Análise: O verdadeiro silêncio do SBT na despedida de Gugu Liberato

Análise: O verdadeiro silêncio do SBT na despedida de Gugu Liberato
Gugu foi para Silvio Santos, o "filho homem" que ele não teve.

Fazer TV nas décadas de 80 e 90, anos de ouro para Gugu Liberato, não é o mesmo de fazer televisão nos dias de hoje. Se em 1986 Silvio Santos ordenou que o SBT fosse tirado do ar por 24h em homenagem ao falecimento do apresentador Flávio Cavalcanti, tal atitude nos dias atuais chegou a ser cogitada mas dificilmente ocorreria. Os prejuízos financeiros de qualquer emissora seriam desastrosos. No dia em que o Brasil se despede de Augusto Liberato, de 60 anos, pupilo de Silvio Santos por 35 anos, a imprensa chegou a cogitar a mesma iniciativa de Silvio Santos, mesmo Gugu tendo trocado sua emissora pela Record TV, há dez anos, num momento de crise financeira e de audiência do SBT, atraído por uma proposta irrecusável da concorrente, tendo o aval do eterno Patrão para realizar a inimaginável mudança.

Com todo respeito às filhas do Homem do Baú, mas Gugu foi para Silvio Santos, o “filho homem” que ele não teve.

Toda a genialidade de Gugu talvez nunca fosse conhecida pelo povo brasileiro, que hoje se sente órfão do sempre alegre sonhador que escrevia cartas para um mito televisivo a fim de comover seu coração e ter a rara oportunidade de se transformar em pouco tempo, o próprio mito. Os sábados agitados do “Viva a Noite” e badalados do “Sabadão Sertanejo”, aos domingos inesquecíveis do “Domingo Legal”, fases cruciais e históricas de um verdadeiro fenômeno em tudo que idealizava e apresentava na TV jamais saíram da memória do telespectador. Gugu trocou de emissora, não apenas atraído por milhões de reais e uma melhor estrutura, mas também pensando no próprio futuro. Ao formar uma família, não queria ser o herdeiro dos domingos do SBT. Aceitou apresentar programas por temporada na Record justamente porque estava focado na família. Fama e dinheiro não eram mais o primordial para sua vida. Nestes dez anos, Gugu chegou a ensaiar sua despedida nas telinhas ao ficar quase dois anos afastado da sua atual emissora.

SBT homenageou Gugu no último domingo, mas optou por não interromper sua programação para mostrar a triste despedida de um dos seus mais alegres capítulos de sua história.

Assim como aconteceu com Hebe Camargo, que teve grande parte da sua história vinculada ao SBT e acabou trocando a emissora pela Rede TV, Gugu foi importante para a nova casa, mais do que ela foi importante para sua carreira. Ter Gugu no casting era um sonho da Record. Foram dez anos de dedicação e diversos projetos, mas por mais estrutura e vontade de ambas as partes, Gugu nunca teve o mesmo êxito na nova casa. O telespectador ainda hoje, no dia da despedida de seu ídolo ainda não assimilou uma mudança que ocorreu há uma década. Na despedida de Hebe Camargo, o SBT realizou uma extensa cobertura do velório. Tal fato também aconteceu com o adeus ao eterno menino do barril (Chaves). A morte de Gugu, no entanto, foi praticamente ignorada na programação do SBT, nesta quinta (28), dia em que o corpo do apresentador chegou ao Brasil e seu velório é realizado na Assembléia Legislativa de São Paulo. Todas as emissoras, inclusive a Globo, destacaram o triste acontecimento em sua programação, com exceção do SBT que seguiu sua programação normal, optando pelo silêncio, o que acabou dividindo opiniões na internet. Há quem diga que a emissora fez certo respeitar o momento e não derrubar toda sua grade apenas para obter altos índices de audiência. Há quem classificou a decisão como um ato de ingratidão do canal que transformou Gugu em um ícone.

O temperamento de Silvio Santos no comando do SBT sempre foi oscilante. Silvio Santos, prestes a completar 89 anos, não é mais o mesmo da década de 80. Após várias perdas como a do amigo Lombardi, Silvio Santos preferiu o silêncio, não apenas em respeito a família do apresentador, mas principalmente ao seu eterno pupilo. Não existe nada mais profundo do que o silêncio. Tal sentimento demonstra uma única verdade, por mais que muitos não entendam, assim como um pai e uma mãe jamais pensariam em enterrar um filho, Silvio Santos nunca imaginou enterrar seu mais brilhante afilhado. O sempre sorridente menino que seguiu os ensinamentos do eterno Patrão, com todo respeito aos demais amigos famosos que já partiram, abalou como nenhum outro, os sentimentos mais profundos e fraternos do até então sempre forte Senor Abravanel. Ouça o silêncio que agora bate intensamente no peito e entenderá o que ele representa…

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*Escrito pelo jornalista Júlio César Fantin – Bastidores da TV

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