Coluna: Você acha que televisão é uma questiúncula?

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Estava numa conversa no whatsapp, digitando a frase: “Um momento diferente que estou conhecendo”, quando o corretor, sempre com sugestões estranhas, alterou um pedaço da citação para a seguinte união de letras – “questiúnculas”. Ri e não acreditei que o termo existia. No entanto, o dicionário trouxe o significado: “substantivo; feminino singular; questão pequena e de pouco valor; questão sem importância, discussão fútil ou à toa”. Inexistente no meu vocabulário, a palavra servirá para dar o norte da coluna Onde é o Banheiro? desta semana, já que, no mundinho das conversas de bar, muita gente defende firmemente que televisão é um assunto que leva a debates inúteis. Eu não acho, pois o invento transformou o comportamento do espectador, principalmente, quando foi lançado no Brasil, em 1950.

São 64 anos reunindo a família em torno da caixa mágica de entretenimento e de informação. No dia 18 de setembro, da já citada década, o empreendedor Assis Chateaubriand inaugurava uma de suas maiores loucuras. Momento marcante, que dividiu opiniões políticas e econômicas e causou uma mudança social em nosso país, que é um dos que mais assiste TV no mundo. Já falei essa frase inúmeras vezes, quando recebo estudantes nos estúdios da TV Alterosa, porém, quando disserto sobre a dama e ídolo Hebe Camargo, já espero uns narizes torcidos. Logo, explico que, historicamente, a apresentadora e cantora é uma das figuras que merecem nosso respeito e reverência por causa de seu papel na construção da televisão brasileira, seja na linguagem seja no formato e gênero de programas. Ela participou disso tudo durante seis décadas, até nos deixar em 2012.

Antes de ser apresentadora, Hebe era cantora
Antes de ser apresentadora, Hebe era cantora

Contudo, temos de nos lembrar também de outro instante ocorrido na estreia da TV Tupi, a primeira emissora nacional, cuja sede ficava em São Paulo. A atriz e cantora Lolita Rodrigues, que comemorou 85 anos de idade em março recente, foi convocada para cantar o Hino da Televisão Brasileira, porque Hebe se ausentou da cerimônia. Com uma carreira consolidada no rádio, pouco tempo depois, Lolita se tornava apresentadora de sucesso e, paralelamente, atuou em várias novelas. No primeiro folhetim diário, lá estava ela formando um triângulo amoroso com Glória Menezes e Tarcísio Meira, em 2-5499 Ocupado. Uma pena a idade ter chegado para tão importante atriz e ela não ter saúde para enfrentar a intensidade das gravações. Entretanto, seu legado está no ar, diariamente, nas interpretações dos artistas que levam diversão a nós, telespectadores apaixonados por teatro, por novela, por séries, sobretudo, pela cultura que esses produtos nos agregam. Afinal, foi das experiências do passado que surgiu o aprendizado da arte de interpretar para a TV.

Lolita Rodrigues apresentava o Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, na TV Tupi
Lolita Rodrigues apresentava o Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, na TV Tupi

Falar de televisão é compreender o presente do país, é refletir e conhecer o passado de personagens reais da nossa história, é entender para onde caminha essa ferramenta que é a companhia fiel da audiência domiciliar. Podem dizer que o conteúdo televisivo integra as questiúnculas da vida, mas isso é papo de quem é desinformado historicamente ou anda preocupado em usar os vocábulos arcaicos do Houaiss, dizendo que TV é para a massificação das mentes. A televisão é bem mais do que isso, é popular, é para levar informação onde só chegam as transmissões de satélite e os meios de transporte mais humildes. Ela é o eletrodoméstico da agregação das fronteiras. TV é tudo de bom.

Até semana que vem. Um forte abraço.

Juliano Azevedo
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