Coluna: Globo, você não quer ter a fama da Record, né?
Encaminhada ao diretor geral da Globo, Carlos Henrique Schroder.
Introdução antes da consultoria para o diretor:
A Globo é vista como uma emissora sisuda, conservadora e com um padrão de qualidade exemplar. Depois de mais de 45 anos de atividades, ela decidiu promover uma modernização de sua imagem. As mudanças foram implantadas pelo novo diretor geral da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder. Esse diretor teve várias funções na emissora: dirigiu do Fantástico, foi repórter da Folha da Tarde, exerceu o cargo de editor chefe do Jornal da RBS (afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul), foi criador e editor chefe do jornal local da RBS (chamado Bom Dia Rio Grande), foi produtor e editor chefe do Jornal Hoje, foi editor de assuntos nacionais do Jornal Nacional e era o responsável pela linha editorial da Rede Globo assim que assumiu a direção geral de jornalismo e esporte. Além disso, ganhou reconhecimento e prêmios por ter coordenado a cobertura de vários fatos marcantes no Brasil e no mundo, como a doença e morte do Tancredo Neves, a Guerra do Golfo, a morte de Ayrton Senna (ele, em menos de 7 horas, conseguiu produzir uma edição do Fantástico somente sobre o acidente e morte). Além disso, o seu grande trabalho fez com que a Globo fosse a primeira emissora do mundo a exibir imagens do atentado ao World Trade Center, apenas 7 minutos depois do choque do primeiro avião.
Por isso, a consultoria será dada a uma pessoa que entende muito de televisão, na área de bastidores e produção. Assim, terá o máximo de detalhes e argumentos para que Carlos Henrique Schroder possa discutir sobre esse conteúdo. Afinal, em uma crítica, o criticado tem todo o espaço para contra argumentar.
Assim que assumiu a direção geral da Rede Globo, Carlos Henrique implementou mudanças de linha editorial com alterações no perfil de produção de diversos programas. Tentou inovar com a aprovação de novelas com estilos dificilmente testados nos horários, aproximou a Globo com a internet e praticou medidas de programação que só eram testadas em canais com audiência menor, como o SBT, a Record e entre outros.
Com isso, a Globo passou a realizar mudanças de horário em inúmeros espaços da grade, colocando enlatados no lugar de programas ou depois de atrações como o Fantástico. Exemplo: tiraram a TV Xuxa para colocar uma sessão de filmes chamada Cine Fã Clube (que prometia filmes teens, mas agora só exibe coisas voltadas a todos os públicos) ou a exibição do seriado Revenge, depois do Fantástico (para enfrentar Silvio Santos, que acaba liderando no ibope pós-Fantástico). Estão abusando um pouquinho do sensacionalismo para ganhar ibope. Em alguns momentos, diminuíram os intervalos para competir de igual para igual com as outras emissoras. Nesses dois casos, estão copiando algumas práticas da Rede Record para conseguir audiência. Também tentaram deixar as chamadas da Globo mais joviais, copiando o SBT. Além disso, agora a logo da Rede Globo está mais clean (sem o uso das diversas cores que ficam dentro da esfera da logo). E, na última semana, a Globo copiou a forma que o SBT usa para fazer a transição entre programas de auditório, que é aquela famosa recurso inter-programas em que o Celso Portiolli se despede e na outra metade da tela está a Eliana, dando a entender que o Celso está passando o bastão no momento. Isso foi feito assim que acabou o Domingão do Faustão, quando o mesmo chamou ao vivo os apresentadores do Fantástico, que apareceram no telão do estúdio e, enquanto conversavam com o Faustão, diziam os destaques do programa. Após o anuncio dos destaques, Faustão disse: “Fiquem agora com o Fantástico”. E aí entrava a chamada de oferecimento da revista semanal.
Assim, a Rede Globo está deixando o seu estilo próprio de lado ao tentar copiar práticas, linguagens e métodos de programação que são utilizados por outras emissoras, principalmente as técnicas usadas pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Estamos vendo que a Globo está passando por um processo de SBTização e isso é terrível para ela. A partir de agora, começa o Se Eu Fosse o Diretor dessa semana.
PS: leitores, desculpem-me por ter prometido falar sobre o Bom Dia e Companhia, mas esse novo assunto devia ser tratado. Semana que vem falo sobre o programa.
