Exclusivo: Entrevista – Henrique Zambelli

Exclusivo: Entrevista – Henrique Zambelli

Entrevista - Sua história de vida me interessa

“Dotado de uma inteligência sublime, Henrique Zambelli é nome conhecido quando o assunto é novela mexicana, mas precisamente, adaptações destas para o Brasil. No seu currículo estão presentes novelas como Pérola Negra, Canavial de Paixões, Esmeralda, Pícara Sonhadora… Além dos seriados Sem Controle e Nina e Nuno. Roteirista, tradutor, apresentador, diretor, radialista e ator. Henrique está sempre à procura de renovação e por conta disso que em breve estreará uma nova peça de teatro e um curso na qual passará toda sua experiência para aqueles que sonham em seguir a carreira de roteirista”.

É com ele que o Bastidores da TV, bate um papo hoje.

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Obrigado por ter aceitado o convite, fica aqui meus sinceros agradecimentos em nome de toda a equipe.

Vamos às perguntas.

 

(Bastidores da TV)

Primeiro gostaria de tirar uma dúvida, seu nome é mesmo Henrique Zambelli, ou trata-se de uma resignação artística?

Resposta:

“Sim, é meu nome mesmo. E que eu saiba, meu pai não consultou nenhum numerólogo antes de me batizar (risos)”.

 

(Bastidores da TV)

Desde criança já gostava de ler e escrever? Qual ou quais foram os fatores determinantes que levaram você a apreciar esta aptidão? Livros favoritos.

Resposta:

“Sim, gostava muito. Eu não saberia lhe dizer quais seriam esses fatores. Acho que isso já é um dom que nasce com cada um e que algumas pessoas têm a sorte de botá-lo em prática de forma produtiva. Meus livros favoritos foram “Meu Pé de Laranja Lima”, “Anarquistas Graças a Deus”, “O Cortiço”, curiosamente todos adaptados para a TV ou cinema”.

Acesse o site do Domínio Público e baixe gratuitamente livros do mesmo segmento que o Henrique citou:

Domínio Público

 

(Bastidores da TV)

Como foi a sua infância? Lembra-se de algum fato que sente falta ou que ficou guardado na memória?

Resposta:

“Eu me lembro que, na minha infância, minha família me levava muito ao teatro. Vi muitas peças infantis e talvez isso tenha marcado muito minha vida e despertado meu interesse pelo teatro e pela dramaturgia que se desenvolveu no futuro”.

 

(Bastidores da TV)

Sua família sempre lhe apoiou nas suas escolhas? Houve algum impedimento?

Resposta:

“Sim, sempre e me apoia até hoje em tudo que faço”.

 

(Bastidores da TV)

Quais eram seus programas de TV favoritos da adolescência?

Resposta:

“Eu adorava os programas de auditório, como Clube do Bolinha (até hoje o meu favorito), Sílvio Santos, Viva a Noite, Chacrinha. Tirando o Sílvio que ainda está no ar, os programas de hoje jamais terão algo parecido com os antigos. Não existe mais a mesma magia de antes. Muitas plateias hoje são compostas por modelos e figurantes. Os quadros não despertam interesse. As dançarinas não têm identidade como antigamente”.

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Viva a Noite, Clube do Bolinha, Silvio Santos e Chacrinha
Programas de sucesso da TV Brasileira

(Bastidores da TV)

Como surgiu o convite para adaptar sua primeira novela “Pérola Negra”? Considera sua melhor adaptação?

Resposta:

“Eu fazia estágio no SBT na época e surgiu esta oportunidade que me foi oferecida pelo então coordenador de textos do SBT, Crayton Sarzy. Considero Pérola Negra a melhor, inclusive porque foi a que eu tive mais autonomia para trabalhar no texto”.

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Os atores: Patrícia de Sabrit, Vanusa Splindler e Dalton Vigh em cenas da novela Pérola Negra. Exibida pelo SBT (1998/1999)

http://www.youtube.com/watch?v=Pb24Ke_SsKk

Abertura novela Pérola Negra

(Bastidores da TV)

Sinceramente, teve receio em aceitar adaptar tramas mexicanas num primeiro momento? Tem vontade de escrever uma novela de sua própria autoria?

Resposta:

“Não tive, porque sempre soube que novelas mexicanas, se fiéis a suas histórias originais, fariam sucesso no país, pois já era sabida a grande quantidade de brasileiros que curtiam essas histórias. Nunca tive a mentalidade que alguns autores brasileiros têm de se acharem melhores que os mexicanos. Se eles não fossem bons, as novelas deles não estariam sendo apresentadas em todo o mundo. Já muitos desses brasileiros, quando criaram novelas próprias, não fizeram sucesso nem no próprio país de origem. Eu preferi me especializar em fazer um bom e honesto trabalho de adaptação (e não deturpação de textos) que fazer novelas originais medíocres”.

