Coluna: O corte de comentários dos jornalistas no SBT
Introdução sobre a nova coluna
Essa é a minha coluna de estreia do “TV e Você”. Aqui, de forma informal, discutirei temas envolvendo televisão, que podem ser relacionados a outros como política, publicidade, música, desenho, entre outros. É uma coluna menor do que a minha anterior, chamada “Se Eu Fosse o Diretor”, em que fazia um relatório gratuito para diretores de programas e/ou canais de televisão. Agora começa o “TV e Você”.
Nessa estreia falarei sobre a volta da Rachel Sheherazade, em que o retorno dela marcou o fim de comentários entre as notícias dos telejornais do SBT.
TV e Você
Toda essa história do corte de comentários dos jornalistas no SBT começou com uma opinião emitida pela jornalista Rachel Sheherazade, durante o telejornal “SBT Brasil”, sobre o caso de um menino que assaltou senhoras, mas foi pego por “justiceiros” que prenderam ele em um poste até que a polícia chegasse. Esse assunto deu o que falar no Brasil e no mundo. Dito isso, o comentário da âncora do “SBT Brasil” acabou sendo mal interpretado, pois ela disse: “Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos ‘vingadores’ é até compreensível”. (Opinião completa em: http://rachelsheherazade.blogspot.com.br/2014/02/adote-um-bandido.html )
Nesse comentário, ela não apoiou os “vingadores” e sim considerou que, com a violência crescente em nossa sociedade e com a impunidade cada vez maior, é lógico, compreensível ou passível de entendimento que as pessoas podem pensar em se defender com as próprias mãos. Compreender não é apoiar. É só achar uma base lógica para que aquele fato ocorresse.

Após esse comentário que foi mal interpretado (talvez de forma proposital), diversos políticos fizeram uma representação contra a Rachel Sheherazade, pedindo que o SBT a demitisse, que tirassem verbas publicitárias governamentais da emissora e até que cassassem a concessão pública que dá o direito ao SBT de existir como uma rede de televisão, dizendo que a jornalista e o canal fizeram apologia à violência. As representações vieram de políticos do Partido Socialista e Liberdade (PSOL) e do Partido Comunista do Brasil (PC do B). Não falarei os nomes dos políticos que são os responsáveis pela representação para não dar visibilidade a eles.

A representação contra o SBT e Rachel Sheherazade conseguiu ir adiante, podendo ser analisada pelo Ministério Público e pela Secretaria de Comunicações (SECOM, responsável pelo repasse das verbas publicitárias federais). Dias antes da Rachel voltar de férias, o Diretor de Jornalismo da emissora, Marcelo Parada, viajou para Brasília com o intuito de ouvir um dos representantes da Secretaria e, segundo o Daniel Castro, o representante da SECOM e o diretor manifestaram “desconforto” quanto as opiniões de Sheherazade. O “desconforto”, na verdade, pode ter sido uma real ameaça tanto às verbas publicitárias quanto até na concessão do SBT. Mas nunca saberemos o que realmente aconteceu atrás dos gabinetes da Secretaria de Comunicação sobre esse assunto.
Assim, temendo a perda de receitas publicitárias (que somam 150 milhões de reais) o SBT achou melhor dar um fim (pelo menos temporariamente) aos quadros de opiniões dos jornalistas da emissora em seus telejornais. A justificativa é para preservar os profissionais nesse contexto gerado. Pensando bem, é plausível pelo fato de que os deputados do PSOL, do PCdoB e, talvez, até o pessoal do PT queriam que a Rachel Sheherazade fosse demitida por emitir a opinião que o governo não quer: que é a opinião contrária. O SBT foi “entre a cruz e a espada”. Não demitiu a jornalista, mas ao mesmo tempo acabou com a parte de comentários no programa para toda essa situação esfriar para o lado governista, até pelo fato de que estamos em um ano eleitoral. O SBT é uma emissora comercial, perder 150 milhões em receitas publicitárias pode acarretar em demissões e problemas no pagamento de funcionários a curto prazo.

O PT e partidos da base aliada devem ter muitas coisas para se preocuparem com relação ao governo, para pensarem em começar a calar a boca dos meios de comunicação. Tem os escândalos da Petrobrás, os gastos superfaturados da Copa do Mundo, a dívida pública do Brasil que está cada vez maior, a inflação que aumenta cada vez mais, o endividamento crescente das famílias causado pelo excesso de crédito, o aumento dos combustíveis, o possível aumento no preço da energia etc. É muita preocupação em ano eleitoral.

