Coluna: César Tralli – O jornalismo popular com o Q de Qualidade

A partir de hoje, todos os domingos, passo a ter um compromisso com você, leitor do Bastidores da TV, um dos maiores e mais acessados sites sobre o mundo da TV aberta no Brasil.
Nosso encontro será uma pausa pelos acontecimentos da TV para prestigiar o melhor que ela nos proporciona, advindo assim o nome de nossa coluna; Halftime Show. Hoje, o Super Bowl, a famosa final da Liga de Futebol Americano, é o evento mais assistido dos Estados Unidos, e um dos mais vistos no planeta. Diferente do que ocorre com o futebol no Brasil, a final cresce a cada ano, fazendo do Super Bowl, além do palco da disputa entre o campeão do norte e o campeão do sul, um evento multimilionário e serve de vitrine para diversos meios. Montadoras divulgam seus mais novos veículos, marcas alimentícias procuram fidelizar sua credibilidade junto ao público, produtoras divulgam as superproduções que tendem a ser campeões de bilheteria no cinema, o que faz que cada 30 segundos custe uma boa quantia para quem quer veicular sua marca no intervalo do Super Bowl.
Mas o principal é o que ocorre no meio da partida de 4 tempos, o famoso Halftime Show. Os mais consagrados artistas se apresentam durante 30 minutos para os presentes no estádio e para milhões de telespectadores em todo o território estadunidense. A popularidade deste grande evento, dentro de outro de porte superior, se iniciou em 1993. Naquele ano, a NFL buscava um nome que pudesse trazer ainda mais visibilidade e que não deixasse os índices caírem durante o intervalo. Ninguém melhor que o artista mais rentável, polêmico e no auge de seu reinado no cenário musical, Michael Jackson. O Rei do Pop não só começou a era de artistas de grande apelo ao público no intervalo do Super Bowl, mas como foi o primeiro comercial onde os índices cresceram e registraram pico de audiência maior que a própria partida. Até hoje, a apresentação de Michael Jackson é considerada uma das melhores do evento até hoje.
Nos EUA, o Super Bowl, a cada ano, é apresentado por uma emissora diferente, o que faz as grandes redes, CBS, NBC e FOX, ABC não exibe a partida há alguns anos, terem sua visibilidade, sem ser um evento concentrado nas mãos de uma única TV. Essa é a nossa principal filosofia com a chegada desta coluna. Um momento, uma pausa, um minuto de sua atenção, tudo bem, alguns minutos, que tragam aquilo de melhor que as nossas redes no Brasil apresentam.
Bom, agora já dá para dizer que você conhece um pouco da final do futebol americano para seus amigos, fique calmo, terminamos aqui o propósito de nossa entrada. Se chegou até aqui, por que não continuar? Você é um guerreiro, vamos em frente.

