Coluna: SBT tem o rei, mas perde a majestade
Com poucos investimentos nos últimos anos, o SBT vem deixando de apostar em uma de suas mais importantes marcas: os programas de auditório. Um dna que a emissora tem desde a sua fundação, mas que hoje não é mais tratado com o devido brilho e competência.
O rei da televisão brasileira continua com suas colegas de trabalho mas assistiu de camarote a concorrência investir forte em novos programas, enquanto sua emissora estacionou desde a crise de 2008. Record e Globo investiram em novos programas e talentos e hoje colhem os frutos.
O Programa Silvio Santos estreia nos próximos dias um novo cenário e a promessa de transmissão em HDTV, além de novos quadros. Abusando da paciência do público, Silvio Santos viu sua audiência desabar nos últimos anos com quadros tão ultrapassados como as músicas da fictícia “Gravadora Cometa”, que ele faz questão de tocar durante o programa. A melhor atração de Silvio é ele mesmo. Um senhor de 84 anos que perdeu a vergonha, isso se alguma vez teve, e brinca com todos, sem medir as palavras.
Ratinho se reinventou com os anos, se tornando mais sério e menos populesco. Seu programa vinha atingindo boa audiência até a estreia de Gugu na Record, o que fez com que seu programa comece a ser reformulado para voltar a disputar a vice e momentos de liderança. Mesmo com a estreia de Gugu, Ratinho ainda mantém um público fiel que lhe acompanha há mais de 15 anos.
Eliana trava guerra semanal com Rodrigo Faro e muitas vezes acaba perdendo para ele. Sem muitas novidades, Eliana retornou das férias com os mesmos quadros e carece urgente de atrações de impacto e pautas que vão além de vídeos da Internet e dicas de moda. Mesmo concorrente com o futebol em boa parte, a apresentadora não deve apenas investir no público feminino, pois há jovens e homens que também não assistem futebol, principalmente quando seu time não está em campo.
Já Celso Portiolli, que em 2009 chegou a incomodar a Globo com seu Domingo Legal, hoje briga com Geraldo Luís e seu Domingo Show que desde a estréia, no ano passado, poucas vezes perdeu a vice para o SBT, além de alcançar excelentes índices que garantem por diversos minutos a liderança isolada. A produção de Celso até tentou se espelhar no concorrente e emplacar novos quadros e pautas mais chamativas, porém a essência do programa ainda é a mesma e precisa urgente decidir seu futuro.

Por fim, o tradicional Raul Gil, nas tardes de sábado, um mais do mesmo, desde que estreou na telinha. O programa tem sua marca na revelação de talentos e quadros que o acompanham há 30 anos, outros que surgiram a bem menos tempo para dar um contraste entre o velho e o novo. Alcança momentos de vice-líder, porém acaba muitas vezes perdendo para os enlatados da Record.
Uma TV que chegou a ter 80% de programas de auditório que tiveram grande sucesso, hoje conta com cerca de 90h semanais apenas de enlatados e há muito tempo não emplaca programas populares de sucesso, nem mesmo investe em novos apresentadores. Os anos dourados do SBT acabaram com os picos de 30 pontos que Ratinho alcançava após a novela da Globo, os picos de 40 que Gugu alcançava contra Faustão e até mesmo os 35 pontos que Silvio alcançou com o Show do Milhão. O Topa Tudo por Dinheiro, por exemplo, foi um marco na TV, muito além do seu tempo. Os anos são outros, a audiência também, e justamente por isso, é mais do que necessário investir em novidades.
O SBT tem o rei e já teve a majestade. Uma emissora que quer voltar a se isolar na vice-liderança, não pode jamais deixar seu reino morrer deste jeito. Assim como “quem não se comunica se trombica”, quem não se reinventa, perde a realeza.
Júlio César Fantin
julio.imprensa@gmail.com
@jcfantin





