Coluna: A história se repete, “Carrossel” volta a ser o maior pesadelo de Gilberto Braga

Coluna: A história se repete, “Carrossel” volta a ser o maior pesadelo de Gilberto Braga

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Dizem os estudiosos que um raio nunca cai no mesmo lugar, para o autor de novelas Gilberto Braga caiu! Um raio chamado Carrossel. Em duas oportunidades a novelinha infantil conseguiu ser a dor de cabeça do autor, com personagens carismáticos acabou ofuscando seus trabalhos no horário nobre da Rede Globo. Tanto “O Dono do Mundo” quanto “Babilônia” tiveram os alunos da Escola Mundial como grandes rivais.

A novela “O Dono do Mundo” estreou no dia 20 de maio de 1991, no mesmo dia que “Carrossel”, essa era justamente a ideia de Silvio Santos, estrear a novela junto com a da Globo para poder roubar telespectadores órfãos da mediana “Meu Bem, Meu Mal” de Cassiano Gabus Mendes.

A novela de Gilberto Braga contava a historia do poderoso cirurgião plástico Felipe Barreto (Antônio Fagundes), atraído pela simplória professora Márcia (Malu Mader), noiva de um funcionário de sua clinica. Essa fascinação aumenta quando Felipe descobre que Márcia é virgem e aposta com o gerente da clinica que será ele o primeiro homem a transar com a professora. Em plena lua de mel, Felipe consegue seduzir Márcia e por iniciativa dela mesma acaba transando com a recém – casada antes de seu noivo.

Com esse enredo polêmico, a novela escandalizou o Brasil. Gilberto Braga não imaginava que a virgindade ainda fosse considerada um tabu no inicio dos anos 1990. Foram diversas manifestações contra a trama, culminando em uma queda significativa de audiência, atingindo baixos índices de audiência. Por incrível que pareça, o personagem de Antônio Fagundes não foi visto como um vilão pelos telespectadores. Segundo um grupo de discussão organizado pela Globo , o fato do personagem ser homem não seria errado ele conquistar uma mulher, mesmo sendo noiva de um de seus funcionários.  O mesmo não ocorreu com a professora Márcia que foi bastante criticada por ser uma mulher adultera e sem vergonha. Gilberto Braga reconheceu que essas opiniões eram expressadas por uma sociedade machista.  A novela precisou ser reescrita.

Enquanto a novela das oito da Rede Globo pegava fogo nos bastidores, no SBT uma novela simples e ingênua começava a ser exibida. Vinda direto do México, Silvio Santos começa a exibir em sua emissora “Carrossel”. A querida e inesquecível professora Helena (Gabriela Rivero ) era bem diferente da professora Márcia de Malu Mader, apesar da vida simples, Helena tinha bons princípios e a busca de um grande amor não era uma de suas prioridades.

Professorinha Helena conquistou o Brasil, por que não dizer, o Mundo com sua meiguice e a maneira singela de sempre ajudar a resolver os problemas de seus alunos. “Carrossel” abordava temas polêmicos como racismo, desigualdade social, separação entre os pais, dificuldade de aprendizagem, preconceito e obesidade, porém de uma maneira mais humanizada, sem chocar a família brasileira que naquela época se reunia a frente da TV para acompanhar os capítulos das novelas, bem diferente dos dias de hoje…

Enquanto o público fugia cada vez mais da trama global, a popularidade de Carrossel subia constantemente, chegando a alcançar números bastante expressivos de audiência,  na época o SBT vinha saindo de uma forte crise tanto financeira como de audiência. O sucesso da novela e da personagem Professora Helena foi tanto que Gabriela Rivero visitou o Brasil, participou do “Show de Calouros” de Silvio Santos, além de ser esperada por cerca de cinco mil pessoas em Brasilia, onde desceu a rampa do Congresso Nacional junto com o então Presidente da República Fernando Collor de Mello. Fofoqueiros de plantão da época, garantiam de pés juntos que Collor olhava com outros olhos para a atriz mexicana, mas ai é outra história…

O fiasco de “O Dono do Mundo” veio de uma sequencia de erros no horário das 20 horas da Rede Globo, “Rainha da Sucata” de Silvio de Abreu sofreu no inicio para agradar o público e “Meu Bem, Meu Mal” não teve uma grande repercussão. “Entre mortos e feridos, salvaram-se todos”, Gilberto Braga apesar da depressão que sofria devido a má fase da novela conseguiu dar a volta por cima e salvar a trama do horário nobre. Segundo o autor, não foi muito agradável transformar toda sua novela. Após as mudanças realizadas “O Dono do Mundo” ficou mais “iluminada” e núcleos secundários acabaram ganhando mais destaque. Curiosamente, Braga só conseguiu um novo grande sucesso nas novelas doze anos depois com “Celebridade”.

Se passam 24 anos e “Carrossel” volta a ser uma pedra no sapato do autor Gilberto Braga. A versão brasileira de Carrossel estreou em maio de 2012, repetindo o mesmo sucesso da versão mexicana e impulsionando o setor de dramaturgia do SBT então adormecido.  Em 2015 a estratégia de 1991 se repete, Silvio Santos escala a reprise de “Carrossel” para a estreia da novela de Gilberto, “Babilônia”. Para a tática do SBT dar certo, a então reprise da novela “Rebelde” precisou ser castigada, sendo duramente picotada para que seu fim coincidisse com o último capítulo de “Império”. A atual novela das nove, assim como “O Dono do Mundo” aborda temas polêmicos como homossexualismo, prostituição e sexualidade exagerada, o resultado não poderia ser outro, “Carrossel” mesmo sendo uma reprise continua marcando ótimos índices para o SBT.

As polêmicas de “Babilônia” são diferentes e mais pesadas que as apresentadas em “O Dono do Mundo”, o telespectador mostrou não está preparado pra ver retratado em sua TV assuntos tão presentes no mundo contemporâneo. Caímos no retrocesso ou somos hipócritas? A verdade é que a tática de tentar polemizar para ganhar audiência saiu pela culatra e “Carrossel” se beneficiou muito com mais esse fiasco da emissora carioca.

A história de “Carrossel” agrada a família brasileira incomodada com o excesso de dramas e conteúdos “pesados” para poder acompanhar ao lado dos filhos. Mesmo assistindo a versão mexicana várias vezes e também a primeira exibição da versão tupiniquim da novelinha, me pego assistindo a esse nostálgico clássico da televisão mundial. A trama dos “santos diabinhos” apesar da pureza e simplicidade é bem mais interessante que os ditos “tabus” da vida cotidiana. Mesmo com mudanças no enredo, Gilberto Braga não conseguiu contornar a situação e “Babilônia” deve terminar como a novela das oito/nove com a pior audiência de todos os tempos, Braga já se mostrou bastante chateado com o fato de sua novela ter menos Ibope que a trama exibida as sete e meia da noite. Espero que na próxima trama escrita pelo conceituado autor, professora Helena, Cirilo e companhia bela não estraguem sua sinopse mais uma vez…

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