A nossa primeira conversa será sobre um dos principais pilares da TV mundial hoje; o Jornalismo. Analisamos que ultimamente as maiores redes do país, Record, SBT, Band e Globo tiveram um aumento significativo em produtos jornalísticos, em especial a última, onde sua mais nova investida foi o “Hora Um da Notícia” às 5h. Monalisa Perrone conversa com seu público, a maior parte trabalhadores que levantam nas primeiras horas da madrugada para funcionar a máquina econômica de nosso país, de uma forma leve e descontraída.
Este jeito simples, opinativo e popular foi imposto por Cesar Tralli, há 5 anos, no comando do “SPTV”, exibido pela Globo ao meio-dia para a Grande São Paulo e várias outras cidades do estado que não possuem programação própria.
Tralli começou a trabalhar cedo, vindo de origem humilde, a então criança, exatamente, com apenas 12 anos, já despontava com sua inteligência atrelada a necessidade de ajudar toda a família. Aplicado, o garoto começou a dar aulas particulares de Inglês, História e Português, esforço o qual lhe garantiu uma bolsa de estudos em Londres, no Reino Unido, por sinal onde ele seria correspondente internacional da Globo anos depois. Seu comportamento simples, dedicado e almejando o melhor lhe garantiram as primeiras oportunidades quando voltou ao país. Da Rádio Jovem Pan para a TV foram dois pulos. Notavelmente, o trabalho que tornou Cesar conhecido em todo o Brasil foi pelo policialesco “Aqui Agora”, no SBT, que era sucesso de audiência nas tardes da emissora, apesar de não atrair grande parcela dos anunciantes. Com suas reportagens populares, Tralli era um dos repórteres mais reconhecidos do auge do produto do SBT, nos anos 90, como muitos que presenciaram aquela época podem garantir.
Natural de qualquer profissional que começa a despontar, o jornalista foi contratado pela Globo em 1993. Foram quase 20 anos cobrindo diversos eventos que tiveram forte impacto na história da humanidade, como os atentados as torres gêmeas do World Trade Center em 2001 – sendo um dos poucos jornalistas que pegou o primeiro voo liberado do Brasil para Nova York, nos EUA, e do país, o que lhe garantiu prêmios como o Grande Prêmio Rede Globo de Televisão em 3 ocasiões; Máfia dos Motoristas, Acidente do Avião da TAM e A Prisão de Law King Chon. Em 2002 também ganhou o prêmio Comunique-se pela prisão do contrabandista Law, além do famoso Prêmio Embratel, na categoria televisão, pelos escândalos de corrupção envolvendo Paulo Maluf. Ainda como repórter investigativo, Tralli teve forte papel em diversos escândalos. Em 2007, obteve com exclusividade relatórios que mostravam a precariedade e o risco nas obras do Metrô de São Paulo. No famoso Caso Eloá, em 2008, César reconstituiu o resgate de Eloá e Nayara, através de reportagens especiais no “Jornal Nacional”, que identificaram outra conclusão, diferente daquela que estava sendo repassada. Todo o esforço foi recompensando com uma indicação ao Emmy de 2009. Foram inúmeras reportagens especiais e casos em que suas reportagens viraram ações na Justiça, um currículo de ser admirado por qualquer colega de profissão. Seus fortes contatos e sua insistência nas investigações garantiram a Tralli verdadeiros marcos na TV brasileira.

Sua chegada no “SPTV – 1ª Edição” foi ainda na bancada e com a presença de Mariana Godoy, uma das mais belas jornalistas no país, diga-se de passagem, hoje contratada da RedeTV!, ainda na conhecida e tradicional formalidade. Após novas formações, César voltava ao “SPTV” em 2011, mas dessa vez sozinho e sem bancada.
Ousado, Cesar Tralli, por contra própria, passou a dar sua essência ao telejornal. Aos poucos, as brincadeiras, os comentários, observações e conversa com o telespectador passaram a ser mais frequentes. Ousado pelo fato de ser um telejornal dentro da própria Rede Globo, onde todo o Jornalismo já possuía uma linha a ser seguida, diferente das propostas da Record, Band e SBT.

A estratégia funcionou, a popularidade de Tralli em São Paulo crescia a cada dia e a audiência não era diferente. Em sua chegada, o apresentador viu a forte disputado com o seriado mexicano, e coringa, do SBT, “Chaves”. Naquele ano, os desenhos do “Bom Dia & Cia.” e o menino do barril chegavam a 14 pontos de média, além dos seriados que eram exibidos em seguida. Parece pouco, se pararmos para pensar que é a Globo, mas no cenário em que se apresentava, César Tralli conseguiu erguer o horário em 4 pontos, o que foi comemorado pela direção e observado com atenção.
César Tralli era o mais novo diferencial dentro da Globo, afinal, era o jornalismo popular, mas sem perder o famoso “Q de Qualidade” imposto pela alta cúpula. Foi nesta linha que Tiago Leifert chegou no comando do “Globo Esporte SP” também ganhando grande parcela e carisma por parte do público. O efeito cascata começado por Tralli também chegou ao “Jornal Hoje”, onde Evaristo Costa e Sandra Annemberg são diversas vezes considerados um dos melhores casais de bancadas no jornalismo brasileiro.
A fórmula sempre foi clara e de sucesso, mas não dentro da emissora dos Marinhos. O caminho seguido por Tralli não foi fácil, você arriscar colocar toda sua humanidade dentro de um telejornal que se posicionava iguais aos outros dentro da casa, foi o tudo ou nada do jornalista. Tanto que, hoje, um dos pilares do “SPTV” é a prestação de serviço, que foi ampliada. Neste quesito, Márcio Canuto, mordido no ombro durante a cobertura da Copa, você vai lembrar, joga no peito, chuta e marca o gol. A popularidade no telejornal se vê ainda mais quando Tralli e Canuto conversam ao vivo. A descontração é tamanha que, às vezes, você pensa que não está acompanhando a Globo. O encontro da dupla do meio-dia é também onde o “SPTV” consegue seus altos picos, não esquecendo do famoso bordão; “Cesarrr Trrrrrrrralli“. O Batman e o Robin da hora do almoço. Hoje, o telejornal varia entre 10 e 12 pontos de média, ficando muitas vezes entre os destaques do dia e uma das maiores audiências do canal carioca no período vespertino. Ano passado, sua maior média foi de 15 pontos, durante edição especial da Copa do Mundo.

