Coluna: Quando o Jornalismo se mistura com um humor de péssimo gosto!
Já foi a época onde os grandes noticiários e programas jornalísticos tinham como arma principal, produções caprichadas e a notícia propriamente dita como tema principal.
Deixando de lado o sistema de apresentação criado pela Rede Globo, onde os âncoras transmitiam os acontecimentos do dia de forma sisuda e bastante tradicional, as emissoras de TV buscam conquistar números no ibope e para isso não existem limites, para piorar ainda mais esse circo jornalístico, a audiência nem tanto qualificada, vem a cada dia conquistando ainda mais a atenção dos telespectadores.
A poderosa Rede Globo que sempre se manteve imbatível , seguindo um padrão de qualidade criado há anos pela própria emissora, se viu obrigada a deixar seus noticiários mais descontraídos e menos responsáveis pelas notícias que são exibidas ao longo de sua programação e isso se deve ao crescimento da concorrência que usa e abusa do tema para brincar com telespectador, fazendo sempre com que o foco principal deixe de ser os acontecimentos do dia em meio a um circo repleto de sangue, risadas e opiniões sem nenhum embasamento jornalístico.
O novo Jornal Nacional, reformulado em comemoração aos 50 anos da emissora, já demonstra uma leve mudança, onde agora os apresentadores deixam a bancada para conversas informais com seus correspondentes e até a previsão do tempo, antes tratada de forma séria, passou a ser transmitida ao vivo sob o comando de Maria júlia Coutinho, apelidada carinhosamente pelos âncoras do telejornal de Maju e assim mostram que até a mais poderosa das emissoras brasileiras entrou na onda da descontração.

A Rede Record que bate a todo instante no peito, para dizer que é a emissora que mais exibe jornalismo em sua programação, usa e abusa dessa formula um tanto questionável, pois além de exibir matérias requentadas como se fossem inéditas praticamente em todos os telejornais da casa, trás em seus noticiários âncoras que mais parecem apresentadores de programas de auditório. Marcelo Rezende uma das maiores audiências do canal de Edir Macedo, transformou-se em um animador da desgraça alheia, em meios a reportagens pra lá de sensacionalistas, o apresentador brinca, provoca seus companheiros de equipe e o que era para ser notícia vira piada, daquelas difíceis de digerir.
A mesma emissora que exibe durante o dia em todo território nacional, uma infinidade de programas populares, recheados de sangue, fofocas e risos, tornou-se uma mistura tão incomum como água e óleo.

O SBT que firmou seu nome no jornalismo na década de 80 com a chegada de Boris Casoy no comando do extinto TJ Brasil, passou por todas essas vertentes, trazendo o famoso e não menos sensacionalista Aqui Agora em 1991, telejornal que durante anos, conquistou números estratosféricos de audiência para a emissora, mas que ao longo do tempo perdeu força, assim como todo o conteúdo jornalístico da emissora. em 2005 com a chegada de Ana Paula Padrão a emissora de Silvio Santos ganhou um novo fôlego, porém após a partida da apresentadora para a TV Record, o SBT voltou a produzir um jornalismo morno e com menos destaque para o que realmente interessa e mesmo com a estreia de Rachel Sheerazade, o que o canal conseguiu foi um alarde gigantesco nas redes sociais através dos comentários da apresentadora, hoje proibido pelo canal, em contrapartida na TV, pouca coisa mudou.
Pouco tempo atrás, programas jornalísticos recheavam a programação das emissoras de TV e produtos de qualidade como o extinto SBT Repórter comandado durante anos por Hermano Henning, Marília Gabriela e mais recentemente por Cesar Filho, não atraiam a atenção do publico de forma que foi retirado do ar. Voltando um pouco mais no tempo, podemos relembrar o famoso e bem produzido Documento Especial, comandado por Nelson Hoineff, com passagens pela Rede Bandeirantes, Manchete, até chegar ao SBT, neste programa que extinguia o uso de repórteres, grandes reportagens foram exibidas e durante anos o programa marcou época pelas emissoras em que esteve presente.

Depois de deixar a bancada do SBT Brasil, ainda enquanto permanecia na emissora, Ana Paula Padrão, trouxe para a tela da TV o SBT Realidade, programa jornalístico ancorado e dirigido pela apresentadora. Com temas bastante interessantes e produzidas a toque de caixa, o programa não caiu nas graças do público e durou pouco na emissora de Sílvio Santos.

O Globo Repórter um dos mais antigos e tradicionais programas jornalísticos da emissora, se mantém firme na tela da Globo, mas foge de temas polêmicos e ficou tradicionalmente conhecido por matérias com teor mais de entretenimento do que propriamente jornalístico.

Uma nova leva de programas voltados ao tema foram criados nos últimos anos e alguns com conteúdo bastante interessantes e com uma nova linguagem, um exemplo recente é o programa A Liga da TV Bandeirantes, que buscava mostrar fatos bastante complexos, mas de forma imparcial, onde os repórteres viviam por alguns dias a vida daqueles que eram tema do programa, porém depois de inúmeras mudanças na equipe, o programa também acabou caindo no esquecimento e hoje sem grandes pautas, perdeu sua essência principal. Na Rede Globo a chegada do Profissão Repórter deu um gás a emissora, por mostrar um jornalismo mais denso, além da exibição dos bastidores da notícia, com repórteres em inicio de carreira narrando suas experiências e aflições, o jornalístico se firmou como uma boa opção para aqueles que buscam uma a notícia exibida de forma séria e com uma produção um tanto requintada.

Com o retorno de Roberto Cabrini ao SBT com seu conexão Repórter, pudemos acompanhar uma produção caprichada com temas polêmicos, sem cair no sensacionalismo barato, tudo muito bem amarrado pelo experiente Cabrini, porém em meio a matérias de grande repercussão, o programa escorrega ao usar personalidades da mídia que tornam-se tema do programa, utilizando um espaço que poderia ser melhor aproveitado por assuntos de maior relevância e alimentando aqueles telespectadores que ainda optam por produções mais sérias e com conteúdo mais interessante.

A verdade é apenas uma, se hoje o jornalismo virou um circo de notícias é porque existe público para esse tipo de produção e isso talvez se deva ao “emburrecimento” por parte da população que se alimenta de produções que não questionam e simplesmente fazem seu papel de brincar com acontecimentos que mereciam um tratamento um tanto mais adequado, mas que por outro lado já não são mais prioridades por aqueles que produzem e principalmente por aqueles que assistem.
Que abram as cortinas, o picadeiro da notícia esta no ar!
Lucca Cardoso
Formado em Radio e TV pela Universidade Cruzeiro do Sul
Educador da disciplina Cultura Digital
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Twitter : @LuccaCardoso
