Coluna: Vale a Pena Ver de Novo – Maria Esperança
Em continuidade ao sucesso das novelas da tarde, voltou ao ar na última Segunda-feira (09) a novela “Maria Esperança” na tela do SBT. Sim, existe vida fora da Globo e a consolidada faixa de folhetins vespertinos da Rede de Silvio Santos em uma inteligente estratégia de consolidação, vai muito bem obrigado! A trama é original de 2007 e está em sua segunda passagem pelas tardes, a primeira reprise foi em 2011, e mais uma vez, é a responsável por substituir o estrondoso sucesso de “Esmeralda”. A História da Maria de Barbara Paz é uma das melhores produções da parceria com a Televisa e listaremos bons motivos para você que ainda não viu aproveitar a nova chance de acompanhar a produção, e se já assistiu, vê-la novamente. Tá no ar a sua coluna de cada semana!
Maria é uma moça pobre que trabalha vendendo bilhetes de loteria e flores na rua para sustentar a sua família. Um belo dia, um freguês a beira da morte querendo se vingar de sua ambiciosa família propõe casamento à moça para que ela herde toda a sua herança e, assim, não deixar nenhum centavo aos seus parentes. Na pior, sem condições de pagar o aluguel e alimentar os irmãos mais novos, a bilheteira como é apelidada carinhosamente por seus inimigos, não tem outra saída a não ser aceitar a proposta. Você já conhece essa história, ela já foi contada no Brasil em Maria Mercedes. A “Esperança” trata-se de uma nova versão e o seu principal trunfo é a abrasileirada que o texto recebeu.
Yves Drumont, autor do remake, fez uma história de Maria para brasileiro nenhum por defeito. O conto de fadas de Cinderela moderna e toda a espinha dorsal do original mexicano foram mantidos, bem como as tramas paralelas. Porém o modo que conduziu a narrativa fez toda à diferença. A emoção é o recheio principal, e quantas emoções, a novela nos causa os mais variados tipos de reação e nos faz torcer cada segundo pela felicidade da pobre Maria que sofre poucas e boas mesmo após ficar rica, a coitada não tem paz. É uma novela que te faz vibrar com todos os personagens. Você provavelmente vai se pegar com pena de um, rirá com o jeito de outro, desejará a punição aos ruins e por aí vai.
Bárbara Paz esteve brilhante no papel e deu o tom exato que a personagem precisava. Sem exageros, sua Maria foi brasileira. Lutou, nem sempre venceu, mas nunca deixou de sonhar e tentou de todas as maneiras ser feliz. A produção também se destacou, vimos no vídeo uma moça pobre, sim, que não tinha tantas roupas boas, mas nada de andar como uma molambenta, corrigindo aí, um grande exagero das telenovelas mexicanas, em que é normal por lá uma personagem humilde e com essas mesmas características ser completamente suja e apesar disso, conseguirem conquistar o coração de seu príncipe encantado. A nossa “Esperança” era ver uma menina trabalhadora que dava a vida pelo pão de cada dia, mas limpa, normal, como todo o brasileiro, e foi isso o que vimos.
Tania Bondezan foi uma vilã moderada. Ainda que armasse as maiores artimanhas para por as mãos no dinheiro da garota e se livrar dela, foi natural em seus planos. Nada de mirabolantes armações, nem maquiagens fortes e gargalhas maquiavélicas, a Malvina tupiniquim foi muito superior a original, sem todas aquelas caras e bocas e roupas extravagantes. A megera manipulava os filhos, sempre enganava a boba mocinha e teve muito mais naturalidade, principalmente na hora de cair sem seu próprio feitiço, quando insiste que seu filho case-se com Maria para lhe roubar o dinheiro, e no final acaba os empurrando um para o outro. Na cena em questão, Tânia ficou desesperada e perplexa, mas em nenhum momento gritou histericamente ou quebrou toda a louça da casa.
Seguindo nas correções da nova versão, Renata a mulher que tenta roubar o galã a todo custo, não se veste todos os dias com a mesma roupa e muito menos as troca magicamente como na mexicana. É explicado o motivo de Isabel não ter voltado ao reformatório após ter fugido de lá, e as razões que levaram a sua mãe a abandonar a família, que aparecendo desde o começo, teve a sua história contada paralelamente. Beatriz e Malvina não combinam seus trajes e penteados e Aurélio não é um mordomo de filme de terror. Yves transformou o argumento em uma história de verdade, emocionante e muito superior a original.