Entretanto, o SBT pode sofrer mais algumas censuras do governo por meio da chantagem de verbas publicitárias, pois para o PT, se a emissora abaixou a cabeça uma vez, eles podem achar que o canal vai precisar, a partir de agora, ter a cabeça abaixada para sempre. Aí depois de implicarem com a Rachel, os próximos passarão a ser o Danilo Gentili, o César Filho, o Ratinho, o Roberto Cabrini, entre outros.
USAR DINHEIRO OU PODER PARA A CENSURA EM MEIOS DE COMUNICAÇÃO ACONTECE SOMENTE NO BRASIL???
Vários governos do mundo todo e empresas privadas já usaram o dinheiro para censurar meios de comunicação. Por isso entendo o SBT, perder 150 milhões pode abalar as finanças da emissora. Podemos citar vários casos em que o dinheiro pode ser usado para censurar meios de comunicação.
Lá nos Estados Unidos da América são comuns casos de censura usando verbas publicitárias como ameaça. Por exemplo, no documentário “Corporation” é notável um caso em que a “Monsanto” (empresa de fertilizantes e de melhoramento de produtos agrícolas) ameaçou a “Fox” de perda de receitas publicitárias caso colocasse no ar um documentário produzido sobre descobertas de malefícios causados por um produto da “Monsanto”, que aumentava a produtividade de leite das vacas. A “Monsanto” disse ainda (segundo o documentário) que, para que se fosse ao ar, o documentário tinha que ter um roteiro aprovado pela empresa, em que não seriam citados os malefícios do leite transgênico. No final, os jornalistas que estavam cuidando desse documentário foram demitidos.
Na Argentina, muitos jornais de oposição podem fechar por que o governo do país tem o monopólio da produção de papel jornal e ainda proíbem a importação do produto. Assim só jornais aliados poderão ter papel para veicular notícias favoráveis.
Na Venezuela, várias rádios, TV’s e jornais foram tirados de circulação por causa de suas opiniões contra o governo.
No Brasil, a coisa pode caminhar para um controle nacional da mídia, como vários integrantes do PT querem, até o irmão do Genoíno. Às vezes essa proposta é derrubada. Mas e se for aprovada?
O SBT ser ameaçado de perder dinheiro pode realmente fazer com que ele pense em atender algumas das reinvindicações do PT, já que a emissora tem obrigações como qualquer empresa, que são: pagar os funcionários, pagar impostos etc.
A solução para não precisar obedecer ao governo poderia então consistir em não depender de verbas publicitárias do Estado, podendo fazer a emissora vender horários (como para as Igrejas Evangélicas) para não precisarem seguir a cartilha que os políticos querem.
Mas o governo tentaria de todas as formas derrubar as emissoras que fazem críticas a ele, mesmo que não precisem mais do dinheiro estatal. Existem várias histórias de TV’s brasileiras que foram extintas, sem tirar o dinheiro publicitário do governo que ficava para os meios de comunicação. Por exemplo, segundo o colunista de política e TV James Akel, a “Excelsior” foi tirada do ar pelos militares por meio de uma estratégia deles, que consistiu em acabar com uma grande fonte financeira da emissora, que era a empresa aérea “Pan Air” (que era a mais luxuosa e a única que fazia viagens internacionais). Os militares ainda desapropriaram vários aeroportos que davam dinheiro e que mantinham a “Excelsior”. Com isso, a emissora, que fazia críticas ao governo, foi tirada do ar sem nem precisar que retirassem as verbas publicitárias de estatais ou agências governamentais.
Assim o SBT, no momento, acaba tendo que tirar os comentários do ar. Mas a situação pode ser temporária, já que, há umas três semanas, a “Rede Massa de Televisão” (afiliada do Sistema Brasileiro de Televisão no Paraná, que pertence ao Ratinho) havia acabado com um jornal, em que exibiam nas manhãs e que tinha comentaristas na bancada, opinando sobre as notícias e criticando o governo. Mas nessa semana o “Jornal da Massa” havia voltado ao antigo formato opinativo.
O mesmo pode acontecer com o SBT, pois eles podem fazer com que a Rachel volte a comentar diversos assuntos na emissora, quando a poeira baixar. E ela pode fazer tanto no “SBT Brasil” como em um programa que a emissora quer idealizar para a jornalista, com debates, comentários e tudo que o público dela quer ver. Se eles quiserem, eu darei uma sugestão de como pode ser esse programa.

SUGESTÃO:
O programa opinativo da Rachel Sheherazade teria uma hora e meia de duração e se chamaria “EM QUESTÃO”. Teria temas semanais, que seriam discutidos com convidados, jornalistas e com a participação de uma platéia e de um DJ, fixo ou rotativo, e teriam como integrantes:
– Joseval Peixoto
– Rachel Sheherazade
– Kennedy Alencar
– Mário Sérgio Cortella (Filósofo da PUC. Seria interessante uma pessoa da área)
E os integrantes da situação e da oposição governista:
Situação:
-Sakamoto (Colunista da “Folha de São Paulo”)
– Jean Wyllys (Deputado e colunista da “Carta Capital”)
– Algum outro da situação
Oposição:
– Rodrigo Constantino (“Revista Veja”)
– Reinaldo Azevedo (“Revista Veja” e “Jovem Pan”)
– José Neumanne Pinto
Teriam convidados, uma platéia estilo “Altas Horas” e reportagens que iriam emendar os assuntos tratados com tema da semana, que poderia falar tanto sobre a legalização do aborto, como justiça, censura e outros temas. E todos os lados estariam presentes no programa. E, caso o “Arena SBT” ser efetivado para às 10:15h, o “Em Questão” poderia ir ao ar 1 da manhã, aproveitando migração do “Altas Horas” e evitando um embate direto com o “Legendários”. Poderia ser um bom programa de jornalismo com auditório.
O cenário pode ser este:

Assim acaba o “TV e Você” dessa semana. Na próxima, falarei sobre o que o pessoal do “Pânico na Band” deve fazer para voltar a ter a audiência e a repercussão de antes.

