Análise: Por que Silvio Santos transformou o SBT em “Sistema Bolsonaro de Televisão”

Antes mesmo de assumir a presidência da República, Jair Bolsonaro (sem partido), já declarava guerra ao Grupo Globo. Ao tomar posse, retirou verbas milionárias da TV Globo que por décadas recebeu a maior fatia publicitária do governo federal, deixando Record e SBT em desvantagem na receita anual. Hoje, a líder de audiência passou para o terceiro lugar em publicidade estatal e SBT e Record passaram a dividir a maior fatia do bolo publicitário. As emissoras do bispo Edir Macedo e do comunicador Silvio Santos passaram de coadjuvantes a protagonistas do governo Bolsonaro. A RedeTV, sócia das duas redes na empresa Simba Content (que comercializa o sinal digital dos três canais para a TV paga), também entrou na repartição do bolo, assumindo a bandeira de pró-governo.

Nesta última semana, o marido da apresentadora Patrícia Abravanel (filha 4 de Silvio Santos), foi anunciado como ministro das comunicações. Fábio Faria (PSD), será o titular do recém-recriado Ministério das Comunicações – justamente por ser genro do maior comunicador do país, segundo o próprio presidente declarou. Dias após ser eleito presidente em 2018, Silvio Santos recebeu o telefonema de Bolsonaro no Teleton e desde então rasga elogios ao mandatário. Bolsonaro e sua turma se tornaram convidados nos principais programas de auditório do SBT e o até então bravo jornalismo da emissora passou a ser mero assessor de imprensa do presidente e do seu governo. Faria terá como uma das funções chefiar as verbas publicitárias do governo e distribuí-las segundo critérios do presidente para veículos de comunicação como o SBT- um dos maiores beneficiados até o momento com os recursos públicos via Secom, Caixa, BB, Correios e Petrobrás. Como já ocorre há 39 anos, a emissora de Silvio Santos sempre se posicionou como pró-governo. O jornalista Roberto Cabrini, meses antes das Eleições 2018 já havia dedicado um programa especial para apresentar Bolsonaro ao público. Um novo programa foi exibido após o atentado sofrido pelo novo presidente. No dia 29 de outubro daquele ano, o “Conexão Repórter” voltou a dedicar um programa especial para Bolsonaro.
Silvio Santos deve as concessões da TVS e da extinta TV Tupi ao presidente Figueiredo. Por muitos anos, a emissora transmitiu a “Semana do Presidente “ como forma de “agradecimento”. Silvio Santos que completará 90 anos em dezembro, nunca escondeu sua filosofia. Seja lá no início com Figueiredo ou mais recentemente com Lula, Dilma e Temer, aos dias atuais com Bolsonaro; Senor Abravanel faz questão de lembrar que administra uma outorga do governo e que sua missão não é criticar e sim trabalhar em apoio ao presidente e seus planos de poder.
Emissoras parceiras se unem por recursos públicos

Em novembro de 2018, esta coluna do Bastidores da TV, já adiantava o que se confirmaria meses depois. Record, RedeTV e SBT, historicamente, compactuam visões semelhantes e posicionamentos conjuntos há pelo menos 17 anos. As três redes se posicionaram, em 2003, contra Globo e Band (que queriam o uso de recursos do BNDES para o pagamento de dívidas das emissoras). Anos depois, foi criada a “Simba Content”, uma programadora que passou a vender o sinal digital dos três canais para as operadoras de TV por assinatura. Hoje elas estão unidas novamente para defender o presidente e seu governo, simplesmente porque compactuam com a mesma visão: os recursos públicos de publicidade destinados à TV aberta devem ser distribuídos por “afinidade” e não por audiência. Com isso, o “mito” ganha um apoio essencial para doutrinar os servos do “bolsonarismo” e em contrapartida, as emissoras ajudam “a melhorar o Brasil”. Por mais bizarras ou incoerentes as decisões de Bolsonaro, o que vale no jogo é o embate entre os “carneirinhos” (Simba Content) e a malvada “raposa” (#GloboLixo). Manchete (hoje RedeTV), SBT e por último a Record sentiram na pele a força das Organizações Globo. Lutaram contra o monopólio e o poderio econômico e historicamente foram os maiores concorrentes da “toda poderosa” na audiência.
A Manchete faliu. O SBT teve que operar décadas no vermelho para se tornar competitiva e a Record tentou sem sucesso, por vingança, chegar “ao caminho da liderança“, graças a uma ajuda que caiu dos céus. Mais do que aliados, os três canais são para Bolsonaro os soldados perfeitos para que o “Capitão Caverna“ permaneça vivo na guerra.
Siga/Participe:
E-mail: colunajuliofantin@gmail.com
Twitter: @jcfantin
Facebook: @eusouojulio
Instagram: @juliocesarfantin