A diferença também está no relacionamento de Tralli com seu público através da rede social Twitter. O mesmo é um dos poucos jornalistas, da Globo, que procura manter contato constante com seus fãs e telespectadores. Esse agradecimento junto ao público faz a diferença sim, afinal, você tirar nem que seja 5 minutos do seu dia para se comunicar com as pessoas que sempre estão lhe prestigiando não fará nenhum mal. E o público que acompanha seus artistas preferidos sabem dessa diferença, o que faz crescer ainda mais sua popularidade, o que vem sendo feito por Tralli.
Um jornalismo de grande porte, da 2ª maior emissora do planeta, simplicidade, descontração, conversa com o público, alegria, amor, o prazer em servir o paulistano e paz, são estes os ingredientes que fazem daquele pequeno garotinho, com visão para o futuro, hoje um dos grandes nomes do Jornalismo no Brasil e a melhor opção do horário. É o profissional que você gostaria que ocupasse aquele cargo pelo resto da vida, tamanha a familiaridade que se constrói com os anos. Um carisma natural, sem forçar, uma alegria verdadeira, sem se vangloriar, dedicação, sem perder a humildade, um profissionalismo com o Q de Qualidade, mas sem perder suas origens, este é Cesar Tralli.
Sua jogada de mestre não apenas beneficiou a si próprio, mas toda a Globo. Você acompanhar Bonner, esporadicamente que seja, fazendo comentários, era algo impensável entre os anos 70 e meados de 2010 no “Jornal Nacional”. Cesar Tralli não começou o jornalismo popular, mas o implantou dentro da Globo e que foi expandido por todas as emissoras, próprias e afiliadas, como podemos ver também no “RJTV” do meio-dia de Mariana Gross.
Cesar Tralli merece, sem dúvidas, o cenário nacional. Seu sucesso apenas para São Paulo não é válido para o tamanho do profissional que o mesmo é. Um programa jornalístico pautado com a população? Talvez. O “Show da Vida” com suas brilhantes reportagens investigativas? Merecedor. Mas não vemos na grade da emissora, hoje, um produto que chegue tão próximo a massa popular, e ao mesmo tempo agrade o público das classes mais elevadas. “SPTV” tem a cara de Cesar Tralli e Cesar Tralli tem a cara do “SPTV”. Uma dosagem de equilíbrio perfeito.
A humildade e simplicidade deveriam ser virtudes de todo ser humano, assim teríamos um mundo melhor para se viver.
Se foi uma eternidade para que eu escrevesse, imagina para você que leu. Mas se assim fez, obrigado pelo seu carinho e sua atenção. Humilde opinião de quem ama, assiste e aprende com a TV desde 2001.
Vejo você no próximo domingo, se assim Deus permitir. Sugestões, críticas, xingamentos, mas que sejam fracos, e elogios? Siga-me no Twitter. Moça bonita ganha beijo na TL.