na cabeça do telespectador. “Marimar” foi pulada mas voltou meses depois durante, pasmem, as manhãs. “O Privilégio de Amar” e “Pequena Travessa” foram reapresentadas dois anos após o fim, “Ambição” e “Carinha de Anjo” um ano depois, “Rubi” em nove meses, “A Usurpadora” oito e “Uma Rosa com Amor” sete.“A Estranha Dama” havia sido a gota dágua ao ser reprisada 24 dias após seu término, porém a nova versão de “Carrossel” bateu recorde ao voltar 10 dias depois de seu último capítulo, a reprise no entanto foi cancelada tendo sido retomada na última segunda-feira, totalizando um ano e sete meses do final original, mesmo tempo da exibição e reprise de “Canavial de Paixões”, que ainda teve outras exibições quase que grudadas.
Precoces ou não, o SBT é a número um em reprisar novelas. As mexicanas são as campeãs de re-exibições, porém não as únicas. Maria do Bairro lidera a lista com seis exibições, A Usurpadora atingirá a mesma marca com a exibição de 2015, Marimar tem cinco, O Privilégio de Amar, Carrossel e Canavial de Paixões com quatro, sendo esta última com todas essas exibições em menos de dez anos. “Maria Esperança” em oito anos já foi apresentada três vezes, mesmo número de “Esmeralda” em onze. Além disso, é comum a emissora transmitir novelas com as mesmas histórias, tendo original e remake exibidas coladas uma nas outras. É o caso de Carrossel em 1996 com Carrossel das Américas no mesmo ano, Maria Esperança em 2010 com Maria Mercedes em 2012, Cristal em 2006 com O Privilégio de Amar em 2008, e as duas novamente em 2010 em 2013, respectivamente.
A TV de Silvio Santos também comete muitos erros nas escalações das tramas e na escolha de seus horários. Alguns exemplos de novela “fora do lugar” foram “Amigos para Sempre” estranhamente exibida fora do horário de infantis, “A Madrasta” e “Mundo de Feras”, novelas escuras e sombrias exibidas em plena tarde, quando na época existiam horários noturnos para as mexicanas, “Camaleões”, telenovela juvenil às 16 horas, “Na Própria Carne” transmitida somente aos sábados, “Viva às Crianças” substituindo “Jamais Te Esquecerei”, além de reprises em melhores horários que as inéditas ou que a própria exibição original. O último erro grotesco foi escolher “Por Ela… Sou Eva”, uma comédia, para substituir “Cuidado com o Anjo”, um drama carregado, e o resultado foi catastrófico.
Há cinco anos o SBT mantém com sucesso a faixa das “Novelas da Tarde”, entre erros e acertos. Muitas novelas ganharam novas chances, algumas se destacaram outras tornaram a fracassar, umas reapresentadas diversas vezes, outras inéditas, mas o principal trunfo foi ter mantido o horário no ar durante vários anos, gerando sua consolidação, ainda que com poucas chamadas, tendo vista que somente o telespectador da tarde sabe da existência desse espaço, pois é raro as transmitirem durante a programação noturna, a exceção de Teasers de estreias, que geralmente são veiculadas nos intervalos de “Chiquititas”, maior audiência da casa. A sessão está em sua quarta transmissão, essas reapresentações começaram em 1992 com A Estranha da Dama e Ambição que deram lugar a Rosa Selvagem e Carrossel, posteriormente voltou com o nome de “Tarde de Amor” em sua maioria com tramas inéditas no começo dos anos 2000. Quatro anos mais tarde volta ao ar alternando entre novas e antigas, Marimar fez a abertura juntamente a “Fascinação” e a novíssima “Amor Real”, todas estreando no mesmo dia. Em 2010, “Pérola Negra” e “Esmeralda” juntam-se a “As Tontas Não Vão ao Céu” que foi a primeira a abrir novamente o horário que dura te hoje e, algum tempo depois a emissora oficializou e passou a utilizar este nome. Foram considerados continuações da faixa todas as vezes que houve seqüência com substituições e mais de um folhetim simultaneamente.
O que vemos é falta de atenção do SBT com as suas novelas. Não há interesse em criar um núcleo para cuidar das novelas mexicanas, pessoas que entendam do assunto e que possam escolher tramas mais a ver com a emissora e não as escolher somente por ter um determinado ator ou atriz, estudar se existem outras versões já exibidas no canal, conhecer os pontos positivos e negativos de sua possível transmissão, a relevância que enredo e elenco teriam para o telespectador brasileiro e um cuidado maior com a edição, sabendo em que pontos precisam adiantar ou prolongar acontecimentos. Com as brasileiras a remasterização de todo o acervo, a criação de um programa que divulgue as produções próprias, mostrando bastidores, com reportagens especiais e toda a divulgação que precisam seriam a melhor pedida. Cuidar melhor de um dos setores mais rentáveis e bem sucedidos da emissora, que mesmo sem a devida atenção lucram e alcançam alta audiência na grade de programação da rede.
Essa foi mais uma coluna “Tá no Ar”! Obrigado pela leitura e até a próxima semana! Um salve ao Bastidores da TV!
Dyego Terra
