TV Globo decide substituir pessoas por robôs em telejornais

TV Globo decide substituir pessoas por robôs em telejornais

A TV Globo tem feito testes no estúdio de vidro dos jornais locais de São Paulo para que eles passem a contar com câmeras-robô, operadas por controle remoto. A medida visa modernizar e economizar. Na semana passada, a emissora desligou 20 nomes que trabalhavam na área técnica.

Segundo informações do site “Notícias da TV”, os testes começaram em abril, sem que uma parte dos profissionais soubessem –o que causou um clima de apreensão em parte da equipe técnica e até de produção dos noticiários. A intenção do conglomerado de mídia brasileiro é colocar as câmeras no estúdio panorâmico da capital paulista até o fim de junho. 

Por enquanto, a troca fica restrita apenas ao local de onde são feitos os telejornais “Bom Dia São Paulo”, com apresentação de Rodrigo Bocardi; o “SP1”, de Alan Severiano; e o “SP2”, de José Roberto Burnier.

Noticiários nacionais que são feitos de São Paulo, como o “Jornal Hoje”, de César Tralli, e o “Jornal da Globo”, de Renata Lo Prete, seguem com câmeras de operação humana; por não há espaço para a substituição do equipamento no estúdio. 

A iniciativa da emissora líder de audiência começou no megaestúdio do “Jornal Nacional”, inaugurado em 2017. Ele é totalmente produzido por lentes robóticas, sem a presença de profissionais no local.

Pela tecnologia, a câmera-robô é controlada através de um joystick bastante parecido com os usados para videogames. Um profissional fica no centro de comando do telejornal ou do programa específico, e molda o enquadramento e outras funções necessárias à distância. 

Ao site “Notícias da TV”, a TV Globo confirmou que tem feito os testes no estúdio e diz que isso faz parte do processo de evolução e inovação das comunicações. Além do Jornalismo, a empresa comentou que já usa o expediente de câmeras automatizadas em produções do entretenimento, principalmente no reality show “Big Brother Brasil”. 

Veja o comunicado da emissora na íntegra: 

“A inovação e o processo de evolução na sua forma de produzir conteúdo estão no DNA da Globo. 

Com o objetivo de levar a melhor experiência para o público, a Globo realiza com frequência testes de novas tecnologias, sejam câmeras, refletores, sistemas de áudio e afins. 

Os testes com câmeras-robôs acontecem com base nesta premissa. Utilizamos há anos esse tipo de câmera no JN, o que trouxe uma estética mais moderna para o jornal. 

No BBB, por exemplo, tivemos mais de 60 câmeras-robô em operação, e isso não significa necessariamente redução de operadores de câmera.”

Grupo Globo tem alta na receita e lucra R$ 1,25 bilhão

A Globo Comunicação e Participações (GCP), maior empresa de mídia do Brasil, encerrou 2022 com lucro líquido de R$ 1,253 bilhão, após prejuízo de R$ 174 milhões em 2021. O resultado do ano passado foi garantido em cenário difícil, marcado pela guerra na Ucrânia e seus reflexos nas economias brasileira e mundial. Apesar do contexto adverso, a Globo teve bom desempenho operacional em 2022. Registrou receita de vendas de R$ 15,1 bilhões, alta de 5% sobre o ano anterior. O número foi assegurado pelo crescimento de 8% na receita com publicidade, com destaque para a publicidade digital, que avançou 33% sobre 2021. “Foi o maior faturamento em publicidade digital da história da empresa”, disse Manuel Belmar, diretor das áreas de finanças, infraestrutura e jurídico da Globo, em entrevista ao site “Valor Econômico”.

O Globoplay, plataforma de streaming da Globo, também se destacou: houve crescimento de 27% na base de assinantes e acima de 30% nas receitas em 2022, o que contribuiu para o resultado no segmento de conteúdo da GCP. Da receita total da empresa, 60% correspondem à publicidade e 40% à área de conteúdo. Em 2022, a receita com conteúdo ficou praticamente estável, com queda de 1% no ano, disse Belmar. Ele salientou que o crescimento do Globoplay é importante para compensar a tendência de queda na TV paga.

O resultado final da GCP se explica por vários fatores. Houve forte geração operacional de caixa e, ao mesmo tempo, crescimento de receitas. Também contribuiu um resultado financeiro positivo de R$ 627 milhões no ano. Outro elemento fundamental para o lucro foi a venda da Som Livre, fechada no ano passado. A soma desses fatores levou ao lucro de R$ 1,253 bilhão no ano mesmo com um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) negativo em R$ 41 milhões no acumulado de 2022.