Outro acerto foi a sonorização. Mantiveram o artifício típico das telenovelas latinas de usar instrumentais nas cenas. A diferença para os outros remakes da casa está na emocionante trilha que embalou os maiores sofrimentos de Maria, o recurso ajudou a transmitir a emoção necessária, e tiveram trilhas para todos os momentos, respeitando a natureza mexicana da construção. De outro lado, também fez uso de temas brasileiros que embalaram cenas de passagens e muito romance. Altamente executadas, o telespectador com certeza decorou alguma e possivelmente a cantarolou algumas vezes. O narrador “Willy Jr” emocionou os próprios personagens e também o público com o fictício programa de rádio “Fascinação”, inserido na trama.

A abertura é um show a parte. Típico das novelas de Marias, Bárbara interpretou o tema de introdução que retratava a fase pobre e rica da mocinha. A música gruda como chiclete: “Maria, Maria-a”. A iluminação dá o tom correto e a brincadeira com os créditos na parte inicial é bem elaborada e interessante. Considerados por muitos como algo cafona, mas que ilustrou muito bem o tema proposto. E na cafonice, tanto o Brasil quanto o México são bastante chegados.
A novela trouxe ainda temas relevantes como o preconceito da enteada pelo padrasto negro, o projeto de ensinar luta aos meninos carentes, o beatismo frente à religião, a menina de vida “fácil”, casamento por interesse e todo envolvimento e destino tomado tipicamente por moradores de comunidades pobres, como envolvimento com drogas e roubos.
No entanto alguns erros estão presentes na produção. A iluminação um tanto exagerada deixava os atores com o rosto muito claro e gerava uns contrastes de tons não muito bonitos no vídeo. Em cenas ambientadas no cortiço à noite, sem muita claridade, atribuía um ar de maior naturalidade, já nos ambientes de muita luz, soava falso. Outro fator foi a pobreza da produção em reproduzir os cenários da mansão da família Trajano Queiroz, muitas cenas entregam móveis sem nenhuma decoração na sala principal. Já o cortiço foi bem retratado, tanto na fachada como dentro, ainda que às vezes parecesse miserável demais.
Em sua primeira exibição, a novela fechou com média geral de cinco pontos, porém em uma ascendente passagem, começando com baixíssimos dois pontos herdados da atração anterior e graças à péssima divulgação da emissora, que pasmem, nem tinha assessoria de imprensa na época, e apesar de tudo caminhar contra, entregou o horário com ótimos oito pontos e na vice-liderança. Na primeira reprise concorreu inteiramente com a reapresentação de “O Clone” na Globo e não decepcionou, repetiu os mesmos índices que é a meta do horário da tarde, sendo uma das poucas a fecharem com os número inteiros não precisando de arredondamento.
Uma das melhores adaptações do SBT de todos os tempos. Erros, peculiaridades e porque não dizer absurdos do original foram retirados. Personagens bem construídos e todos com história para contar, emocionaram e abrilhantaram a história, que trazia núcleos pequenos como pedia a adaptação, mas bem desenvolvidos, como tipicamente é feito em produções brasileiras. Talvez tanto mérito recaia sobre o autor que soube recontar o enredo de sua maneira, mas sem modificar a essência textual, que soube dosar o abrasileiramento da trama com os pontos fortes originais. Recriaram em Maria Esperança uma mocinha tão carismática e forte como nas telenovelas estrangeiras, que em nenhum momento deixou a peteca cair, tanto em construção como em atuação. O bom elenco fechou com chave de ouro e proporcionou momentos de comoção em cenas emocionantes que serão contadas ao decorrer dos capítulos. Maria luta diariamente, e nós torcemos por ela a cada capítulo transmitido, nos pegamos emocionados e sentindo uma imensa vontade de que o enredo continue contando mais acontecimentos. Uma bela obra dramatúrgica totalmente cativante e emocional. Por isso, se ainda não conhece a trama, assista, apegue-se a nossa Maria brasileiríssima e seja impactado por fortes emoções. Em uma lição em como dar valor às coisas simples da vida, Maria Esperança vale, e muito, a pena ver de novo.
Um muito obrigado ao “Bastidores da TV e a você que prestigiou essa coluna. Até a próxima semana!
Dyego Terra
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