INOVAÇÕES NECESSÁRIAS E DESNECESSÁRIAS COM AS TELENOVELAS
Carlos Henrique Schroder assumiu a Rede Globo em 2013 e aprovou a confecção de novelas com conteúdos inovadores, que dificilmente foram testados no horário. Alguns exemplos são Além do Horizonte e Jóia Rara. Essas novelas estão sendo consideradas as piores audiências Globo, quanto ao gênero telenovelas, e são ameaçadas diariamente pelo programa policial da Record, Cidade Alerta, que fica em alguns minutos a 3 pontos da Rede Globo. Até agora o Cidade Alerta não ganhou, mas pode ganhar. Esses fracassos poderiam ter sido evitados se o Carlos Henrique observasse que os horários das 6 e das 7 são compostos por novelas “leves” ou de época, mas com uma fácil digestão.
Jóia Rara é uma boa produção. As autoras Duca Rachid e Thelma Guedes (criadoras dos sucessos Cama de Gato e Cordel Encantado) foram consideradas as salvadoras do horário das 6 e por isso receberam mundos e fundos para a nova novela. Jóia Rara teve um elenco digno de novela das 9 (muitos atores tinham feito Avenida Brasil), uma direção espetacular (de Amora Mautner e Ricardo Waddington, diretores de Avenida Brasil), um orçamento digno ou superior a de uma novela das 9 (tenho certeza que os custos para fazer Jóia Rara foram maiores do que os de Amor à Vida). Entretanto, a novela não teve uma história que conseguiria aguentar mais de 170 capítulos, criando a famosa “barriga”, e passou a ter várias situações repititivas. Se Jóia Rara fosse exibida às 11h, com uns 50 capítulos, conseguiria ter uma agilidade maior e iria agradar um público mais seleto, que gostaria de uma novela com tom escuro e em um horário mais tardio, poderia ter mais ação e mais conteúdo que não seria barrado pela classificação indicativa.
Já Além do Horizonte não foi feita para ser uma telenovela. Acho que colocaram a sinopse dela na pasta de aprovação das novelas, mas tinha que estar na pasta de aprovação dos seriados. Além disso, Além do Horizonte não tinha humor, era de ação, violenta, e não tinha conteúdos leves. Ela foi para o horário mais conservador, que não é o lugar para o seu tipo de drama: o horário de novelas das 7. Nele o povo quer rir, esquecer de todos os problemas, para só chorar no horário das 9. Além do Horizonte entrou na fila de novelas das 7 por que o Carlos Lombardi havia saído da Rede Globo e estava confeccionando uma novela humorística sobre viagens no tempo, chamada João ao Cubo.
Ao mesmo tempo em que inovação excessiva fez mal às novelas das 6 e das 7, para as das 9 até que fez um bem. Foi assim com Amor à Vida. Ela conseguiu retratar vários temas polêmicos que em outros tempos a Rede Globo poderia ter vetado, como a barriga solidária, o racismo, a homofobia e o ódio que um pai poderia ter por um filho. Os novos tempos da Globo fizeram Amor à Vida ser a primeira novela da emissora a retratar a homofobia de maneira ampla e ainda teve o primeiro beijo gay em novelas da Rede Globo. Sua importância só poderá ser notada daqui a algumas décadas.
MUDANÇAS NO LOGO DA GLOBO
Buscando uma visão mais moderna, a Globo quis mudar sua logo. A primeira que vazou na imprensa foi super criticada.
Por isso a mudaram e lançaram logotipos com o mesmo desenho da logo atual, mas com um formato clean, como estes:
Entretanto, as antigas logos metalizadas são as melhores. Tem um acabamento melhor:
Se for para mudarem, que seja para o segundo exemplo, pois são mais simplificadas, tem menos detalhes tridimensionais e podem ser exibidas sem prejuízo em desenho, impressão, na televisão e nos uniformes dos funcionários. Sendo, assim, uma uniformização.
PROCESSO DE SBTIZAÇÃO – CAPÍTULO 1 (MUDANÇAS DE HORÁRIO REPENTINAS)
A Globo está começando a realizar muitas mudanças repentinas de horário com o objetivo de ganhar audiência, ou não perder audiência, em horários em que as concorrentes chegam perto dela.
