Coluna: Corta pra mim, porque é com exclusividade!

Coluna: Corta pra mim, porque é com exclusividade!

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Eu tinha medo da voz dele… Quando a notícia entrava numa chamada do Fantástico, poderíamos saber que viria bomba. Uma investigação policial, um crime horroroso, uma invasão de extraterrestres numa fazenda perdida no sertão, um fenômeno humano sobrenatural. Eu era criança. Cresci vendo televisão, essa incrível máquina de ilusões e de criar malucos. Passei a gostar do que ele fazia. Virei jornalista. Comecei a observá-lo para aprender como atuava um repórter policial – atividade que eu gostaria de exercer já antes da formatura. Estou falando do apresentador Marcelo Rezende, um sujeito que admiro há tempos. Na adolescência, às quintas, era sagrado torcer pela prisão do bandido procurado pelo Linha Direta. Eu ainda tinha medo, mas o receio era encontrar um daqueles artistas de delitos, impune e solto pelas ruas.

Antes, os dentes ficavam trincando de pavor, quando aquele homem de terno aparecia na TV. Atualmente, a dentadura também é movimentada, quando posso assisti-lo na Record, para acompanhar as notícias do dia. Porém, ela dá é gargalhada com os bordões e as tiradas do âncora do Cidade Alerta. Rolo de rir em muitos momentos, principalmente, quando ele solta: “bota exclusivo, minha filha, porque você não sabe o trabalho que deu para conseguir o furo”. Ali tem razão, tem emoção, tem sarcasmo, tem ironia, num jogo de palavras que coloca o telespectador próximo ao fazer jornalístico. Nessa linguagem popular, ele vai se aproximando do povo, esse ser inexplicável para quem devemos fazer televisão. Para mim, Marcelo Rezende se reinventou num formato que é conhecido desde a gênese da TV Tupi, nos anos 1950. Ou seja, a narrativa é a conversa, oriunda do rádio, explorada por todas as emissoras, nos diferentes gêneros que estão no ar atualmente. A “caixinha” é a amiga de quem está em casa e quer ouvir uma companhia. Não há novidade, nem aberração nos jornais populares televisivos, eles somente se adaptaram ao século 21, ao palavreado e gosto dos tupiniquins.

Contudo, ele não faz isso porque é bonzinho. É a busca pela audiência, nessa guerra criativa para atrair a atenção dos domicílios ligados no Ibope. Recentemente, fui avaliador de uma monografia do curso de Jornalismo do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte. Na dissertação, os alunos, futuros colegas, tinham a missão de descrever a performance do apresentador e os recursos utilizados para conquistar os olhos grudados em seu programa. Mostraram que a voz, o gestual, as brincadeiras, as broncas na equipe, o jeito de contar a história, a repetição de imagens, a utilização de cenografia virtual e até o silêncio indignado com algum fato macabro serviam para evitar que o controle remoto fosse utilizado no sofá das salas brasileiras. E o público gosta. No entanto, críticos vão dizer que é jornalismo popular e sensacionalista. Só que eu insisto e repito: o público gosta do que é sensacional, diferente. Nem precisa de pesquisa para formalizar minha opinião. Eu gosto muito de ver como espectador. E de analisar como acadêmico. São vieses distintos que levam à mesma fórmula – é para gerar massa de gente grudada na telinha. E, para isso, o jornalista investiu numa outra linha textual. Partiu para a literatura, também, para se aproximar de outros públicos.

corta pra mim livro

Numa sentada, li o livro que Marcelo Rezende escreveu sobre sua carreira na Globo e as coberturas marcantes que fez como repórter investigativo. Obra fácil, para qualquer leitor, contando os bastidores de fatos históricos do Brasil, como o nascimento do MST e a saída de Ricardo Teixeira da presidência da CBF. Percorrendo as páginas, imaginei que ele mesmo estava lendo o texto para mim. Com 40 anos de carreira, o apresentador dá uma aula de jornalismo, mas também se revela um ser humano que comete pecados, sobretudo, com erros graves, para renascer numa outra perspectiva. E foi assim que ele reconquistou o espaço na TV. Recentemente, foi até cogitado para retornar à antiga emissora com o objetivo de alavancar a audiência das novelas e, no entanto, renovou com a Record por mais seis anos. Recomendo que você, que gosta de ler no banheiro, leia Corta pra Mim – os bastidores das grandes investigações -, da Editora Planeta, encontrado por até R$ 25,00. Para quem lê viajando, ou na cadeira conforto, também é uma boa leitura. Antes disso, assista ao programete 8 Minutos, de Rafinha Bastos, no You Tube, em que Marcelo Rezende é o entrevistado. Será outra forma de conhecê-lo.

Te vejo no intervalo, porque já deu tempo de ir ao banheiro para esperar a próxima atração. Mas que tal comentar esta postagem respondendo: Marcelo Rezende é popular ou sensacionalista?

Um forte e carinhoso abraço.

Juliano Azevedo

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