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Fotos de bastidores, com Henrique e atores.

(Bastidores da TV)

Quando se adapta um texto para um remake, deve-se seguir o eixo central na qual a história se baseia e acontece. Em suas novelas, você mudou muita coisa? Como funciona o processo de adaptação?

Resposta:

“A adaptação era sempre feita de acordo com as ordens da direção. Geralmente as que eu fiz praticamente não houve mudanças significativas nas tramas centrais. Muita gente pensa que havia uma imposição mexicana, mas não necessariamente”.

 

(Bastidores da TV)

Qual a cena de Pérola Negra que mais gostou de escrever? Por quê?

Resposta:

“Muitas, mas sem dúvida, adoro uma cena em que a Branca (Lia de Aguiar) vai contar à Rosália (Maximira Figueiredo) que sua neta Eva morreu. E Rosália responde friamente “Deus existe!”. Eu até postei essa cena no meu canal no YouTube”.

 

Memorável cena onde Rosália comemora o acidente da sua neta Eva.

(Bastidores da TV)

Você já trabalhou com os diretores Henrique Martins, Antonino Seabra, Jacques Lagôa e David Grinberg. O que você tirou de bom desta convivência?

Resposta:

“Sem dúvida, todos tinham estilos de trabalho bem diferentes e são pessoas importantes dentro da história da teledramaturgia brasileira. O convívio e a observação que procurava ter do trabalho deles me ajudaram a aprender o que fazer – e também o que não fazer – ao dirigir. Quando eu me tornei diretor do programa Sem Controle em 2007, o David Grinberg chegou a me dar várias dicas de direção e convidei o Antonino Seabra, então afastado da mídia, para ser meu diretor de imagens e creio que tenha sido o último trabalho dele na TV antes de falecer”.

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Henrique Martins, Antonino Seabra, Jacques Lagôa e David Grinberg.

(Bastidores da TV)

Você foi roteirista no Teleteatro, como foi esta experiência?

Resposta:

“Foi uma experiência rápida, mas de aprendizado muito intenso, porque escrevi episódios dos mais diferentes gêneros, da comédia ao drama espírita. Pena que os roteiros dessa segunda temporada não chegaram a ser gravados”.

 

(Bastidores da TV)

Quem o acompanha pelo Twitter sabe que você é fã de filmes brasileiros da década de 80 e 90. Qual o motivo desta escolha? Qual é o seu preferido?

Resposta:

“Eu sempre gostei de cinema nacional. Vejo tudo, de filmes antigos aos mais modernos e chego a ser criticado por amigos por não idolatrar os filmes americanos. Até hoje, por exemplo, nunca vi filmes como Harry Potter, Senhor dos Anéis, Crepúsculo, Jogos Mortais e outros produtos da cultura cinematográfica americana impostos ao Brasil como o melhor. Eu amo as pornochanchadas dos anos 70 e 80. Acho que elas são a base de muita coisa que eu escrevo. Elas tinham um humor ingênuo e, ao mesmo tempo, malicioso que é a cara do Brasil. Admiro a obra do diretor e roteirista Ody Fraga, talvez um dos maiores gênios do cinema brasileiro, não valorizado como deveria. O cinema brasileiro dos anos 90 é talvez o mais fraco que eu vi. É difícil citar um filme favorito, mas citaria obras primas “Domésticas”, “Reflexões de um liquidificador”, “Central do Brasil”, “A Casa de Alice”, “Sábado”, e outros. Também adoro cinema argentino e uruguaio”.

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Atriz Ana Lúcia Torre em cena do filme Reflexões de um Liquidificador

 http://www.youtube.com/watch?v=7XfefzJ0m6I

Trailer filme – Reflexões de um Liquidificador

(Bastidores da TV)

A TV aberta brasileira está carente de conteúdo, resultado disso é a fuga de grande parte dos telespectadores para a TV por assinatura. A que você atribui esta queda? Qual emissora de transmissão aberta mais lhe agrada? Por quê?

Resposta:

“A exceção de novelas e pouquíssimos programas, a TV de hoje não tem mais criatividade, não tem mais arte. Agora tudo é reality. Mas um reality que não tem muito de realidade, parece tudo meio armado. Não tenho paciência para ver gente se submetendo a humilhações de um “patrão” arrogante ou de um apresentador sádico, mas com sorriso de bom moço, em troca de soluções para suas vidas, e pessoas convivendo com quem não se suporta em troca de dinheiro fácil e de fama instantânea. Programas sensacionalistas que são verdadeiras “caça-desgraças” e se travestem de informação necessária. Até os programas de calouros se tornaram shows chatos, pasteurizados. Todos cantam com vozes e interpretações padronizadas. Eu acho que todas as atuais emissoras obedecem a um mesmo padrão, então não tenho uma preferida”.