Existem várias mudanças que podem ser exemplificadas. Tem a mudança de horário do Altas Horas, que foi invertido com o Super Cine. Nesse caso, foi um prejuízo para a Globo e para o programa. O Altas Horas passou a ter o seu conteúdo popularizado para tentar manter a audiência que recebe do Zorra Total e ainda sofre um pouco com a concorrência do Legendários, da Rede Record. Além disso, os filmes que passavam no horário davam mais audiência do que o programa.
Outro exemplo é a mudança de horário do Esquenta, que passou a entrar antes do futebol. Mas o legal era assistir o programa durante o almoço. E colocaram ao meio dia o Temperatura Máxima, com um monte de filmes infantis. Se eles são para crianças, que mudem o nome da sessão para TV GLOBINHO ESPECIAL DE DOMINGO. Com esses filmes na Temperatura Máxima, o único patrocinador fixo é uma marca de laxantes. O que dá a certeza de que o programa é uma m….
Mais um exemplo é a mudança de horário do Vale a Pena Ver de Novo, que passou a ser exibido antes da Malhação para aumentar os índices da mesma, já que “série jovial” não tem mais competência para elevar o horário nobre da Globo. E isso prejudicou o Vídeo Show, que passou a não ser mais a “sala’’ (preparação para o ibope que receberia antes do Vale a Pena) e agora o programa está toda semana perdendo para o Balanço Geral SP, da Rede Record.
Outra mudança de horário foi quando, após diversas derrotas para o Programa Silvio Santos, a Globo mudou o horário do The Ultimate Fighter e colocou antes um enlatado chamado Revenge (que lembra Avenida Brasil).
Todas essas consideráveis mudanças foram anunciadas do nada, sem nem ao menos um mês de antecedência. E são estratégias de programação do SBT.
PROCESSO DE SBTIZAÇÃO – CAPÍTULO 2 (CRIAR UMA IMAGEM INFORMAL DA EMISSORA)
A Globo é uma emissora que popularmente é conhecida por sua sisudez, seriedade e formalidade. Mas esta nova direção tenta uma imagem mais informal, que lembra muito a imagem que o SBT quer passar.
Para comparar, usarei as últimas fotos postadas pelo Facebook da Globo e do SBT:
Essa da flauta foi excelente. O estagiário que criou essa piada com tamanho trocadilho deve virar redator do Zorra Total.
Agora mostrarei as do SBT:
Poderia dizer que os estagiários que fazem essas fotos de redes sociais para os canais são os mesmos, pois seguem o mesmo estilo: informalidade e descontração.
PROCESSO DE RECORDIZAÇÃO NESSE CASO – CAPÍTULO 3 (SENSACIONALISMO)
A Globo está recorrendo muitas vezes ao sensacionalismo para conseguir uns pontinhos a mais com o jornalismo, como a Record costuma fazer.
Antes teremos que responder: o que é sensacionalismo? Sensacionalismo pode ser o exagero ou a intensificação da notícia com o objetivo de chocar, com o intuito de ganhar mais repercussão. Posso citar vários exemplos da Rede Globo.
Uma vez, a Ana Maria Braga estava cobrindo o caso Misael Bispo e aí mostrou o lago que estava a Mércia boiando, no Rio, sem tarja ou nada para suavizar a situação. Isso é sensacionalismo.
Mostrando isso, eu também estou sendo sensacionalista.
Outro exemplo: uma vez o Fantástico entrevistou a viúva do Champignom na semana em que ele se matou e o repórter, após a entrevista, não teve cuidado de falar com ela e disse: “boa sorte”. A mulher caiu no choro. “BOA SORTE”. Ela trocaria toda essa sorte para ter o Champignom de volta.
Se eu fosse o diretor, acabaria com esse processo pelo qual a Globo está passando.
Assim termina o “Se eu fosse diretor” dessa semana. Na próxima, eu falo sobre o Bom Dia e Companhia.
Minhas redes sociais:
@matheus_valadao (Twitter)
@laurofontana (Twitter de um personagem que criei e que posso utilizar posteriormente aqui)
www.comediacentral.blogspot.com (Blog de humor independente criado por mim. Não posto muito lá, mas, misteriosamente, sempre tenho bons acessos nesse site)
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