Coluna: Record sem Universal – Sonho ou delírio?

Essa semana, em uma nota exclusiva do jornalista Ricardo Feltrin, da Folha/Uol, descobrimos que setores do alto escalão da Record e da Igreja Universal (mesmos setores, pois muitos de um setor estão no alto escalão de outro) estão pensando em acabar com a programação religiosa nas madrugadas da emissora.  Então vamos “filosofar” sobre isso, com alguns questionamentos e provocações.

Essa decisão é algo que devemos pensar, pois será que a Rede Record consegue, com sua atual estrutura e custos, sobreviver sem a injeção de dinheiro da Universal? Considerando que, mesmo com esse meio bilhão, este canal teve em 2011 e 2012 prejuízos de 60 milhões e 100 milhões de reais, respectivamente (segundo o jornalista Lauro Jardim, da Veja).

Por um lado, a decisão pode melhorar a imagem da emissora, que é a imagem de uma emissora sustentada por uma igreja, que justamente é do mesmo dono da Record. Por outro lado, pode até piorar se a Universal continuar com os repasses de dinheiro para a emissora, pois, mesmo mandando dinheiro para a Record, a IURD tem 5 horas diárias de conteúdo religioso dentro da Rede Record. Assim é considerada pela Record como uma cliente. Mas se as madrugadas religiosas acabarem, mas o dinheiro ganho com religião continuar a ser depositado pela cliente, será até pior, pois seria incoerente uma cliente pagar pelo serviço e não receber.

Além disso, não receber essa bufunfa pode implicar em um aumento no número de comerciais em todos os programas da emissora, implicando em uma redução do ibope geral, já que a Record tem um número pequeno de comerciais em comparação as outras emissoras, que não dependem de uma Igreja, como o SBT e a Globo. E mesmo se a Globo tivesse a IURD na madrugada, o preço que ela iria cobrar seria menor do que a Record cobra para a mesma.

Também devemos considerar que muitos produtos que garantem o alto ibope da Record são caros. Como, por exemplo, a estrutura de jornalismo da Rede Record, que só a título de comparação tem 5 vezes mais equipes de reportagem do que o número atual do SBT. Além disso, tem um jornalismo já em HD e com muita programação ao vivo. Um número maior de helicópteros para o jornalismo usar. Posso dizer que a estrutura do jornalismo da Record é parecida com a do jornalismo da Globo. Não podemos nos esquecer da excelente estrutura dos seriados bíblicos, que dão um bom ibope. Isso tem um custo? Quem é que vai pagar ele? Talvez uma sigla de 4 letras chamada IURD.

Se este canal reduzir os custos e investimentos, isso pode também implicar em uma queda de audiência, caso a concorrência se prepare e invista nos horários em que a Record poderia deixar de produzir conteúdos caros.

Ao mesmo tempo, devemos também duvidar do fato de que a Universal deixaria a Record, pelo fato de que a expansão desta emissora pelo mundo é quase igual à expansão da Igreja Universal pelo mundo. Embora a Igreja Universal esteja presente em 190 países e a Rede Record esteja em 150 países. Mas, como nesses 150 países a segunda colocada no Ibope também passa a Universal nas madrugadas, então devemos considerar que nesses locais deve ter ocorrido um expressivo crescimento no número de fiéis com o aumento da exposição desta entidade e de suas obras pelo mundo. Então não seria interessante tirar a IURD das madrugadas do sinal internacional da emissora.

E não seria interessante para a Universal sair do sinal nacional, pois alcança mais domicílios do que canais como CNT, Rede TV!, Bandeirantes, Gazeta, entre outros canais que vendem horários para a Igreja fundada pelo Edir Macedo.

Além disso, para o canal não precisar mais da IURD, o Diretor Comercial desta rede de televisão, chamado Walter Zagari, terá que trabalhar duro para aumentar o faturamento da emissora. Como ele é considerado um dos melhores diretores comerciais do Brasil, pode ter um pouco de sucesso na tarefa de atrair mais anunciantes; e que não sejam empresas, como Tio Nacho, Goecoytchea, Potencil, entre outras. Sucesso total só será  conseguido com muito esforço. Mas é possível que essa tarefa seja feita com êxito, até pelo fato do próprio Walter já ter prometido que a Record não iria depender mais da igreja do mesmo dono, chamada de “cliente”, em alguns anos.

Por isso eu digo que a saída da programação religiosa nesta emissora é uma situação em que há uma dualidade. Ou seria um sonho (em que o ibope 24h aumenta e pode se aproximar da Globo), ou um delírio (já que isto pode tirar uma boa grana que é usada para ter uma excelente estrutura, sem ter tantos intervalos como as concorrentes e, assim, pode ter vários prejuízos).

Sem mais, essa coluna voltará a ser escrita daqui a um mês. Todas as quartas, durante a copa, o Bastidores da TV terá uma coluna de humor que mostrará as aventuras e perrengues do Datena na Copa, em seu retorno à locução esportiva.

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