Belmar disse que a liquidação dos direitos da Copa do Mundo da Fifa 2022 jogou contra o resultado da GCP no ano passado. Os compromissos com a Copa foram responsáveis pelo aumento de 5% nos custos com vendas e despesas operacionais em relação a 2021. Mas Belmar ressalvou que o quarto trimestre de 2022 foi o melhor em muitos anos da Globo em termos de vendas com publicidade, embora não suficiente para compensar o efeito da amortização dos direitos de transmissão da Copa do Qatar.

No acumulado de janeiro a setembro de 2022 a GCP tinha um Ebitda positivo de R$ 753 milhões. No quarto trimestre, a empresa amortizou pagamentos dos direitos da Copa do Mundo, o que levou o Ebitda acumulado para os R$ 41 milhões negativos no ano, embora 66% menor em relação aos R$ 121 milhões negativos de 2021.

No ano, a GCP, uma holding operacional, investiu R$ 6,5 bilhões, montante que será mantido em 2023, adiantou o executivo: “Reafirmamos, em 2022, os investimentos em conteúdo e em tecnologia. E temos a expectativa, apesar do quadro de incertezas no cenário econômico do país, da manutenção dos investimentos, fortalecendo o streaming [o Globoplay], a TV paga e aberta, e operando em todas as frentes de distribuição. Vamos buscar repetir, em 2023, grandes sucessos que tivemos em 2022. Foram apostas que trouxeram resultado de audiência, alcance e relevância para nossas propriedades [marcas]. Houve excelente edição do BBB, extraordinários resultados com o conjunto das novelas, em particular Pantanal. E tivemos boa repercussão com o lançamento da série Todas as Flores, no Globoplay”, disse Belmar.

Para 2023, a Globo reforça o objetivo da empresa de ser “vídeo premium”, conceito que consiste em distinguir as plataformas de mídia capazes de gerar valor para os anunciantes com oferta qualificada e aliando conteúdo, soluções premium, métricas confiáveis e ambiente seguro.

A aposta é lastreada em investimentos. Em 2022, a GCP investiu R$ 5 bilhões em conteúdo, o que inclui gastos com talentos e direitos de transmissão e exibição, e R$ 1,5 bilhão em tecnologia. Os desembolsos se justificam dentro da estratégia de transformação digital que vem sendo desenvolvida pela empresa desde 2019 para atuar como “media tech company”, com foco tanto na produção de conteúdo como de tecnologias que permitam fazer ofertas mais adequadas ao público, de acordo com as suas preferências.

Os resultados operacionais da GCP também mostram que o portfólio digital da Globo continua a crescer em linha com a estratégia D2C (“direct to consumer”), modelo que privilegia a relação direta com o consumidor e que passa a coexistir com o B2B (“business to business”), sistema de negócios entre as empresas. A GCP reúne ativos de televisão aberta e fechada e um amplo portfólio digital que inclui Globoplay, globo.com, G1, GE e Gshow, entre outras propriedades de mídia. A GCP integra o Grupo Globo, formado também por Editora Globo, Globo Ventures, Sistema Globo de Rádio e Fundação Roberto Marinho. A GCP tem 13 mil colaboradores.

Belmar disse que mesmo com a conjuntura adversa de 2022 – a guerra na Ucrânia ajudou a espraiar a inflação pelas economias e provocou um choque nos juros -, a Globo conseguiu continuar capturando ganhos de eficiência, produtividade e sinergias, importantes para assegurar recursos a serem aplicados em conteúdo e tecnologia.

“Em 2023, vamos continuar na mesma linha, apesar do cenário de incertezas com a falta de definições no arcabouço fiscal, na reforma tributária. Mas a Globo segue firme no processo de transformação e vamos procurar, como fizemos em 2022, manter a disciplina de custos, e focar na alocação mais adequada de capital para todos os investimentos, em especial em um contexto em que as taxas de juros estão altas e o cenário da economia é diferente do que tínhamos no começo de 2022 [antes da guerra na Ucrânia]”, disse Belmar.

Um exemplo da confiança da Globo no país, disse, está no anúncio de que comprará participação acionária na Eletromídia, empresa de publicidade “out-of-home” (especializada em formatos que alcançam o consumidor fora de casa, em um negócio complementar ao da GCP). A operação foi anunciada neste ano.

Pelo lado da dívida, a Globo está confortável. Em 2022, a GCP captou US$ 400 milhões em um bônus de dez anos atrelado a metas ambientais de redução de emissão de gases do efeito estufa, transação que está em linha com a agenda ESG (temas ambientais, sociais e de governança corporativa) da companhia. A operação permitiu à Globo não ter dívidas vencendo até 2030 e 2032, disse Belmar. No fim de 2022, a empresa tinha dívida de R$ 5,5 bilhões e caixa de cerca de R$ 15 bilhões. Belmar também indicou que, em abril, a GCP vai distribuir o segundo relatório ESG com informações sobre os avanços da empresa com base na agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU).

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