Band acumula R$ 1,2 bilhão em dívidas e gera crise familiar

Band acumula R$ 1,2 bilhão em dívidas e gera crise familiar

Desde que seu pai morreu há quase 20 anos, João Carlos Saad tem sido o rosto e o pulso firme que lidera a Rádio e Televisão Bandeirantes.

Mas agora, pela primeira vez sua liderança está sendo questionada pela família, preocupada com a capacidade da Band de resistir a uma dívida bancária cada vez mais impagável e ao cenário desafiador para a mídia tradicional.

Num processo que corre na Justiça, as irmãs Marcia e Leonor Saad pedem que os tribunais removam Johnny da liderança do grupo e obriguem a Band a iniciar um processo de profissionalização.

A ação expõe pela primeira vez os bastidores dos Saad — e as dificuldades de uma companhia familiar em concordar sobre o que é melhor para seu destino comum: deixar como está e aguardar resultados diferentes, ou romper com duas décadas de uma gestão que mistura negócios privados com a gestão da empresa.

A história de como as irmãs Saad perderam a paciência e tomaram a decisão dura de se voltar contra o irmão começa em 2014, quando os Saad assinaram um acordo de acionistas pela primeira vez.

São cinco os Saad que podem chamar a Band de sua: Johnny, Ricardo, Marisa, Marcia e Leonor. Cada um tem 20% da empresa fundada pelo pai, João Jorge Saad. A mídia entrou na família pelo lado da mãe: o velho Saad casou-se com Maria Helena, filha do então governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Nas décadas seguintes, o genro transformou a rádio do sogro — a Bandeirantes — num império de comunicação.

Em 2014, com a situação da empresa se deteriorando, alguns irmãos pressionaram por um acordo de acionistas. O contrato previa duas coisas: o cargo de CEO teria que ser renovado a cada três anos, e a Band contrataria um CFO externo para começar a profissionalizar sua gestão.

Mas como a maioria dos grupos familiares de mídia, a Band resiste a se reinventar. A empresa é descrita por atuais e ex-funcionários como uma estatal tecnicamente falida, em que diretores ganham salários acima do mercado, não entregam resultados e mal são cobrados por metas. Dos 3.200 funcionários, mais de 50 têm o crachá de diretor.

A dívida do Grupo Bandeirantes de Comunicação, segundo informa o site “Brazil Journal”, é de R$ 1,2 bilhão. O valor é oito vezes maior que a geração de caixa das empresas e envolve dívidas com afiliadas e a TV Globo.

“Da dívida total, cerca de R$ 800 milhões estão nas mãos do Banco do Brasil, Bradesco e em debêntures carregadas por bancos como o BTG Pactual e a Caixa. Outros R$ 400 milhões são devidos a fornecedores — há até uma dívida com a Globo, por direitos de futebol devidos e não pagos”, detalha a reportagem de Geraldo Samor.

Em abril de 2018, os bancos concordaram em dar à Band um ano de carência no principal da dívida. Os credores aceitaram a trégua porque a companhia se comprometeu a fazer uma restruturação financeira e operacional, sem a qual não conseguirá honrar os compromissos.

Dentro e fora da Band, pessoas que conhecem a situação da empresa dizem que Johnny resiste às mudanças. “Ele faz uma gestão antiga, com pessoas que estão lá há 30, 40 anos e não entenderam que o business da televisão mudou,” diz um ex-executivo. “Não dá pra fazer televisão como se ainda estivéssemos nos anos 90.”

Com dívidas reperfiladas vencendo em abril de 2019, os credores estão cada vez mais nervosos. Para piorar, na semana passada, a VP financeira encarregada das negociações pediu demissão. Num comunicado interno, Johnny disse que ela estava saindo para se dedicar a “projetos pessoais”.

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