 

(Bastidores da TV)

Apesar do grande sucesso da novela Pícara Sonhadora, a crítica especializada, atestou alguns erros na trama. Como você recebeu esse julgamento?

Resposta:

“Recebi com tranquilidade. Eu também não gostava muito do que via. (risos)”.

 

(Bastidores da TV)

Em suas novelas grandes atrizes deram vida a vilãs memoráveis, como: Rosália Pacheco (Maximira Figueiredo), Fátima Álvares Real (Tânia Bondezan) e Raquel Feberman (Helena Fernandes). Aguçava-lhe mais escrever diálogos para as vilãs? De todas, qual você guarda um carinho especial?

Resposta:

“Sim, as vilãs são bem mais divertidas e menos engessadas que as mocinhas. Os vilões também. Minha favorita é a Amparo (Glauce Graieb) de Marisol, que teve uma interpretação fantástica e, ao mesmo tempo, diferente da original mexicana. Também gostava muito da Zulema (Gabriela Alves) que tinha diálogos muito ferinos e sou apaixonado pela Rosália de Pérola Negra, embora não a considere uma vilã. Ela era uma personagem ambígua que tinha suas razões para agir como agia e que, em determinados momentos, demonstrava ter sentimentos mais nobres”.

 

Cena da novela Marisol, onde a vilã Amparo apronta uma das suas.

(Bastidores da TV)

Em 2003 o SBT resolveu arriscar e apostar em um remake de uma história marcante. Canavial de Paixões contou com grandes atores como: Cláudia Ohana, Helena Fernandes, Débora Duarte e Oscar Magrini e garantiu um ótimo ibope. Acabando por garantir a indicação para concorrer na categoria melhor novela no Troféu Imprensa e no Prêmio Contigo de Novelas. Como foi para você receber tamanho reconhecimento? Qual acredita ter sido o fator determinante para o sucesso?

Resposta:

“Sinceramente, nem me lembrava disso. Eu, particularmente, não gosto muito dessa novela. Embora a considere muito bem feita, com grandes atores e direção correta, Canavial não me passa nenhuma emoção em particular”.

 

(Bastidores da TV)

Você foi sondado pela Rede Record para adaptar os textos mexicanos, quando a emissora ainda possuía contrato com Televisa?

Resposta:

“Nunca. Acho que a Record nem sabe que eu existo. Talvez se soubesse… (risos)”.

 

(Bastidores da TV)

Por se tratarem de novelas mexicanas e sua alta carga melodramática, você já constatou algum tipo de desdém por parte dos atores? Ao extremo, chegou-se ao ponto de rejeitarem algum papel na trama por este motivo?

Resposta:

“Várias vezes. Não vou citar nomes porque seria deselegante, mas, certa vez, uma atriz recusou um papel importante de empregada em uma trama do SBT, alegando que ele seria pequeno demais para seu talento. E tempos depois, a mesma atriz viveu uma empregada, com uma relevância bem menor, em uma novela da Globo. Será que, para aceitar essa proposta global, ela acabou descobrindo que não tinha tanto talento assim?”.

 

(Bastidores da TV)

Como você definiria Silvio Santos?

Resposta:

“Um gênio da comunicação, um homem de visão, um ídolo. Vai fazer muita falta à TV brasileira quando se for”.

 

(Bastidores da TV)

Você adaptou o seriado argentino Nina e Nuno para o programa Charme da Adriane Galisteu. Foi complicado trabalhar com humor argentino? Considera o seriado um dos seus melhores trabalhos?

Resposta:

“Ao contrário. O humor e a dramaturgia argentinos são muito parecidos com os nossos. Talvez a diferença resida na direção e na interpretação. Eu gosto muito do seriado, a Galisteu surpreendeu a todos como atriz, mas ainda prefiro o Sem Controle, que também era do mesmo autor argentino do Nina e Nuno (Hugo Sufovich) e chegou a bater a Globo em audiência em algumas ocasiões e a incomodou a Record que mudou sua programação em função do programa. Creio que, para um diretor totalmente inexperiente na época, isso seja algo marcante”.

 http://www.youtube.com/watch?v=RoXI0Q5kHeE

Cena do seriado Sem Controle exibido pelo SBT em 2007, com a participação da comediante Dani Calabresa.

(Bastidores da TV)

Recentemente você fez uma participação em Chiquititas no SBT. Pretende seguir nesta linha? Ou caso recebesse uma proposta para adaptar outra novela mexicana, voltaria? Qual das áreas lhe agrada mais.

