Coluna: Saudades do Zorra Total

Coluna: Saudades do Zorra Total

souTelespectadorNada é tão ruim que não possa piorar, não é verdade? O que é aquilo em que se transformou o novo “Zorra Total”? Tiraram o “Total” do título do humorístico restando assim apenas uma verdadeira “Zorra”! Baseado em rápidos esquetes, a reformulação do programa apresenta elementos semelhantes aos utilizados no “Tá No Ar” também da Rede Globo e  em muito vídeos  na Internet.

O “Zorra Total” foi criado para recuperar a liderança perdida para o SBT. O sitcom “Ô Coitado” protagonizado por Gorete Milagres  e Moarcyr Franco era exibido nas noites de quinta-feira e foi uma verdadeira dor de cabeça para os executivos Globais. Em 1999 foi um ano difícil para a Rede Globo, na época a emissora de Silvio Santos se aproximava cada vez mais da emissora carioca na guerra pela audiência, principalmente quando acabava a novela das oito, na chamada “Linha de shows” horário em que vários programas do SBT chegavam à liderança.


A emissora carioca acreditava que juntando um grupo de grandes humoristas em quadros separados podia recuperar a liderança no horário. A estratégia não deu certo, “Ô Coitado” continuou liderando no SBT durante um bom tempo enquanto o “Zorra Total” foi logo transferido para as noites de sábado permanecendo nesse horário até hoje. Já na primeira edição, a crítica detonou a estreia da emissora carioca classificando o novo humorístico como popularesco demais, muito distante do famoso “Padrão Globo de Qualidade”. Nesse período essa era uma tendência no canal dos Marinhos devido o forte avanço do SBT em horários impotentes da programação.

No início o “Zorra Total” era estrelado por grandes nomes do humor brasileiro, entre eles: Chico Anysio, Claudia Jimenez, Agildo Ribeiro, Claudia Rodrigues, Francisco Milani, Heloísa Perissé, Renato Aragão, Lúcio Mauro, Stella Freitas, Orlando Drummond, Pedro Bismarck, Eliezer Motta, Fafy Siqueira, Rogério Cardoso e Lug de Paula, dirigidos pelo excelente Maurício Sherman.  No decorrer dos anos outros nomes integraram o elenco e muitos outros comediantes foram lançados sob o comando de Maurício Sherman.

Vou reconhecer que o “Zorra Total” não andava muito bem das pernas no quesito conteúdo, mas apesar de quadros já batidos demais, o programa sempre alcançava uma boa média de audiência. O forte desse humorístico da Rede Globo sempre foi o sucesso dos personagens, o que não acontece atualmente com esse programa reformulado. Falando em personagens, quanta saudade… Os melhores e mais marcantes apareceram nos primeiros anos da atração. Adorava o Seu Saraiva (Francisco Milani), o Nerso da Capitinga (Pedro Bismarck), o casal Ofélia (Cláudia Rodrigues) e Fernandinho (Lúcio Mário), o casal Santinha (Nair Belo) e Epitáfio (Rogério Cardoso), a dupla Maurição (Jorge Doria) e Alfredinho (Lucio Mauro Filho), o Severino (Paulo Silvino) e o Alberto Roberto interpretado pelo mestre Chico Anysio, considero essa a fase de ouro do programa.

Gostava até de personagens mais atuais como a Laura (Maria Clara Gueiros), Adelaide (Rodrigo Sant’anna), Dona Gislaine (Fabiana Karla), da dupla Valéria (Rodrigo Sant’anna) e Janete (Thalita Carauta), Patrick (Rodrigo Fagundes), Jajá e Juju (Adriana Nunes e Welder Rodrigues), Juninho Play (Samantha Schmütz), Dra Lorca (Fabiana Karla), Lady Kate (Katiuscia Canoro) e dos caipiras Zé Rodela (Caike Luna) e Beiradinha (Katiuscia Canoro), sem falar nos bordões que caíram na boca de todo o Brasil. Talvez o grande erro do “Zorra Total” foi o desgaste dos quadros mais populares, se houvesse um revezamento constante com outros a serem lançados não haveria uma saturação do humorístico. Por incrível que pareça os personagens entravam na geladeira apenas depois de muito desgastados cansando bastante o telespectador.

Vou fazer um desabafo! Não sou muito fã de programas humorísticos, ou melhor, não é toda comédia televisiva que me agrada… O novo “Zorra” promete rir com situações do cotidiano mostradas em pequenos esquetes. A produção de fato é bem mais elaborada que a do “Zorra Total” e bem mais sem graça também. Essa nova linguagem inspirada nos vídeos hilários do “Porta dos Fundos” não funciona na TV Aberta. A graça do “Tá no Ar”, outro programa baseado na linha utilizado na Internet, são as sátiras feitas de programas ou situações conhecidas da nossa televisão. Humor já realizado anteriormente pelo “TV Pirata” e pelo “Casseta e Planeta Urgente!” ambos também da Rede Globo. Marcius Melhem (roteiro) e Mauricio Farias (direção) assinam a reformulação do humorístico.

Os números já começaram a cair, a produção culpa a novela “Babilônia” pela queda dos números e não a uma suporta reprovação do grande público com a nova atração. Os telespectadores brasileiros acostumados em ficar na frente da televisão nos sábados à noite gostam de um humor pastelão, aquele bem circense. Não que seja um erro a nova atração humorística da Rede Globo, mas a mudança de linguagem do humorístico foi um erro. Seria mais interessante batizar essa nova atração com outro nome, pois é totalmente distante da essência do antigo “Zorra Total”. A Globo está sofrendo uma crise do humor, das produções atualmente no ar, apenas “Tapas e Beijos” se sobressai e infelizmente está em sua última temporada. Aquele bom “Zorra” deixa saudades, a TV aberta brasileira está carente de bons programas humorísticos que nos apresentam bordões “chicletes” e personagens marcantes, espero que essa safra não acabe jamais, basta bons roteiristas e muita criatividade.

Coluna Sou Telespectador

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