Jornalismo imparcial? Band ataca SBT, RecordTV e RedeTV em favor de patrocinadores 

Jornalismo imparcial? Band ataca SBT, RecordTV e RedeTV em favor de patrocinadores 

Misturar jornalismo com interesses publicitários, não é um bom caminho para uma emissora de TV aberta que diz zelar tanto pela credibilidade de seu jornalismo. O plano comercial do “Jornal da Band”, deixa claro aos anunciantes: “O Jornal da Band é a principal expressão do telejornalismo moderno, imparcial e de alta credibilidade da Band”. No entanto, esta credibilidade é colocada em choque, a partir do momento que a emissora utiliza seu principal jornal, para atacar três emissoras concorrentes (SBT, RecordTV e RedeTV), através de uma reportagem que mais parece um vídeo institucional e promocional, defendendo os interesses de dois de seus anunciantes, do que uma matéria jornalística de respeito.

Plano comercial do Jornal da Band “vende” credibilidade.

As três emissoras atacadas pela TV Band, na noite desta sexta-feira (07), formam a Simba Content, uma empresa criada para negociar os direitos de transmissão de seus conteúdos digitais com as operadoras de TV por assinatura. Há algumas semanas, como as operadoras NET, Claro, Sky e Oi não aceitaram pagar pelos sinais de SBT, RecordTV e RedeTV, uma briga de grandes proporções ocorre no mercado televisivo. Com o desligamento do sinal analógico, na Grande SP, com exceção da VivoTV, que aceitou negociar com a Simba, os assinantes das demais operadoras que detêm mais de 5% do mercado de TV paga, não possuem mais os sinais liberados das três emissoras, contrariando o contrato firmado na adesão do pacote, o que tem gerado inúmeras reclamações no Procon e cancelamentos de assinatura. O mercado estima que mais de 1 milhão de clientes já cancelaram suas assinaturas, desde o corte do sinal das três redes. Reuniões individuais, entre Simba e operadoras, ocorreram nesta semana, mas sem avanços significativos. A Sky é a única que não aceita sequer conversar.

 

A Claro é uma das principais patrocinadoras do “Jornal da Band”. A empresa de telefonia é ligada ao mesmo grupo controlador da NET e Embratel, todas atuantes no ramo da TV por assinatura, detendo mais da metade do mercado brasileiro. Outra grande anunciante do mesmo telejornal é a Sky, que após um longo período patrocinando o principal jornal da Band, deixou temporariamente de anunciar, desde o início deste ano. A Sky detêm a segunda maior fatia do mercado de TV paga. E é justamente defendendo os interesses destas operadoras que o “Jornal da Band” exibiu reportagem atacando suas emissoras concorrentes, com informações confusas, acusando SBT, RecordTV e RedeTV de querer explorar o telespectador, o obrigando a pagar R$ 15 mensais a mais, para ter acesso aos seus conteúdos. Vale ressaltar que o sinal analógico era distribuído gratuitamente, mas com a mudança para a era digital, a legislação também mudou, permitindo a cobrança do sinal, em sistemas a cabo e via satélite. A programação aberta continua gratuita na TV, basta ter uma antena UHF externa instalada e o aparelho receptor, com tecnologia digital acoplada.

 

A reportagem da Band, que parece mais ter sido feita sob encomenda, também faz questão de cutucar as emissoras afirmando que a saída delas da TV paga, já gerou uma queda brusca de suas audiências. No entanto, sem apresentar dados que provam a baixa dos números. Conforme o BastidoresDaTV, informou em primeira-mão, ainda no dia 30 de março, a divulgação dos dados referentes à TV paga são mensais e coletados pelos institutos separadamente da audiência diária divulgada pelas emissoras de TV aberta. Ou seja, a queda de audiência das emissoras se deve unicamente ao fim do sinal analógico e não ao desligamento do sinal nas operadoras de TV paga. É possível que as três emissoras apresentem no relatório mensal específico da TV paga, uma queda em seus índices, mas somente entre o final de abril e início de maio será possível ter acesso aos números desta pesquisa. Nos dados diários, divulgados por Kantar Ibope e GFK, são contabilizados apenas os dispositivos utilizados no televisor. Com isso, as redes de TV aberta que forem sintonizadas via antena UHF (sinal aberto), possuem suas audiências contabilizadas no relatório. Se naquele momento, os telespectadores estiverem sintonizados via outros dispositivos (TV paga/parabólicas), a audiência não aparece para a emissora e sim na soma de “outros canais pagos” ou “dispositivos”.

Com a instalação dos conversores digitais, a troca de televisores por modelos mais modernos e a instalação de simples antenas UHF externas, os números referentes ao relatório de audiência da TV aberta, devem se normalizar aos poucos, independente de acerto com as operadoras de TV paga. Um acordo entre estas operadoras e a Simba é importante para garantir o retorno de parcela importante de telespectadores que ainda possuem a TV paga como único dispositivo de sintonia.

Simba Content tenta acordo com operadoras de TV por assinatura.

A Simba, recebeu autorização do Cade, para formação da empresa e para venda do sinal digital em circuito fechado, assim como faz a Globosat e o próprio Grupo Band. Parte da receita deverá ser investida em produção de conteúdo pelas três emissoras. Aliás, mais um detalhe que a reportagem do “Jornal da Band”, deixou de esclarecer: a TV Band recebe para ceder seu sinal digital para as operadoras? Se sim, quanto recebe e se por acaso não recebesse, cederia o sinal gratuitamente para as operadoras? Essas dúvidas importantes não foram esclarecidas, porque faltou tempo na reportagem ou não é do interesse dos patrocinadores da emissora?

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