Resposta:

“Escrever novelas deixou de ser minha prioridade há muitos anos. Só voltaria a fazer esse tipo de trabalho se fosse um projeto muito interessante. Vamos deixar esse árduo trabalho de novelas para novos roteiristas que estão surgindo e para os alunos dos meus cursos. Eu prefiro escrever para teatro ou coisas curtas como a websérie “A Herança” que deve ser lançada em breve. Interpretar é uma viagem maravilhosa por universos inimagináveis e estou adorando atuar nesta área. Cansei de ser só o Henrique que escreve, dirige e apresenta. A arte também me permite ser outras pessoas”.

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Participação recente na novela Chiquititas

(Bastidores da TV)

Como autor teatral você escreveu as peças “A segunda Dama” e “A vida secreta das Assistentes de Palco”. Ambas apostaram na comédia. Responda-me é mais fácil criar situações que envolvam humor? Que outro estilo de texto para o teatro você gostaria de abordar?

Resposta:

“Sim, o humor é uma coisa muito natural em mim. Quem me segue nas redes sociais ou convive comigo percebe isto facilmente. Embora meus textos sejam primordialmente comédias, sempre há neles críticas embutidas que fazem as pessoas pensarem sobre suas vidas e a sociedade em que vivem. Não faço somente a piada pela piada. Ainda quero escrever uma peça que narre a história real de uma pessoa que tenha uma vida interessante, não necessariamente uma celebridade”.

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Henrique e integrantes da peça “A Segunda Dama”

(Bastidores da TV)

Quais são as novidades para o teatro este ano? Conte-me mais.

Resposta:

“Tenho vários projetos nessa área. Um que já está em andamento é a peça “Aruanda, a Terra Prometida”, texto de Luana Manso e Rodrigo Oliveira, que também é o diretor do espetáculo, no qual vou interpretar o personagem Januário, um senhor de escravos dividido entre o amor de uma escrava e as convenções sociais do século XIX. Também estou iniciando a produção e a direção de uma nova comédia minha que abordará o universo dos atores de filmes eróticos. Além da reestreia da minha peça “A Segunda Dama” (meu texto escrito em 2010), em agosto, em Belo Horizonte”.

 

(Bastidores da TV)

A peça tem previsão para estrear quando? Quais outros atores estão envolvidos?

Resposta:

“Aruanda, a Terra Prometida” estreará no segundo semestre e conta com o elenco da Companhia Curanista de Teatro, com mais de 12 elementos em cena, entre atores e bailarinos, numa proposta teatral bastante ousada e inovadora para o padrão teatral que costuma se ver atualmente. Já a minha comédia sobre cinema erótico, ainda sem título definitivo, estreará no dia 30 de agosto. Ambas em São Paulo”.

 

(Bastidores da TV)

Como surgiu a ideia de produzir um curso voltado para roteirização?

Resposta:

“A partir da grande quantidade de pessoas que me procuram nas redes sociais pedindo dicas sobre roteirização. Há muita gente querendo escrever e isso é possível desde que a pessoa siga algumas regras para expor com clareza suas ideias. Estou muito feliz e surpreso com a qualidade dos meus alunos que, com poucas aulas, já apresentam bons trabalhos através dos exercícios que eu proponho no meu método”.

 

(Bastidores da TV)

Seu curso de roteirização estreia quando? Ele é voltado para qual público? Qual a forma de contato?

Resposta:

“O curso é online e já está sendo ministrado, mas ainda há horários disponíveis. Consiste em aulas particulares e personalizadas para cada aluno que ensina dos conceitos básicos de roteirização até a elaboração e o acompanhamento de projetos, de acordo com o nível de conhecimento de cada um. É voltado para pessoas com ensino médio até profissionais da área que querem se aperfeiçoar, pois também funciona como uma assessoria de coaching. Também haverá uma nova turma do curso livre de dramaturgia presencial no Teatro Escola Habitart, em São Paulo, a partir de agosto. Embora ainda seja cedo para divulgar, já há pessoas inscritas para essa turma. Portanto quem tiver interesse, deve ser inscrever logo. Maiores informações no meu site www.henriquezambelli.com.br ou no meu Facebook”.

Informações do curso de roteirização

(Bastidores da TV)

Mais uma vez obrigado pelo apoio de sempre. Desejo-lhe uma ótima estreia no teatro e que seu curso seja um grande sucesso.

Resposta:

“Eu que agradeço a vocês por mais esta inteligente e agradável entrevista e retribuo os votos de sucesso a todos do site”.

 

Gostou da Entrevista com o Henrique? Você pode encontra-lo nos seguintes meios…

Twitter: @hzambelli

Site: www.henriquezambelli.com.br

Facebook: Henrique Zambelli

Para qualquer sugestão, reclamação, elogio, bonificação me encontre no twitter… @Hjms_QuimTv

Até a próxima Entrevista #Partiu

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