“Não se justifica mais gravar disco”, afirma Martinho da Vila

“Não se justifica mais gravar disco”, afirma Martinho da Vila

O Carnaval de 2018 trouxe combinação de sorte para Martinho da Vila: seu aniversário coincide com o desfile da Vila Isabel na Sapucaí.

Na última vez em que isso aconteceu, em 2013, a escola que ele carrega no nome – e cuja história virou tema de seu CD recém-lançado, “Alô, Vila Isabeeel!!!”- sagrou-se campeã, com samba-enredo sobre a vida no campo, do qual ele era um dos autores.

Martinho faz 80 anos. Além de comemorar no desfile da Vila Isabel –previsto para a madrugada da última segunda-feira (12) -, ele também foi homenageado pela paulistana Unidos do Peruche, que teve o cantor como enredo.

As comemorações das oito décadas de vida continuarão ao longo do ano (há documentário, musical e outros projetos em andamento), mas Martinho está relaxado.

Em conversa com a “Folha de S. Paulo”, o sambista insinuou estar entrando numa fase de pausa.

Após 50 discos lançados, não vê mais sentido em gravar álbuns (“Não vende”). Tampouco exercerá neste ano sua outra paixão, a literatura –tem 15 livros publicados.

Disse ainda estar de férias do noticiário, mas, provocado, fala sobre a condenação de Lula, os ministros do Supremo Tribunal Federal e a prisão de Sérgio Cabral, que ele conhece desde criança.

Durante toda a entrevista, manteve o sorriso constante, mesmo quando falou de assuntos que lhe consternam, como o preconceito racial que já sofreu. “Você vê o retrato do governo do Brasil, de qualquer Estado ou prefeitura, não tem negros.”

Confira o desabafo:

Hoje não se justifica mais gravar um disco, não vende, a arrecadação não paga o custo de produção. Voltamos à época do compacto simples [risos], como meu primeiro disco. Você grava duas músicas e tenta botar nas redes sociais. Às vezes elas andam.

Em 2016, eu já não ia mais gravar. Planejei fazer um disco particular, uma coisa miúda, só com violão e cavaquinho. E pensei também em fazer um disco da Vila Isabel, em que se contasse a história dela por meio dos sambas. Tinha que falar com a Sony Music, e o presidente, o [Paulo] Junqueiro, falou “não, Martinho, faz um disco que seja um disco bacana, a gente produz” [“De Bem com a Vida”, 2016].

Aí falei do da Vila Isabel e ele me disse para fazer também. Conta a história da escola desde o início. Ouvindo os sambas você tem noção de como ela foi fundada, o perfil de seus componentes, sua ansiedade para ser campeã.

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