Coluna: Hora do Intervalo

Coluna: Hora do Intervalo

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O Santo Controle Remoto trabalha muito durante os intervalos comerciais. Normalmente, é nesses momentos que nós, os telespectadores, mudamos de canal em busca de entretenimento enquanto o programa predileto não volta. O que é um problema para todas as TVs, que sobrevivem da grana investida pelas empresas que têm verba publicitária, que devem entregar números de audiência também naquele instante em que damos uma corridinha ao banheiro. Por esses dilemas, os criativos da publicidade têm uma missão complicada: eles devem surpreender, constantemente, com roteiros inovadores, textos atrativos, apelos de venda coerentes com os desejos dos consumidores e estratégias que gerem resultados de credibilidade e de negócios. Num deslize da falta de pilha, ou na preguiça de mover os dedos nos botões CH, a propaganda acaba sendo “consumida”. E algumas se tornam marcantes, pois ver televisão também é assistir aos espaços pagos.

Está no ar um desses anúncios que prende a atenção já na primeira vez que é visto, por causa do impacto da narração e do texto veiculado. O anunciante é o jornal Folha de São Paulo, um dos veículos de comunicação com muitos prêmios conquistados pela ousadia de suas campanhas. Elas provocam reflexões. E a primeira delas tem a ver com o produto do jornal: a credibilidade da notícia, que deve ser, sobretudo, imparcial. Contudo, a Folha declara sua postura editorial – tornada pública em fevereiro de 2014 em sua edição de aniversário quando completou 93 anos -, a qual revela que ela apresenta temas polêmicos, de interesse dos leitores, mas que as opiniões divergentes têm espaço em suas páginas. Para mim, um excelente argumento de persuasão para atrair outros assinantes/consumidores. Melhor do que descrevê-lo, é assistir-lhe:

A campanha é bem ampla: conta com dez filmes abordando assuntos delicados como casamento gay, aborto, cotas nas universidades, legalização de drogas, manifestações, pena de morte e voto obrigatório. Tem ações na mídia impressa e traz personagens comuns, que fogem dos padrões “normais” dos garotos propagandas, fazendo testemunhais (quando um formador de opinião/artista é utilizado para falar do produto) que aproximam a publicidade do jeito verdadeiro do leitor esperado pelo jornal.

Contei toda essa história para falar do comercial que mexe comigo todas as vezes a que o assisto (uso-o como exemplo numa aula de Redação Aplicada ao Design quando falo de publicidade comercial, ou seja, são pelo menos quatro repetições no ano, considerando que sou professor nos turnos da manhã e da noite). Fico arrepiado com a voz dos locutores e com o belíssimo texto que já existe há quase três décadas. O vídeo foi feito em 1987, porém sua mensagem é super atual.  De acordo com uma reportagem da Folha de São Paulo, publicada num especial, o anúncio é um dos dois únicos comerciais brasileiros que consta numa lista dos cem melhores de todos os tempos. Merecido, porque ele poderá ser usado em qualquer momento de existência do diário paulistano, que conquistou o Brasil. Envolva-se nesta obra-prima do publicitário Washington Olivetto:

Ver TV vai além dos programas oferecidos pelas emissoras. Temos um intervalo comercial recheado de criatividade e que merece nossa vigilância. Assim, nós nos tornaremos  melhores telespectadores, mesmo quando, automaticamente, executarmos o tão famoso verbo zapear. Já que estamos numa pausa e saímos de frente da telinha para nos deliciarmos com a tela virtual, aproveito esta coluna para apresentar outro vídeo marcante que recheou os breaks da vida nos anos 1997. Uma aula de história, de televisão. Uma ousadia editorial da Folha.

Um forte abraço,

Juliano Azevedo

Jornalista, Chefe de Redação da TV Alterosa/SBT Minas, Professor na Faculdade INAP. Um eterno apaixonado por televisão.

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E-mail: julianoazevedo@gmail.com

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