Lisa Gomes, uma mulher que revoluciona seu tempo

Prepare-se para conhecer um lindo exemplo de garra, força e determinação. Lisa Gomes é uma nordestina natural de Recife, 36 anos, casada e primeira mulher trans repórter efetivada em uma emissora de TV brasileira, em nível nacional. Para orgulho de toda a classe LGBTQI+, mas, principalmente, para a busca de uma sociedade livre, justa e igualitária, desfrutaremos de uma entrevista EXCLUSIVA, cheia de emoção e conquistas. Confira como foi o nosso bate-papo com a Lisa:

– FÁBIO DO BÚ: Fala um pouquinho sobre a sua infância e juventude, por gentileza. Como você sintetiza a história da Lisa Gomes?
– LISA GOMES: Tive uma infância maravilhosa, minha família sempre me deu muito amor. Sou filha de pais separados há muitos anos, mas isso nunca interferiu em nada no meu crescimento pessoal, sempre tive contato com meu pai, e por incrível pareça nossa relação ficou muito melhor depois que me aceitei como transexual. Ele passou a me respeitar muito mais e percebeu quem de fato sempre fui, uma mulher trans. Minha mãe tentou me proteger de todas as formas e até evitou que eu sofresse por assumir minha transexualidade. Sem sucesso, ela sentou comigo, conversou e me pediu perdão porque sempre me tratou como gay e que depois de assistir um documentário sobre crianças transgêneros ela percebeu que tinha uma transexual em casa e que a partir dali nós passaríamos a ter uma relação de mãe e FILHA.
– FÁBIO DO BÚ: Sua carreira profissional tem se consolidado de maneira muito marcante para a mídia brasileira. Como você define a sua trajetória profissional?
– LISA GOMES: Defino como uma conquista por toda uma classe tão massacrada e excluída. Essa conquista não é só minha, mas reconheço que hoje sirvo de representatividade para muitas mulheres trans, eu mostrei que nós podemos chegar aonde quisermos, seja TV ou numa multinacional, nossas conquistas só dependem da gente. Algumas transexuais optam pela prostituição porque o dinheiro é mais rápido e gostam do trabalho, outras não querem se prostituir, procuram espaço no mercado de trabalho, não conseguem e são obrigadas a entrar para prostituição como meio de sobrevivência. Portanto, não podemos criticar, eu nunca precisei me prostituir, tive o apoio da minha família que sempre focou nos meus estudos e eu nunca procurei desviar desse caminho, sou grata porque eles investiram em mim. Nada foi fácil, vim de família carente, moravam em favela e tudo que temos hoje foi conquistado com muito suor, por isso tenho o reflexo da garra e perseverança.
– FÁBIO DO BÚ: Quais foram/são os principais medos e obstáculos enfrentados na sua carreira?
– LISA GOMES: Tive inúmeros obstáculos quando comecei, lembro bem que cheguei entrar em contato em todas as emissoras, fui a reuniões, prometeram “mundos e fundos” e saía de lá crente que meu emprego estava garantido. Me ligavam e diziam que não tinham patrocinadores para meu público e, por isso, não poderiam me contratar pra nada, nem como produtora. O preconceito estava estampado, escancarado e velado! Muita gente não sabe disso, mas chorei muito, quase entrei em depressão por não consegui meu espaço no mercado de trabalho. Foi quando tive a brilhante ideia de montar um projeto e mostrar para Redetv, depois de 5 dias me ligaram para uma reunião, cheguei e lá e fui recebida com todo carinho e com a frase “Tá pronta para trabalhar?” segurei o choro, escutei as propostas e quando fui embora desabei de tanta emoção. Minha vida começou a mudar a partir desse dia no ano de 2012!

– FÁBIO DO BÚ: Como se sente sendo a única mulher trans repórter em uma emissora de nível nacional?
– LISA GOMES: Realizada! Quero muito mais! Não podemos esquecer de quem começou a abrir espaço pra gente, como Nany People e Léo Áquila, admiro demais as duas e me inspirei muito nelas, mas tenho a consciência que são trabalhos diferentes. Quero ser a primeira transexual a sentar numa bancada de um jornal e lutar para emissora contratar mais transexuais como repórter. Esse é meu objetivo!
– FÁBIO DO BÚ: Você já sofreu bullying por ser trans? Como você vislumbra esse sentimento tão cruel na nossa atual sociedade?
– LISA GOMES: Já sofri todos os tipos de preconceito, o pior foi na escola, até hoje tenho traumas quando lembro disso. Me xingavam, me chutaram várias vezes, fui excluída, até de professora sofri preconceito, mas passei por cima de tudo e garanto que foi um dos piores momentos da minha vida. Eu não vou me calar em momento algum! Ninguém precisa me aceitar, mas respeitar sim!

– FÁBIO DO BÚ: De que maneira o apoio familiar pode contribuir para que o bullying não cause maiores transtornos ao ser humano?
– LISA GOMES: O apoio familiar é tudo na vida de um LGBTQ+ sempre tive apoio da minha família, o amor transforma qualquer preconceito.
– FÁBIO DO BÚ: Quais as conquistas mais marcantes na sua vida? Diante delas, quais são os próximos passos da sua vida e carreira?
– LISA GOMES: A maior conquista da minha vida foi conseguir me formar e conseguir um emprego fixo na minha área. Ninguém entende o tamanho do prazer que é ser transexual e entrar no mercado de trabalho com cabeça erguida. Graças a Deus, nunca precisei fazer teste do sofá com ninguém, e não me permitiria a isso, jamais! Entrei na TV com meu próprio mérito, pela porta da frente!
– FÁBIO DO BÚ: Deixe uma mensagem ao público do site Bastidores da TV, por gentileza.
– LISA GOMES: O “Bastidores da TV” é um dos sites que passa maior credibilidade para o leitor e nos faz acreditar que nossa profissão ainda pode ser levada muito a sério! Obrigada a todos!
Gratidão por tamanho carinho conosco, Lisa Gomes. Por meio do seu exemplo, muitas vidas se inspiraram e se inspiram! Você arrasa muito!