Coluna: Teledramaturgia – Nova x Tradicional

Coluna: Teledramaturgia – Nova x Tradicional

COLUNA

Desde os primeiros passos da TV no Brasil, a novela está presente nas telinhas das redes de televisão. Não demorou muito para que se tornasse campeão de audiência, vendas e fosse visto como o principal produto. Migrando dos rádios com as famosas radio novelas, o produto ganhou nova face diante do novo mercado que chegava ao país e as histórias, agora televisionadas, ganharam ares de super produção, cores, vida e muito prestígio. Como é de conhecimento, hoje em dia as principais emissoras brasileiras dedicam-se na produção de telenovelas, outras menores, apostam na transmissão de estrangeiras, sempre de olho no grande espaço em que as tramas tem por aqui e na boa recepção por parte do telespectador. Inovadoras ou tradicionais, o ramo continua se destacando no mercado, não existe uma fórmula específica, os mais variados tipos de enredo são explorados, porém, há certa distância da teledramaturgia clássica para as inovações atuais e é disso que iremos falar. Até que ponto a inovação é bem vista e a força do tradicional. Está no ar e vamos discutir.

Entende-se por nova teledramaturgia as produções mais ágeis, com um ritmo mais acelerado de acontecimentos, com enredos mais densos, mais voltados ao suspense e com um sistema de gravação diferenciado, com filtros, imagem de cinema e câmeras nervosas. Este tipo de enredo tem ganhado bastante destaque no mundo através da americana “Telemundo”, e tem sido bastante comum nas novelas das nove da Rede Globo. João Emanoel Carneiro é o que mais usa estes recursos em suas novelas, como em “A Favorita” e “Avenida Brasil”, dois grandes sucessos de repercussão e em audiência. No entanto, “Babilônia” atual folhetim do horário principal e que faz uso de todos esses recursos, não foi bem recebida pelo público desde a sua estreia. Muitos reclamam do ritmo intenso e do alto teor de cenas pesadas, nem mesmo os embates das veteranas Glória Pires e Adriana Esteves têm agradado o telespectador. A Rede Record também já emplacou histórias baseadas neste novo modelo, mas a lista de fracassos também foi extensa.

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Nova novela aposta em um novo estilo de teledramaturgia mas não consegue prender o telespectador.

Por outro lado, o jeito tradicional ainda funciona muito bem. Apelidado de “Novela para a família”, histórias água com açúcar bem feitinhas rendem bons resultados as emissoras, tanto que a maioria recorre a esse modelo para reabrir um iniciar uma nova fase em sua dramaturgia. Foram os casos do SBT em 1994 com “Éramos Seis”, 2001 com “Pícara Sonhadora” e 2010 com “Uma Rosa com Amor”, e os da Record em 2006 com “A Escrava Isaura” e atualmente com “Os Dez Mandamentos”, que apesar dos ares de super produção, aposta no enredo simples, de fácil entendimento e específico a família.

Também é importante pensar no público da emissora ao optar por um modelo específico. O SBT, após ficar conhecido como o canal das novelas leves, tentou emplacar enredos densos, como “Amor e Revolução” que falava sobre a ditadura brasileira e não se saiu bem. Ao retornar as origens, emplacou vários sucessos seguidos. A própria Record que usou bastante as novelas densas viu seus índices caírem mais da metade com o esgotamento da fórmula, voltou a apostar no simples com tramas nichadas. O que “Carrossel”, “Chiquititas”, “Os Dez Mandamentos” e até mesmo “Floribella” tem em comum, são o fato de usarem um modelo mais tradicional com um nicho específico, a família no caso da Record, e o mirar nas crianças para atingir os pais no caso do SBT. Até mesmo a Band, que após anos sem emplacar uma história, viu seus índices dispararem com uma produção infanto-juvenil.

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Atuais apostas de SBT e Record respectivamente, focam na família com historias simples e de fácil entendimento e alcançam altos índices de audiência.

Como já dito na coluna, não há um modelo correto e nem uma fórmula específica para atingir o sucesso com uma novela. Porém as chances de se alcançar o auge com tramas simples são altas, pois precisa saber dosar muito bem vários elementos para que uma novela mais densa, do novo estilo de teledramaturgia, agrade, pois somente manter um ritmo acelerado não consegue prender o telespectador, é preciso muito mais que isso, e talvez seja esse o problema de “Babilônia”, não o fato de ser “Nova”, mas a falta de elementos para que tanto acontecimento torne-se interessante. É bom ousar, mas não é o papel de uma telenovela, não há obrigação de chocar e mudar o jeito de se contar histórias, e não se podem esquecer as origens dos enredos consagrados, pois está comprovado que o tradicional ainda  funciona e tem espaço nas telas brasileiras .

Dyego Terra

Obrigado pela leitura, até a próxima semana!

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