Coluna: Afiliadas de emissoras de TV podem virar redes independentes
Em breve a TV analógica deixará de existir no Brasil, dando lugar a TV Digital, hoje já disponível em praticamente todas as cidades de médio e grande porte. Com um sinal de melhor qualidade, o futuro das afiliadas de grandes redes de televisão pode ter um novo panorama. Ao mesmo tempo que Globo, SBT, Record, Band e RedeTV! concorrem entre si, grandes grupos regionais poderão ser em breve concorrentes das cinco maiores emissoras, criando suas próprias redes de televisão independente. Com o sinal digital, as emissoras podem atingir um maior número de telespectadores.

A realidade atual já facilita a vida de emissoras menores. Há no mercado muito produto disponível para preencher a grade de emissoras que um dia pretendam se emancipar. Produtoras de filmes nacionais e internacionais, séries e novelas, hoje raramente possuem contratos de exclusividade com as cinco maiores televisões do Brasil. Muitas compram obras avulsas, o que em muitos casos pode ocorrer com as futuras novas redes. Tomando o México como exemplo de tramas latinas, tirando a Televisa que possui contrato com o SBT, a sua concorrente Azteca está disponível no mercado com bons produtos que podem ser vendidos a estas emissoras, a exemplo do que já ocorreu com a CNT, antes de ser lotada por programas evangélicos.
No Norte-Nordeste, a antiga afiliada da Band, a TV Meio Norte, deixou sua antiga rede para virar independente, cobrindo o Estado do Piauí e praticamente toda região Nordeste. Com estúdios em Teresina e São Luís, a emissora já chega em capitais fora da região, como Belo Horizonte e via satélite para todo Brasil. Na Bahia, a TV Aratu, afiliada do SBT, já possui maior autonomia de programação local do que muitas afiliadas, produzindo programas regionais e tendo no casting nomes como Carla Perez. No Carnaval, deixa a rede de lado e faz sua própria programação, alcançando grande êxito. Em Belo Horizonte, a TV Alterosa é outra que tem forte potencial de seguir em breve caminhos solos. Mesmo sem esporte no SBT, a rede mineira mostra sua força e transmite campeonatos regionais. Seus programas locais, muitas vezes alcançam índices maiores do que a programação nacional. O Vrum, transmitido pelo SBT em rede nacional, é um dos produtos produzidos pela emissora mineira, um grande trunfo para uma afiliada.

No Sul, a RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, possui também sua TV regional, a TVCom, presente na Grande Porto Alegre e Grande Florianópolis. Com uma das maiores audiências da Rede Globo, a RBS dificilmente deixará de se desfiliar, porém, caso um dia se decida, tem capacidade para se tornar uma grande rede de televisão independente, abrangendo toda a região Sul. O Grupo RIC, afiliada da Record em SC e PR, também tem condições de seguir o mesmo caminho e diferente que a RBS, tem maiores condições de futuramente se emancipar, devido os números de audiência da programação nacional, serem muitas vezes inferiores a sua programação local. Mesmo estando apenas no Paraná, caso Ratinho deixe de ser sócio do SBT, sua Rede Massa certamente atingiria todo o Sul do Brasil com facilidade. Seu filho já concorre para uma nova concessão no Nordeste e Ratinho tem uma imagem muito forte em todo Brasil, com possibilidades de formar uma grande rede de televisão, com nomes conhecidos.

Com uma programação praticamente toda voltada ao eixo Rio-São Paulo, as grandes redes de televisão deixam de lado o regionalismo e mesmo que a verba publicitária esteja em maior parte no Sudeste, deixar as afiliadas praticamente desoladas pode causar em breve uma rebelião. A maior parte das publicidades e dos horários ficam com a cabeça de rede e dificilmente há um retorno das grandes redes em investimentos nas afiliadas. Muitos programas não dão certo em determinadas regiões, muitos eventos deixam de ser transmitidos por falta de horário na grade e o comodismo de ter uma grade padronizada, não é mais garantia de rentabilidade e prestígio. Cada vez mais, as pessoas pensam global, mas agem local. A TV Gazeta, outro exemplo, uma emissora pequena mas que consegue se manter mesmo tendo seu foco unicamente em São Paulo. A velha tática do rádio, ainda se enquadra muito no futuro da TV aberta no Brasil. “Hoje é um novo dia… e o futuro já começou”!
Júlio César Fantin
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